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Soluções para o Oriente Médio: É preciso construir uma cultura de paz para resolver o conflito

Essa base comum deve ter como premissa a afirmação mútua de que ambos os povos têm um passado e um futuro nesta terra e que nenhum deles deve estar sujeito à violência ou à opressão do outro

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Por Sulaiman Khatib e Avner Wishnitzer*

O The New York Times procurou pensadores, líderes políticos e especialistas para obter suas visões sobre o que poderia ser feito pelo futuro do Oriente Médio

Do dia 25, até a quarta-feira, 27, o Estadão republica 10 artigos que refletem sobre o futuro da relação entre palestinos e israelenses - e o que pode ser feito para chegar à paz. Serão em média três textos por dia, com publicação pela manhã, à tarde e à noite.

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THE NEW YORK TIMES -A fazenda da paz deve ser envolvida em um projeto abrangente de reumanização: um processo generalizado para reverter os efeitos da opressão, da violência e da desumanização do outro, que vêm se alimentando mutuamente há décadas.

Nossa consciência da importância da reumanização foi moldada por meio de nosso envolvimento com a organização Combatants for Peace (Combatentes pela Paz), criada por palestinos e israelenses que participaram do conflito e depois depuseram suas armas. Com base em quase duas décadas de uma luta conjunta e não violenta contra a ocupação israelense e as ideologias de ódio, percebemos a importância de valores e conceitos compartilhados.

Essa base comum deve ter como premissa a afirmação mútua de que ambos os povos têm um passado e um futuro nesta terra e que nenhum deles deve estar sujeito à violência ou à opressão do outro. A reumanização é, em outras palavras, um projeto de libertação.

Israelenses judeus e arabes-israelenses protestam contra a guerra na Faixa de Gaza em Israel  Foto: John Macdougall/AFP

Nossas experiências nos ensinam que a violência habita em todos nós, assim como a compaixão e o cuidado. Precisamos construir uma cultura que reconheça a presença dessa violência e que promova o cuidado e a compaixão. Podemos recorrer a tradições antigas, como a sulha, um mecanismo tribal testado pelo tempo para a resolução de conflitos, que faz parte do patrimônio desta região.

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Mas também precisamos desenvolver novos modelos. Por exemplo, a Combatants for Peace vem realizando cerimônias memoriais conjuntas para as vítimas de guerras há 18 anos. Nessas cerimônias, reconhecemos juntos a dor e a perda, transformando-as em energia construtiva para promover mudanças. Ao lamentarmos juntos, também assumimos a responsabilidade pela violência e nos comprometemos a evitar outras baixas.

Para nutrir e disseminar esses valores, precisamos formar uma rede de centros de paz em cidades israelenses e palestinas. Esses centros serviriam para educar os dois públicos sobre a história e a cultura do outro lado, equipar os líderes locais com habilidades como a comunicação não violenta e organizar atividades conjuntas.

Precisamos de estruturas profissionais conjuntas que reuniriam professores, funcionários públicos, empresários, médicos e líderes comunitários palestinos e israelenses para discutir questões de interesse mútuo. A ideia não é apenas promover soluções para os problemas que preocupam ambas as sociedades, mas também criar redes interligadas de conhecimento especializado, cimentadas por laços pessoais.

Essas redes formariam a infraestrutura de uma comunidade capaz de resistir às pressões de extremistas de ambos os lados que tentariam sabotar qualquer acordo político. Precisamos do apoio de grupos com a mesma mentalidade em todo o mundo que apoiem a criação dessa cultura de paz.

*Sulaiman Khatib é cofundador da Combatants for Peace. Avner Wishnitzer, também cofundador do grupo, é professor associado de história do Oriente Médio e da África na Universidade de Tel Aviv.

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