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União Europeia reage à crise migratória em Ceuta e diz que não será 'intimidada' por Marrocos

Autoridades da Espanha e do bloco europeu afirmaram que não serão intimidados por pressão na fronteira

Por Hazel Ward e Diego Urdaneta/ AFP
Atualização:

CEUTA - Um fluxo constante de migrantes continuou a chegar esta quarta-feira, 19, ao enclave espanhol de Ceuta, no norte da África, enquanto a União Europeia levantou o tom contra Marrocos, garantindo que não será "intimidada" em temas de imigração.

Desde segunda-feira, 17, um recorde de 8 mil migrantes conseguiram entrar no enclave, em meio a uma disputa diplomática entre Rabat e Madri, sobre a assistência médica prestada pela Espanha a Brahim Ghali, líder do movimento Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental, território que Marrocos considera seu.

Soldado espanhol observa migrantes que completam a travessia entre Marrocos e Ceuta a nado. Foto: AP Photo/Bernat Armangue

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A Madri já havia aumentado a pressão diplomática sobre Rabat, um parceiro chave no controle do fluxo migratório, convocando o embaixador marroquino na terça-feira, 18, para expressar seu "descontentamento" e sua "rejeição à entrada em massa de migrantes marroquinos em Ceuta". E recebeu apoio e solidariedade de autoridades europeias nesta quarta-feira, incluindo a vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, que alertou que "a Europa não se intimidará por ninguém" perante a crise migratória, com uma referência velada ao Marrocos .

"Já vimos, nos últimos meses, algumas tentativas de países terceiros de instrumentalizar a migração e não podemos permitir isso", frisou Schinas em entrevista à rádio espanhola RNE.

"(Ceuta) é também uma fronteira europeia e por isso a falta de controle das autoridades marroquinas não é algo que represente uma falta de respeito pela Espanha, mas também pela UE como um todo", afirmou o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez.

Homem deita no chão após chegar ao território espanhol de Ceuta a nado. Foto: AP Photo/Javier Fergo

Crise diplomática

Rompendo o silêncio que mantinha desde segunda-feira, Rabat deu a entender que a crise migratória estava relacionada com a questão da hospitalização de Brahim Ghali.

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"Está claro que a Espanha privilegiou seu relacionamento com a Polisário e a Argélia em detrimento de seu relacionamento com o Marrocos", disse o ministro dos Direitos Humanos, Mustafa Ramid. E continuou: "A Espanha deve saber que o preço pelo descrédito do Marrocos está sendo pago caro. Ela deve rever sua política, suas relações".

Homem ajuda criança a escalar cerca na fronteira entre Marrocos e Ceuta, território espanhol no norte da África. Foto: AP Photo/Mosa'ab Elshamy

O posicionamento da Espanha é de que abrigar Ghali é uma questão estritamente "humanitária".

O ministro das Relações Exteriores espanhol, Arancha González Laya, afirmou nesta quarta-feira que Madri não mudará sua posição em relação ao Saara Ocidental, ex-colônia espanhola, em consonância com a das Nações Unidas: O "território não autônomo" deve fazer referendo sobre si mesmo, iniciativa rejeitada pelo Marrocos, que propõe um plano de autonomia sob a sua soberania.

Migrantes continuam a chegar

Controlados pela Espanha durante séculos e reivindicados por Rabat, os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla no norte de Marrocos são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com a África e pontos de passagem comuns para a migração irregular.

O governo espanhol prometeu "restaurar a ordem" no pequeno enclave de 84.000 habitantes, e, nesta quarta-feira, soldados com cassetetes e escudos puderam ser vistos posicionados nas praias de fronteira, enquanto um barco da Guarda Civil impedia a entrada de pessoas que tentavam alcançar o terrotório a nado.

Soldados espanhóis entram em confronto com migrantes marroquinos que chegam a Ceuta. Foto: AP Photo/Bernat Armangue

Além de reforçar a segurança em Ceuta, o governo espanhol acelerou o regresso dos migrantes e cerca de 4.800 já foram retirados do território, segundo Sánchez.

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Apesar das medidas adotadas pelo governo espanhol, muitas pessoas continuaram se reunindo nesta quarta-feira no lado marroquino. Grupos de pessoas continuavam a cruzar a fronteira a nado. Os que chegaram foram imediatamente interceptados pelos soldados e conduzidos a um posto médico para atendimento.

Migrantes vindos do Marrocos são recebidos pormilitares que guardam a fronteira de Ceuta. Foto: EFE/Brais Lorenzo

Muitos deles pareciam exaustos com o esforço feito para chegar ao solo europeu. Eles foram então levados para a cerca da fronteira e devolvidos ao Marrocos.

'Viva Espanha'

A distância entre o solo africano e europeu é de 200 metros nadando, mas alguns migrantes tentaram ir mais longe para iludir os militares. "Viva a Espanha", gritou um deles repetidamente, antes de pedir ajuda a um barco de resgate próximo.

Crianças e adolescentes são acomodadas em um abrigo temporário para migrantes menores de idade em Ceuta. Foto: AP Photo/Bernat Armangue

Na noite de terça a quarta-feira, as forças de segurança marroquinas bloquearam dezenas de pessoas que se dirigiam para a fronteira com a intenção de emigrar, que responderam atirando pedras, observou um jornalista da AFP.

Desde segunda-feira, uma multidão de homens, mulheres com crianças e jovens migrou para a área em meio ao relaxamento dos controles de fronteira./ AFP

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