Quando é o momento certo para cozinhar para aquele contatinho?

‘Um editor com quem trabalho brincou dizendo que, quando duas pessoas assam um frango juntas, já estão no modo casamento total’

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Por Gina Cherelus (The New York Times)

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Numa cena da comédia romântica Uma Loucura Chamada Amor, de 1997, um jovem poeta chamado Darius conta a seu amigo, durante uma partida de bilhar, como foi seu primeiro encontro com Nina, uma linda fotógrafa que ele tinha conhecido recentemente. Eles acabaram transando naquela noite e, na manhã seguinte, ele se levantou e preparou o café da manhã.

“Você fez o café da manhã?”, pergunta o amigo, incrédulo. Darius mal conhecia aquela mulher.

“Fiz uma coisinha simples”, responde Darius.

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“Pera aí, pera aí – você fez o quê?”

“Omelete de queijo”.

Cozinhar nos estágios iniciais da relação pode ser uma coisa incrivelmente carregada de significado. Às vezes, como no caso de Darius, é um ato impulsivo que sinaliza sentimentos verdadeiros – mesmo que a pessoa ainda não esteja ciente deles. Mas também pode ser um plano com segundas intenções para a noite de sexta-feira. De um jeito ou de outro, esse primeiro prato geralmente vem acompanhado de muita reflexão. E muita coisa depende dele.

Apesar de Darius afirmar que ele e Nina estavam “só curtindo”, a omelete era um sinal claro de que ele já estava se apaixonando.

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Salmão ao molho de laranja; será que é a hora certa de cozinhar para aquela pessoa que você está saindo? Foto: Água Doce Sabores do Brasil/Divulgação

Então, qual é o momento certo para cozinhar para alguém com quem você está saindo, mas ainda não tem um relacionamento? Você arrisca uma receita nova ou se atém ao que já conhece? E será que certos pratos deixam certas impressões? Um editor com quem trabalho brincou dizendo que, quando duas pessoas assam um frango juntas, já estão no modo casamento total.

Certa manhã, acordei ao lado de alguém com quem estava saindo e tive vontade de preparar o café da manhã. Normalmente, eu teria esperado até que ele fosse embora ou teria feito uma coisinha simples, mas aí me lembrei de que ele tinha mencionado que gostava de torradas francesas. Antes que eu percebesse, já estava mergulhando fatias de pão no leite e nos ovos batidos para comer com um homem com quem não estava namorando oficialmente. Tempos depois, fiquei rindo ao perceber que, assim como Darius, eu gostava muito mais dessa pessoa do que conseguia imaginar na época.

Kimberly Cortese, gerente de produtos em Smyrna, Geórgia, gosta muito de cozinhar, disse ela, e costumava ir para a cozinha quase instintivamente nos estágios iniciais dos namoros. Mas depois de fazer jantar muitas vezes para os caras com quem estava saindo, Cortese, 29 anos, percebeu que isso estava virando uma expectativa. Então ela criou uma regra para si mesma: não cozinhar até ter certeza de que o relacionamento é sério.

“Minha maneira de mostrar afeto às pessoas era cozinhando”, disse Cortese. “Mas tinha entrado numa dinâmica em que eu nunca mais iria sair com ninguém”.

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Ela formulou sua regra alguns anos atrás, depois de ter namorado dois caras seguidos – cada um por menos de um ano – e ter começado a cozinhar para eles no segundo ou terceiro encontro. Para ser justa, ambos os relacionamentos ocorreram durante o início da pandemia, quando era difícil sair de casa. Mas como era a única que se esforçava para cozinhar – seu prato predileto era um assado coreano com tofu e macarrão – ela nunca se sentiu totalmente valorizada.

Ela até preparou tofu tailandês com amendoim, pimentão vermelho, brócolis e arroz para um dos rapazes na noite em que ele foi até a casa dela para terminar, em dezembro de 2020. Ele esperou até depois da refeição para dar a notícia.

“Se você está vindo para arrancar o band-aid, pelo menos tenha a decência de trazer comida, para que eu não tenha que cozinhar”, disse ela. “Ele me deixou fazer uma refeição inteira”.

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“Naquele momento”, ela acrescentou, “eu disse: ‘Nunca mais vou fazer isso de novo’”.

Brett Holzhauer, redator de conteúdo financeiro em Fort Lauderdale, Flórida, disse que cozinhar desde o início é uma maneira fantástica criar intimidade no processo de namoro. Embora tenha crescido imerso em um “ciclo tradicional” que pressupõe que “a mulher vai cozinhar”, ele gosta de pilotar o fogão.

“Acho que é uma coisa muito calorosa um cara dizer: ‘Ei, me deixe cozinhar para você, me deixe cuidar de você’”, disse ele. “Mostra intenção, mostra cuidado – mostra um pouco de amor, por assim dizer”.

Do ponto de vista logístico, Holzhauer, 30 anos, que gosta de preparar pratos mexicanos e italianos porque “é romântico”, acredita que, se você for um bom cozinheiro e estiver realmente levando a garota a sério, é muito mais barato e uma ótima maneira de se destacar.

“Eu só não recomendaria para um primeiro encontro, claro, porque ir à casa de alguém no primeiro encontro é meio estranho”, disse Holzhauer, que está em um novo relacionamento à distância com uma mulher em Chicago.

Nos relacionamentos heterossexuais, pode parecer que há mais em jogo quando as mulheres cozinham para os homens do que quando os homens cozinham para as mulheres. O gesto gentil está reforçando os papéis de gênero? Pegar a panela cedo demais indica que você está desesperada ser a namorada dele? É difícil se você realmente gosta de cozinhar e quer compartilhar isso, mas é sempre bom ter um pouco de clareza e estratégia.

Depois de ficar uns dois anos sem namorar, Cortese diz que agora está em um relacionamento feliz. Mas ela só cozinhou para o namorado depois um mês e meio de namoro. Para a primeira refeição, ela preparou só um arroz e “algo que dava para fazer no micro-ondas”.

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“Ele ficou muito feliz e agradecido, aí ficamos juntos e ele continuou voltando e nós continuamos fazendo refeições muito, muito básicas”, disse Cortese. Agora eles dividem as tarefas culinárias, para que ela possa continuar fazendo o que gosta sem sentir que é uma obrigação. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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