PUBLICIDADE

Silvio Berlusconi, ex-premiê italiano populista e controvertido, morre aos 86 anos

Magnata da mídia e ex-dono do Milan tinha leucemia e estava internado em Milão; Berlusconi dominou a política de seu país durante 2 décadas, apesar dos escândalos sexuais e processos

Foto do author Redação
Por Redação

Silvio Berlusconi, o impetuoso magnata da mídia que revolucionou a televisão usando canais privados para se tornar o primeiro-ministro mais polarizador e processado do país em três passagens no cargo, e manter um quarto de século de influência política e cultural, morreu nesta segunda-feira, 12, aos 86 anos, no Hospital San Raffaele, em Milão.

PUBLICIDADE

Sua morte foi confirmada em um comunicado da primeira-ministra Giorgia Meloni. Nenhuma causa de morte foi fornecida, mas ele foi hospitalizado na semana passada como parte de seu tratamento contínuo para leucemia crônica e outras doenças.

Para os italianos, Berlusconi foi por muito tempo um entretenimento constante - tanto cômico quanto trágico - até que o tiraram para fora do palco. Mas ele continuou voltando. Para os economistas, ele foi o homem que ajudou a afundar a economia italiana. Para os cientistas políticos, ele representou uma nova e ousada experiência no impacto da televisão sobre os eleitores. E para os repórteres dos tablóides, ele era uma fonte deliciosa de escândalos, gafes, insultos obscenos e escapadelas sexuais.

O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que morreu nesta segunda-feira, 12.  Foto: Filippo Monteforte/AFP

Um talentoso orador e showman que cantou em navios de cruzeiro quando jovem, Berlusconi foi eleito primeiro-ministro em 1994, após os escândalos de “subornos” e da Operação Mãos Limpas, que desmantelaram a estrutura de poder da Itália no pós-guerra.

O magnata, que liderou três governos italianos entre 1994 e 2011 e cujo partido Forza Italia é um parceiro minoritário na atual coalizão governista, sofria de leucemia há algum tempo. Ele estava internado há dois dias para realizar exames de rotina, mas seu estado de saúde piorou.

Berlusconi havia sido internado na última sexta-feira, 9, para passar por uma série de exames de rotina relacionados com a leucemia. Nos últimos anos, ele também sofreu de doenças cardíacas e câncer de próstata, além de ter sido internado por covid-19, em 2020.

Segundo os meios de comunicação italianos, a morte ocorreu nesta manhã, pouco depois de os seus cinco filhos e o irmão, Paolo, terem chegado ao hospital.

Publicidade

Berlusconi foi um dos políticos mais populares, longevos e polêmicos da Itália. Ele é o precursor do político populista que chega ao poder com um discurso antissistema. Berlusconi ficou ao todo nove anos e um mês no cargo de primeiro-ministro, sendo o político que mais tempo comandou a Itália após a queda do regime fascista depois da 2ª Guerra Mundial (1939-45). “Sou o número um”, dizia ele.

Seu partido, o Forza Italia, considerado de centro-direita, foi fundado para ser uma alternativa aos partidos tradicionais em 1994, mesmo ano em que Berlusconi foi eleito primeiro-ministro pela primeira vez.

De acordo com o jornalista italiano Beppe Severgnini, que fez um livro sobre o impacto de Berlusconi na Itália que foi publicado em 2010 (La Pancia degli Italiani – Berlusconi Spiegato ai Posteri), o político era machão quando se encontrava com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, gentil quando estava com a ex-primeira-ministra da Alemanha Angela Merkel, conservador com o ex-presidente americano George W. Bush, liberal com o ex-mandatário dos EUA Barack Obama, europeu em Bruxelas, eurocético em Londres, jovem entre os jovens, sábio entre os idosos.

Após uma série de escândalos sexuais, inúmeras alegações de corrupção e uma condenação por fraude fiscal, a partir de 2011, sua popularidade entrou em declínio e seu partido não conseguiu voltar ao poder. Mesmo assim, Berlusconi fez um retorno político em 2017, ao conseguir se eleger para o Parlamento. O eco de seu domínio da política italiana perdurava: ele foi peça central para que seu partido apoiasse a direitista Giorgia Meloni e formasse uma coalizão para ela se tornar premiê, em 2022.

O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi discursa em Roma em abril de 2006  Foto: Gregorio Borgia/ AP

PUBLICIDADE

Berlusconi teve inúmeros problemas de saúde nos últimos anos. Em 2016, passou por uma cirurgia cardíaca e já teve câncer de próstata. Em abril de 2021, também ficou internado por mais de três semanas, devido a sequelas da covid-19, contraída em setembro de 2020. Em janeiro de 2022, o ex-premiê foi internado no San Raffaele para tratar uma infecção urinária.

Ele passou seis semanas no hospital San Raffaele de Milão, em tratamento para uma infecção pulmonar ligada a uma leucemia mielomonocítica crônica. Na última sexta-feira, 9, ele foi hospitalizado para a realização de “exames agendados em relação à sua conhecida patologia hematológica”, segundo comunicado assinado por Alberto Zangrillo, chefe dos cuidados intensivos e médico pessoal do “Cavaliere”, e Fabio Ciceri, líder da Hematologia.

O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em uma visita de Berlusconi a Moscou  Foto: Alexei Druzhinin / AP

Passado de escândalos

Desde 1994 na política, Berlusconi foi primeiro-ministro por nove anos e dominou a política de seu país durante duas décadas, apesar dos escândalos sexuais e processos judiciais que mancharam sua imagem. Para milhões de italianos, seu governo representa uma idade de ouro da economia italiana.

Publicidade

A sociedade financeira da família Berlusconi, a Fininvest, inclui canais de televisão, como a Mediaset, jornais e edições da Mondadori. Apaixonado por futebol, ele também presidiu o Milan por 31 anos antes de vender o clube em 2017 para investidores chineses.

O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi, que morreu nesta segunda-feira, 12, era um apaixonado por futebol e foi dono e presidente do Milan por 31 anos  Foto: Alberto Pellaschiar/ AP

Sua primeira condenação ocorreu em agosto de 2013. A sentença de prisão de quatro anos por fraude fiscal — três dos quais foram abolidos por uma anistia — foi confirmada pelo Tribunal de Cassação. Ele cumpriu a sentença no ano seguinte na forma de serviço comunitário, o que lhe custou seu título de Cavaliere.

Pai de cinco filhos de dois casamentos e avô de vários netos, o magnata voltou a se casar em 2020, com Marta Fascina, 53 anos mais jovem que ele, ex-modelo e deputada do Força Itália./ NYT e Associated Press

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.