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Os EUA e sua lista do terror

Washington precisa rever critérios usados na inclusão de grupos em sua relação de organizações terroristas

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Por JOSHUA KEATING e FOREIGN POLICY
Atualização:

A decisão do Departamento de Estado de tirar os iranianos do Mujahedin e-Khalq de sua lista de organizações terroristas parece cínica depois que o grupo fez uma campanha publicitária e lobby no Congresso durante anos, tendo pagado a figurões políticos, entre os quais Rudy Giuliani, Howard Dean, Tom Ridge e Ed Rendell, dezenas de milhares de dólares para endossarem sua causa. A ideia de que um grupo ao qual se atribui a morte de seis americanos, nos anos 70, além de dezenas de atentados terroristas contra alvos iranianos, é risível. Mas é verdade que o grupo, apesar de seu comportamento assustador, não realiza um ataque terrorista há anos. Nos termos da Lei Patriota, para um grupo ser incluído na lista é preciso que a "organização ameace a segurança dos cidadãos dos EUA ou a segurança nacional dos EUA". Um olhar para maior parte da lista, porém, mostra um bom número de grupos que não preenchem essas condições: a Organização Abu Nidal, um racha da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), foi uma importante organização terrorista nos anos 80 e 90, mas mal se ouviu falar dela após a morte de Abu Nidal, em 2002. O Aum Shinriyko, culto japonês que realizou o ataque com gás sarin no metrô de Tóquio, em 1995, não realizou nenhum novo ataque depois disso. A ETA, grupo nacionalista basco, estaria reduzido a 100 membros, depois de centenas serem presos pelas polícias francesa e espanhola, e não realizou nenhum grande ataque desde 2009.O Exército Republicano Irlandês (IRA) pode ter menos de 50 membros e, hoje em dia, gasta mais tempo na luta interna que planejando ataques. O Gama'a al-Islamiyya já foi o maior grupo terrorista do Egito e seu ex-líder espiritual, Omar Abdul Rahman, está preso nos EUA por sua participação no ataque ao World Trade Center, em 1993. O grupo renunciou à violência no início dos anos 2000 e agora tem seu próprio partido político com assentos no Parlamento egípcio.Os Tigres de Libertação do Tamil foram dizimados pela ofensiva do Exército de Sri Lanka, em 2009, e não foram capazes de montar nenhuma operação importante até agora. O Grupo Islâmico Combatente Marroquino foi uma das organizações implicadas nos atentados de Madri, em 2004, mas não se ouviu falar dele desde então.A Organização Revolucionária 17 de Novembro, grupo militante grego de esquerda, que visava a alvos americanos e da Otan, nos anos 80 e 90, não realiza nenhum ataque desde 2002. As Autodefesas Unidas da Colômbia, grupo paramilitar de direita, foi desmobilizado em 2010 e os elementos remanescentes são mais uma organização para o tráfico de drogas do que uma milícia terrorista.Alguns outros grupos, como a organização judaica Kahane Chai, estiveram um pouquinho mais ativos, mas têm poucos membros e não representam uma grande ameaça à segurança nacional. Outros, como o Grupo de Combate Islâmico Líbio, foram reconstituídos ou operam sob nomes diferentes dos que constam na lista. Segundo o Departamento de Estado, antes de 2004, um grupo tinha de ser citado a cada dois anos para aparecer na lista. Agora, o ônus de ficar fora é do grupo. Credibilidade. Categorizar grupos militantes, que nem sempre têm um nome universalmente usado é difícil. Como Aaron Zelin explicou à Foreign Policy, um número surpreendente de grupos jihadistas surgiu em diferentes países, nos últimos meses, todos chamados Ansar al-Sharia. Em junho, observei que o Departamento de Estado havia decidido não listar a Boko Haram, da Nigéria, grupo que é mais ativo e ameaçador aos interesse econômicos e políticos americanos do que muitos que constam da lista, embora houvesse listado alguns líderes do Boko Haram como terroristas.Na época, a Reuters reportou que o Boko Haram não fora adicionado para "não elevar o perfil do grupo". Faz sentido, mas também sugere a necessidade de uma maior limpeza dessa relação. Seu status americano é tudo o que resta de credibilidade na lista. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK*É EDITOR DA FOREIGN POLICY

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