Xi Jinping volta à Europa após cinco anos e busca fortalecer laços em meio à tensão com EUA

Presidente chinês escolheu como destino França, Sérvia e Hungria, países que sinalizam algum nível de apoio à ideia de nova ordem global

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Por Redação

PARIS - O presidente da China, Xi Jinping, chegou à França neste domingo, 5, para a primeira viagem à Europa em cinco anos. No momento em que o continente está dividido sobre como lidar com a ascensão de Pequim e a rivalidade com Washington, ele escolheu como destino três países — França, Sérvia e Hungria — que, em maior ou menor grau, veem a liderança dos Estados Unidos com desconfiança.

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Xi Jinping busca reforçar laços em meio às tensões com grande parte da Europa pela “parceria sem limites” que a China mantém com a Rússia e pelas suspeitas de espionagem. A viagem também servirá para expressar preocupação com as investigações da União Europeia sobre as práticas comerciais chinesas. Em Washington, a visita deve ser vista como parte do esforço para dividir aliados ocidentais e acompanhada com atenção.

O tour começou pela França, considerada a parada mais importante. “As relações China-França sempre estiveram na vanguarda das relações da China com os países ocidentais, estabelecendo um exemplo para a comunidade internacional de coexistência pacífica e cooperação”, exaltou Xi Jinping em nota divulgada logo após o desembarque em Paris.

Presidente chinês Xi Jinping e primeira-dama Peng Liyuan desembarcam em Paris na primeira viagem à Europa em cinco anos.  Foto: Michel Euler/AFP

O presidente Emmanuel Macron tem alertado que a Europa está em risco — como disse em entrevista à The Economist publicada no Estadão — e que a sobrevivência do bloco depende de uma autonomia estratégica e do fortalecimento de capacidades próprias de defesa.

“Quando olhamos para a Europa como um todo, vemos que ela investiu muito menos em sua defesa e segurança do que os Estados Unidos ou a China”, disse Macron. “E não só a guerra de alta intensidade está voltando ao solo europeu, como também está sendo travada por uma potência com armas nucleares e com uma retórica beligerante. Tudo isso significa que a Europa deve legitimamente se perguntar sobre sua proteção militar. E, de fato, ela deve se preparar para não ter mais a mesma proteção dos Estados Unidos”, reforçou.

As declarações de Emmanuel Macron refletem a crescente incerteza sobre o compromisso americano com os seus aliados do outro lado do Atlântico. E a sua visão de que a Europa deve se tornar uma potência global mais assertiva, que não fique a reboque dos EUA.

“Macron está tentando criar uma terceira via no atual caos global”, disse Philippe Le Corre, especialista francês em relações com a China. “Ele está tentando caminhar em uma linha tênue entre as duas principais superpotências.”

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Há um ano, o presidente francês esteve em Pequim, onde ecoou a defesa chinesa por um mundo “multipolar” e selou uma “parceria estratégia global”. Mais recentemente, ele visitou a Índia e o Brasil, na tentativa de posicionar a França como uma espécie de ponte entre países do Brics e as potências ocidentais no momento de distanciamento entre o Sul e o Norte global.

Xi Jinping será recebido com pompas de chefe de Estado e tem um encontro marcado no Palácio do Eliseu com Macron e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen. Eles devem abordar as desavenças comerciais no momento em que a União Europeia investiga subsídios aos carros elétricos chineses, apontados como anticompetitivos e ameaça impor tarifas adicionais.

A agenda de Xi Jinping na França também prevê uma viagem com Emmanuel Macron aos Pirineus. O objetivo é que eles possam ter um diálogo mais direto, em especial, sobre a guerra na Ucrânia. O presidente francês deve pedir ao homólogo chinês que apoie uma trégua em todos os conflitos durante as Olimpíadas de Paris.

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“Esperamos que a paz e a estabilidade voltem rapidamente à Europa e temos a intenção de trabalhar com a França e toda comunidade internacional para encontrar boas formas de resolução para crise”, escreveu Xi Jinping no francês Le Figaró. “Compreendemos a agitação que a crise na Ucrânia está causando nos europeus. A China não causou a crise e não é uma parte dela”, acrescentou.

Embora reivindique neutralidade diante do conflito, a China tem ajudado a Rússia a contornar as sanções do Ocidente e não se mostra inclinada em atender os apelos europeus para pressionar o Kremlin a acabar com a guerra. E Xi Jinping deve receber uma visita de Vladimir Putin ainda este mês.

Primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, recebe Xi Jinping em Paris. Foto: Stephane De Sakutin/AFP

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Depois da França, presidente Chinês vai para Sérvia e Hungria

Da França, Xi seguirá para a Sérvia, que tem a China como segundo maior parceiro comercial. A chegada está programada para coincidir com os 25 anos do bombardeio da Otan contra a Embaixada da China em Belgrado durante a guerra do Kosovo. O ataque em 7 de maio de 1999 matou três jornalistas chineses e provocou protestos furiosos em torno da Embaixada dos EUA em Pequim. Apesar do pedido de desculpas da Casa Branca, o governo chinês usa o episódio para denunciar o que chama de hipocrisia e intimidação do Ocidente.

Na sequência, ele seguirá para Hungria, onde o primeiro-ministro, Viktor Orban, apoiou enormes investimentos chineses, anunciou cooperação na área de segurança e usou a posição do país como membro da União Europeia para diluir as críticas a Pequim. Além da proximidade com a China, tanto a Sérvia como a Hungria são vistas como próximas à Rússia e incomodam os Estados Unidos.

A disposição que os três países escolhidos por Xi Jinping para primeira viagem à Europa em cinco anos sinalizam em reforçar os laços expõe as divisões na Europa sobre como lidar com Pequim.

A Polônia e os Estados Bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — conhecem bem as ambições imperialistas da Rússia e são mais fortemente ligados à aliança com os Estados Unidos. São também mais cautelosos em relação à China, que nunca condenou a guerra na Ucrânia./NY Times, AFP e AP

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