Num arco-íris político, lenços ganham uma cor para cada protesto na Argentina
Os lenços ressurgiram como forma de expressão 40 anos depois de aparecerem pela primeira vez em uma luta política, com as Mães da Praça de Maio
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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:
A moda começou em maio, antes de o projeto que permitiria o aborto na Argentina fosse votado no Congresso: milhares de mulheres passaram a pendurar em suas bolsas um lenço verde com dizeres a favor da legalização do aborto.
O projeto foi derrotado no Senado em agosto, mas a moda sobreviveu. Ainda hoje, os lenços verdes estão à venda em várias bancas de jornais de Buenos Aires. Ao lado deles, há uma multiplicação de cores.
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Movimentos contra a permissão do aborto lançaram o lenço azul celeste e, depois, surgiram o laranja (pelo Estado laico), o vermelho (pela lei de adoção), o rosa (contra o maltrato de animais pequenos), o preto (contra maltrato de animais de grande porte), o azul (em defesa da escola pública), o azul escuro (pela escola técnica), o branco (pela saúde pública) – enfim, qualquer causa imaginável tem hoje um lenço colorido.
Os lenços ressurgiram como forma de expressão 40 anos depois de aparecerem pela primeira vez em uma luta política. Eles eram usados nos anos 70 pelas Mães da Praça de Maio, que tentavam descobrir o paradeiro de seus filhos desaparecidos durante a ditadura (1976-1983).
“Hoje, apesar da proliferação de lenços de cores diferentes, o verde é o único com relevância política”, diz o sociólogo Carlos de Angelis, da Universidad de Buenos Aires. “Há um exagero argentino de levar os lenços a todas as dimensões possíveis. Mas, com exceção do verde, os demais não conseguiram formar um discurso político. O verde se transformou em símbolo da luta contra o patriarcado e ganhou relevância na denúncia de assédio sexual.”
O pequeno pedaço de pano é hoje o artigo mais vendido na banca de jornais em que trabalha María José Davila, no centro de Buenos Aires. “Depois deles, o que mais sai é a camisa do River Plate. Hoje, vieram duas espanholas comprar o lenço verde e ontem uma argentina disse que tinha de enviar para amigas nos EUA.” Maria José conta que os lenços laranja e rosa também são procurados. Por dia, ela vende cerca de 40 lenços coloridos.
Argentinos reagem ao veto do Senado para a legalização do aborto
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Protestos na Argentina
O Senado argentino reprovou por 38 votos a 31 o projeto de lei que previa a legalização do aborto e a permissão para interrupção da gravidez até a 14.... Foto: Eitan Abramovich / AFPMais
Protestos na Argentina
A votação, cuja discussão durou mais de 15 horas, contou com duas abstenções Foto: Natacha Pisarenko / AP
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Mais cedo, parlamentares opositores à medida anunciaram que já tinham os 37 votos suficientes para vetá-la Foto: Natacha Pisarenko / AP
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A proposta havia sido aprovada em junho na Câmara dos Deputados depois de meses de discussões que dividiram o país Foto: Natacha Pisarenko / AP
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Após o veto do Senado, os partidários da legalização do aborto terão de esperar ao menos um ano para apresentar um novo projeto de lei Foto: Natacha Pisarenko / AP
Protestos na Argentina
A decisão foi recebida com alegria pelos manifestantes que se opunham à medida Foto: Agustin Marcarian / Reuters
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“Esta votação nos permite reservar um tempo para refletir e fazer propostas superadoras e humanas para as mulheres vulneráveis. Não há vencedores ou v... Foto: Agustin Marcarian / ReutersMais
Protestos na Argentina
Já a Anistia Internacional afirmou que a decisão "representa a perda de uma oportunidade histórica para o exercício dos direitos humanos das mulheres,... Foto: Natacha Pisarenko / APMais
Protestos na Argentina
Entre os defensores da legalização do aborto, a reação oscilou entre tristeza e raiva Foto: Eitan Abramovich / AFP
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Alguns lançaram pedras e atearam fogo em lixeiras, enquanto a polícia tentava dissipar as pessoas com jatos de água e bombas de gás lacrimongêneo Foto: Marcos Brindicci / Reuters
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Sete foram presos nos incidentes, segundo a polícia Foto: Agustin Marcarian / Reuters
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Os ativistas afirmaram que, apesar do veto à proposta, não se darão por vencidos Foto: TV Grab / Presidência da Argentina / AFP
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Centenas de manifestantes contrários à lei do aborto se reuniram do lado de fora do Senado, em Buenos Aires Foto: David Fernández / EFE
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Os lenços verdes, dos defensores da lei, eram maioria Foto: David Fernández / EFE
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O setor contrário à medidaera formado, em geral, por grupos religiosos, munidos de cruzes Foto: David Fernández / EFE
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Em março,opresidente Mauricio Macrideclarou: "Há 35 anos estamos adiando um debate muito sensível que devemos ter como sociedade: o aborto" Foto: David Fernández / EFE
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Manifestações contra a legalização do aborto são marcadas pela cor azul celeste Foto: David Fernández / EFE
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Projeto de lei previaa descriminalização do aborto até a 14.ª semanade gravidez. Para que fosse aprovado, eram necessários ao menos 37 votos Foto: David Fernández / EFE
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Na América Latina, apenas dois países têm a prática do aborto descriminalizada - Cuba e Uruguai Foto: David Fernández / EFE
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Atualmente, a Argentina permite a realização do aborto apenas em casos de perigo para a saúde da mulher ou estupro Foto: David Fernández / EFE
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No panorama mundial, a descriminalização do aborto é mais presente em países do hemisfério norte Foto: David Fernández / EFE
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"Aborto legal, seguro e gratuito", pediam osfavoráveis àdescriminalização da prática na Argentina Foto: David Fernández / EFE
Fornecedor de María José, Guillermo García afirma que, no dia da votação da lei do aborto, chegou a vender 2 mil lenços – hoje, a média diária é de 300, incluindo todas as cores. “Sempre haverá algo para protestar”, diz.
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Há, porém, aqueles que torcem o nariz para quem transformou o ativismo em comércio. Anyela Arteaga, de 41 anos, carrega seu lenço verde na bolsa, mas se recusou a comprá-lo. “Colocar juntos os lenços (contra e a favor do direito de aborto) para vender é um insulto para mim. Quis conseguir o meu com alguém que estivesse comprometido e acreditasse que o lenço é uma arma amorosa de luta”, diz Anyela, que ganhou o seu de um amigo.