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Morte da princesa Diana em ‘The Crown’: O que dizem investigações na vida real sobre o acidente ?

Para especialista, roteiro não dá margem a teorias da conspiração, mas pode prejudicar compreensão histórica do caso

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Por Redação
Atualização:

LONDRES — A morte da princesa Diana é o principal tema da parte mais recente da última temporada de The Crown, lançada pela Netflix neste mês. Os episódios disponíveis da trama no serviço de streaming mostram os eventos que levaram à morte da princesa em Paris em agosto de 1997.

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O foco do roteiro é no perigoso acosso dos paparazzi à princesa. A história também sugere que as circunstâncias daquela noite na capital francesa foram, em parte, provocadas pelo namorado de Diana, o playboy Dodi Al-Fayed, e seu pai Mohamed, o bilionário egípcio dono da Harrod’s.

Para Kelly Swaby, historiadora da Universidade de Manchester, o fato de a série não dar margem a teorias da conspiração, como a de que a morte da princesa teria supostamente sido planejada pela realeza, é positivo. Apesar disso, na avaliação dela, partes do roteiro contribuem para enfraquecer a verdade histórica.

Mas o quanto da trama é ficção e quanto tem base nos fatos? Autoridades britânicas e francesas investigaram a fundo a morte de Diana. Estas são as principais conclusões.

Diana em evento em Londres nos anos 90 Foto: Torsten Blackwood/AFP

O motorista alcoolizado

Henri Paul, 41 anos, era o vice-chefe de segurança do hotel Ritz em Paris, que pertencia à família Fayed, e dirigia o Mercedes S280 que bateu no 13º pilar do túnel da ponte l’Alma, em Paris. Ele morreu no local.

Em “The Crown”, Paul é brevemente mostrado no bar do Ritz. Ele é informado de que “os planos mudaram” e que “Sr. Dodi precisa que você dirija. Quando Paul se levanta para sair do bar, a câmera mostra um copo de cristal lapidado vazio e outro meio cheio.

“Um ligeiro ângulo panorâmico dos copos em um bar não mostra suficientemente que esta é uma das causas mais significativas de sua morte”, disse Swaby.

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Paul estava de folga naquela noite, quando o casal inesperadamente decidiu voltar ao Ritz para jantar. Enquanto comiam, os recibos do bar Ritz mostram que Paul pediu dois Ricards - licor de anis com 45% de teor alcoólico. Segundo os investigadores, ele poderia não ter ideia de que teria de voltar a trabalhar e poderia ter se sentido obrigado a aceitar a missão.

Testes toxicológicos revelaram que o nível de álcool no sangue de Paul era cerca de 3,5 vezes o limite legal na França. Os testes também detectaram a presença de medicamentos prescritos que podem interagir negativamente com o álcool.

No momento do acidente, Paul também dirigia em alta velocidade. Um fabricante de veículos realizou testes de colisão e concluiu que o carro viajava a aproximadamente 65 milhas por hora, mais que o dobro do limite de velocidade.

Em 1999, os juízes de instrução franceses atribuíram a responsabilidade exclusiva ao condutor, afirmando que a influência combinada do álcool e da medicação impedia-o de manter o controle do veículo.

John Stevens, antigo chefe da Polícia Metropolitana de Londres e líder da investigação sobre a morte de Diana, disse à Rádio LBC no ano passado que se a princesa tivesse proteção policial poderia ter sobrevivido, já que as autoridades não teriam deixado o casal entrar no carro e, se o tivessem feito, teriam exigido cinto de segurança.

Elizabeth Debicki é Princesa Diana e Dominic West é Charles em 'The Crown' Foto: Netflix/Divulgação; Justin Downing/Netflix

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A responsabilidade dos paparazzi

O papel parasítico dos paparazzi são um tema central da sexta temporada de The Crown, que mostra vários encontros entre os fotógrafos e Diana e os fotógrafos em motos perseguindo o carro da princesa até o túnel do acidente.

Na vida real, o príncipe Harry defende a teoria de que os paparazzi são responsáveis pela morte de sua mãe. Em seu livro de memórias O que sobra, o príncipe diz que pediu a um motorista que passasse pelo mesmo túnel a 105 km/h (a velocidade que o carro de Diana estava no acidente) e concluiu que não havia nada perigoso no trajeto, mesmo que o motorista tivesse bebido.

“Isso só poderia acontecer com os paparazzi perseguindo e fechando o motorista”, argumenta Harry. “Por que eles não foram culpados de maneira mais assertiva? Por que não estão presos?”

Após o acidente, nove fotógrafos e um motociclista de uma agência fotográfica foram detidos para interrogatório como testemunhas e suspeitos. Posteriormente, as autoridades francesas iniciaram uma investigação para saber se os paparazzi contribuíram para o acidente – e depois não ajudaram as vítimas. Mas em 1999, um procurador francês e dois juízes de instrução determinaram que não havia provas que apoiassem as acusações criminais.

Embora excluam uma violação da lei penal, os juízes observaram que o acidente ocorreu no contexto do comportamento dos paparazzi que levantou questões morais e éticas.

Um inquérito médico legista separado na Grã-Bretanha concluiu em 2008 que Diana e Fayed foram mortos como resultado de ações tanto do motorista quanto dos paparazzi. Mas os tribunais britânicos não tinham jurisdição sobre os acontecimentos na França.

O papel de Dodi e seu pai

Por que Diana estava em Paris? Por que ela saiu naquela noite? Por que os paparazzi estavam tão perseguidos? The Crown sugere que Dodi Fayed e o seu pai, Mohamed al-Fayed, foram os grandes responsáveis por essa constelação de acontecimentos.

A série retrata Dodi Fayed convencendo Diana para levá-la a Paris como parte de seus esforços de namoro, quando ela realmente queria voltar para casa. Mostra-o repetidamente incentivando-a a sair em público, quando ela estava mais inclinada a ficar em casa e evitar intrusões.

Também aponta Mohamed al-Fayed, o pai do playboy, como a pessoa que orquestrou as fotos do casal em um iate – fotos que foram publicadas por enormes somas de dinheiro e posteriormente alimentaram a fome dos paparazzi por imagens do casal.

A série sugere que tudo faz parte do esforço de Mohamed al-Fayed para ser aceito na sociedade britânica e conseguir que o governo britânico lhe conceda um passaporte.

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Na vida real, Dodi Fayed comprou um anel de diamante enquanto estava em Paris, de uma coleção chamada “Dis-moi oui” (“diga-me sim”). Esse anel foi encontrado em seu apartamento. Mas nas páginas e páginas de depoimentos compilados pelos investigadores da polícia britânica, não há nada que sustente que ele tenha atraído Diana para a capital francesa sob falsos pretextos, e não se sabe se ele a pediu em casamento.

Quanto às fotografias do iate, o fotógrafo italiano que as tirou, Mario Brenna, disse numa entrevista recente ao New York Times que a sugestão de que ele foi avisado ou contratado por Mohamed al-Fayed era “absurda e completamente inventada”. Brenna afirmou que encontrou o casal no iate como resultado de “um grande golpe de sorte”. / W.POST

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