Revolta embaralha sucessão presidencial no Chile

Protestos afetam popularidade de Piñera e permitem ascensão de um populista e de uma jornalista sem ligação com partidos tradicionais

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Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

Dois meses de protesto com forte tom contrário aos políticos colocaram o governo do presidente Sebastián Piñera contra as cordas e embaralharam o cenário eleitoral chileno. Potenciais candidatos evitam se apresentar como porta-vozes das reivindicações para não parecerem oportunistas, mas analistas colocam alguns nomes em ascensão em meio à crise.

Dois deles, considerados fortes postulantes a substituir Piñera, vêm de lados opostos do espectro político. O Estado falou com ambos sobre os protestos e a perspectiva de chegarem à presidência.

Cerimônia no La Moneda tevea presença de cerca de 300 convidados especiais Foto: Fotografia cedida por Presidencia de Chile/EFE

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Beatriz Sánchez, de 49 anos, jornalista sem experiência em administração pública, foi a grande surpresa na última eleição, em 2017, ao obter 20,2% dos votos e quase chegar ao segundo turno. Antiga eleitora dos socialistas, decidiu formar um grupo mais à esquerda e tornou-se o nome mais consolidado entre os progressistas. No poder, seria mais radical no aumento do papel do Estado. 

Manuel José Ossandón, é um técnico agrícola de 57 anos que disputou a última eleição primária do Renovação Nacional, de direita, partido do presidente. Perdeu a indicação para Piñera e voltou a se concentrar em seu mandato de senador. Dono de um discurso considerado populista por seus inimigos, “Cote” Ossandón baixou o próprio salário quando o Parlamento passou a discutir a questão. É o nome conservador com maior potencial eleitoral.

Os atos que abalaram o governo começaram em outubro, contra um aumento de R$ 0,16 no preço do metrô de Santiago. Logo, os manifestantes passaram a exigir mudanças em aposentadoria, educação, saúde e na concessão dos serviços públicos em geral. Acuado, Piñera colocou o Exército na rua, disse estar em guerra e decretou estado de emergência por 8 dias. 

A repressão encorpou o movimento e obrigou o governo a uma série de recuos. A popularidade de Piñera bateu em 12%, o que o levou a sua maior concessão, que tende a facilitar as demais: abrir as portas a uma nova Constituição, medida elogiada tanto por Beatriz quanto por Ossandón. Com este passo, após décadas de pressão contra a Carta de 1980 - escrita sob governo de Augusto Pinochet -, Piñera retoma fôlego para terminar seu mandato, que vai até 2021. O país não tem reeleição.

Desde a redemocratização, em 1990, centro-direita e centro-esquerda se alternam no poder e mantêm uma linha econômica estável. Como os protestos carregam uma forte revolta contra o Estado e o sistema político, especialistas veem como possíveis beneficiários da crise um populista, alcunha com a qual Ossandón diz não se importar, ou de um nome desassociado dos partidos tradicionais, caso de Beatriz.

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