México prende ex-procurador-geral por desaparecimento dos 43 estudantes

Murillo Karam é o mais alto ex-funcionário público detido no âmbito do caso Ayotzinapa

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

CIDADE DO MÉXICO - Autoridades do México detiveram nesta sexta-feira, 19, o responsável pelas questionadas investigações sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014. A prisão ocorre um dia depois de um relatório oficial do governo revelar a participação de servidores públicos e militares neste que considerou “crime de Estado”.

PUBLICIDADE

O ex-procurador-geral Jesús Murillo Karam foi preso em sua residência em um bairro de alto padrão da Cidade do México pelo “desaparecimento à força, tortura e crimes contra a administração da justiça”, no âmbito do chamado caso Ayotzinapa, informou o Ministério Público em comunicado. Murillo Karam é o mais alto ex-funcionário público detido pelo desaparecimento dos estudantes.

Procurador durante o governo do presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), Murillo Karam chegou a ser um nome de peso do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México durante 71 anos ininterruptos, até dezembro de 2000. Murillo Karam, que não resistiu à abordagem policial, permanecerá preso na capital, informou a presidência. O PRI afirmou que a prisão “responde mais a um assunto político do que de justiça”.

Imagem de arquivo do então procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, durante uma entrevista coletiva na Cidade do México, em 27 de janeiro de 2015  Foto: Sáshenka Gutiérrez/EFE - 27/01/2015

A captura ocorreu horas depois que o presidente Andrés Manuel López Obrador pediu para que fossem divulgados os nomes dos responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes, após a publicação, na quinta-feira, do relatório de uma comissão governamental que investiga o caso desde 2019 e o considera um “crime de Estado”.

O documento afirma que militares e funcionários públicos, por suas “ações, omissões ou participação”, permitiram o sequestro e a morte de 43 estudantes da escola normal de Ayotzinapa e mais 6 pessoas por parte do cartel de narcotráfico Guerreros Unidos.

“Revelar essa situação atroz, desumana, e ao mesmo tempo castigar os responsáveis, ajuda a não repeti-la. Que nunca mais ocorram esses eventos lamentáveis em nosso país”, acrescentou López Obrador na cidade de Tijuana.

Não há informações sobre a patente dos militares nem se seguem ativos.

Publicidade

Os parentes das vítimas submeteram o documento a uma avaliação do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), criado por um acordo entre o governo de Peña Nieto e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), anunciou Vidulfo Rosales, advogado dos pais.

Forças Armadas

O desaparecimento dos jovens aconteceu entre a noite de 26 e a madrugada de 27 de setembro de 2014, quando eles se dirigiam até a cidade de Iguala, Estado de Guerrero, para pegar os ônibus nos quais viajariam para a Cidade do México para participar de protestos.

Esse episódio constitui uma das piores violações de direitos humanos do México e gerou uma forte condenação internacional.

Na presença dos secretários de Defesa, Luis Cresencio Sandoval, e da Marinha, José Rafael Ojeda, o presidente afirmou que a participação de “maus servidores públicos” nos fatos de Ayotzinapa não supõe “o mau funcionamento de uma instituição”.

Para López Obrador, as revelações fortalecem o Exército. “O que debilita uma instituição é que não se atue com apego à verdade e que haja corrupção, impunidade”, declarou. Em seu governo, iniciado em 2018, as Forças Armadas têm desempenhado um papel de protagonismo.

Investigação continua

O relatório menciona “responsabilidades claras de elementos” das secretarias de Defesa e da Marinha que serviam na região, mas alerta que é preciso investigar até que ponto chegou essa participação.

“De nossa parte, o que está garantido é não esconder nada, oferecer todas as informações e dar todas as facilidades para que se chegue ao fundo, como foi feito”, prometeu López Obrador, depois que a comissão independente acusou as autoridades em março de se recusar a entregar os dados de inteligência necessários para as investigações.

Publicidade

O GIEI sustenta que os militares manipularam provas em um depósito de lixo onde foram encontrados restos humanos, incluindo os dos únicos três estudantes identificados até agora.

Os achados do grupo e a comissão governamental jogam por terra grande parte da chamada “verdade histórica” apresentada pelo governo de Peña Nieto, que não atribuiu responsabilidade aos militares.

Manifestantes com faixa exigindo explicação para o desaparecimento dos 43 estudantes da escola de formação de professores rurais de Ayotzinapa, Estado de Guerrero, México Foto: Yuri Cortez/AFP - 21/09/2015

De acordo com essa versão, os jovens foram detidos e entregues por policiais locais aos traficantes da Guerreros Unidos ao serem confundidos com membros de um cartel inimigo.

Após serem baleados, seus restos foram incinerados e jogados no lixão de Cocula, segundo a mesma tese, que é rechaçada pelos parentes, o governo de López Obrador e o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

O presidente anunciou que continuará insistindo para que Israel extradite Tomás Zerón, ex-chefe da Agência de Investigação Criminal, que trabalhou sob as ordens de Murillo Karam./AFP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.