Taiwan: Lai Ching-te, candidato crítico à China, vence eleição para presidente

Lai Ching-te largou a sua carreira como médico para ser político devido as exercícios militares da China antes da primeira eleição presidencial aberta de Taiwan em 1996

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Por Redação
Atualização:

TAIPÉ - O atual vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te foi eleito presidente neste sábado, 13 e irá governar a ilha asiática pelos próximos quatro anos. Ching-te mantém o Partido Democrático Progressista (DPP da sigla em inglês) no poder após dois mandatos da atual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.

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Com 99% das urnas apuradas, Lai Ching-te tinha obtido 40,14% dos votos. Hou Yu-ih do Partido Nacionalista, chamado de Kuomintang, estava em segundo com 33,44% dos votos e Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan (TPP em inglês) obteve 26,43%.

Durante a disputada corrida eleitoral, o político prometeu reforçar os laços com os Estados Unidos para melhorar a estratégia de defesa de Taiwan em meio a ameaças da China. Ching-te, que é vice-presidente desde 2020, foi confirmado o próximo presidente de Taiwan após Hou Yu-ih, candidato do Partido Nacionalista, chamado de Kuomintang, conceder a vitória.

Lai Ching-te conta que largou a sua carreira como médico para ser político devido as exercícios militares da China antes da primeira eleição presidencial aberta de Taiwan em 1996. “Eu queria proteger a democracia que acabava de começar em Taiwan. Desisti do meu emprego bem remunerado e decidi seguir os passos dos nossos mais velhos na democracia”, disse Lai.

O presidente eleito deve reforçar as diferenças de Taipé com a China, que considera a ilha autogovernada seu território. O médico de 64 anos, formado em Harvard, assumirá o cargo em maio, estendendo o governo de oito anos de seu partido para um terceiro mandato. A atual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, está no poder desde 2016.

Lai Ching-te participa de coletiva de imprensa antes de votar neste sábado, 13  Foto: Ng Han Guan / AP

China

A presidência de Lai será provavelmente julgada, a nível internacional, pela forma como ele ira lidar com as tensões com Pequim e evitar uma escalada nos conflitos na região. A oposição, representada por Hou Yu-ih, do Partido Nacionalista, afirmou durante a campanha que o DPP poderia entrar em guerra com a China se ganhasse as eleições.

Os exercícios militares de intimidação da China se tornaram parte da rotina no Estreio de Taiwan, a faixa marítima de 177 quilômetros de largura que separa o continente da ilha. Os caças chineses tem avançado sobra a fronteira não oficial com maior frequência nos últimos meses e chegaram a bater a um patamar recorde no ano passado. Em um único dia de setembro, 103 aeronaves voaram perto do espaço aéreo de Taiwan. Uma frota com navios de guerra, incluindo o Shandong, o segundo porta-aviões lançado por Pequim, soma-se à pressão militar no entorno taiwanês.

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O Partido Comunista Chinês nunca governou Taiwan, mas reivindica a ilha autónoma de 23 milhões de habitantes como parte do seu território e ameaça regularmente assumir o controle pela força se Taipé declarar a independência, um entrave que remonta à Guerra Civil na China. Derrotadas na batalha interna, as tropas do Partido Nacionalista fugiram para a ilha e formaram um governo, em 1949. Ou seja, quatro anos depois que o território foi tomado de um Japão abalado pela derrota na 2ª Guerra.

O presidente eleito de Taiwan, Lai Ching-te, e a vice-presidente eleita, Hsiao Bi-khim, acenam após o resultado final do pleito  Foto: Daniel Ceng/ EFE

O presidente eleito afirma que está aberto a conversar com o presidente da China, Xi Jinping, mas apenas como iguais. Ele instou Pequim a repensar as táticas de pressão, mas disse que “não nutre ilusões” sobre as suas intenções.

Em vez de tentar agradar Pequim, Lai Ching-te disse que se concentrará em garantir o estatuto global de Taiwan, fortalecendo os laços com os Estados Unidos e outros países do Ocidente.

Em meio à tensão crescente, a inteligência americana alertou que a China estaria se preparando para invadir Taiwan até 2027, caso não consiga dominar a ilha por meios pacíficos. Xi Jinping negou esse cronograma em encontro com Joe Biden no ano passado. Em seu discurso de Ano Novo, no entanto, insistiu na “reunificação”.

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Os Estados Unidos monitoram essa ameaça e tem vendido bilhões de dólares em equipamentos militares para Taiwan. No mês passado, Taipé agradeceu a Casa Branca, por mais uma venda, no valor US$ 300 milhões - a 12ª desde que Biden assumiu a presidência e a 4ª só em 2023.

Antipatia

Pequim deixou bem claro a sua antipatia pelo presidente eleito. As autoridades chinesas consideram que ele apoia a independência de Taiwan e apontam que ele é um “grave perigo” para os interesses chineses.

O status diplomático de Taiwan é incerto. O país tem seu próprio governo, além de ter também o seu próprio passaporte. Contudo, por conta de objeções de Pequim, mantém relações diplomáticas com apenas 13 países e não tem um assento na ONU ou em outros organismos internacionais. Muitos países, como os EUA, mantêm fortes relações não oficiais com Taipé.

Campanha

Acredita-se que Pequim gostava mais do candidato do Kuomintang, que prometeu reiniciar negociações com a China e não declarar a independência da ilha.

Já Ko Wen-je, que concorreu pelo Partido Popular de Taiwan (TPP em inglês), criado por ele mesmo, atraiu os mais jovens em sua campanha, mas a tentativa de se lançar como outsider esbarra na participação do político em outros governos. Além de questões relacionadas à China, a estagnação da economia e os preços altos no setor imobiliário também foram temas que apareceram na campanha.

Para Tony Chen, um aposentado de 74 anos que votou em Taipé uma hora antes do encerramento das urnas, a eleição se resumiu a uma escolha entre o comunismo e a democracia. “Espero que a democracia vença”, disse ele. Stacy Chen, 43 anos, disse que sempre votou no DPP porque “Taiwan é um país independente”. Ela disse que queria que seu filho crescesse em um país separado da China./com W.Post e AP

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