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Vestuário do futuro será das roupas robóticas

Pesquisas em tecidos buscam a criação de roupas supertecnológicas

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Por Pranchu Verma
Atualização:

THE WASHINGTON POST - No curta de animação “Wallace & Gromit: As Calças Erradas”, um par de calças futurísticas torna possível as pessoas andarem por paredes e tetos.

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Pesquisadores na Inglaterra disseram que o filme inspirou uma ideia: roupas robóticas poderiam ajudar a sociedade. Eles criaram “as calças certas”, um conjunto de calças com dispositivos elétricos que liberam ar em minúsculos tubos que se expandem e podem auxiliar pessoas idosas ou com deficiência com dificuldades para, por exemplo, levantar-se ou melhorar a circulação sanguínea.

Agora, em laboratórios de universidades de todo o mundo, cientistas de materiais, programadores e designers de tecido estão trabalhando para avançar com as roupas robóticas em um ritmo veloz, deixando-nos mais próximos de uma realidade na qual as roupas que vestimos nos ajudam a nos manter saudáveis e a melhorar a vida cotidiana.

“Estamos meio que no estágio do anúncio pré-iPhone”, disse Yoel Fink, professor de ciências materiais no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Em junho, pesquisadores na Austrália criaram fibras têxteis robóticas, que podem fazer o tecido se mover automaticamente. No ano passado, cientistas do MIT fabricaram fios programáveis por computador e construíram baterias em forma de fibra usando baterias gelatinosas que poderiam ser incorporadas a roupas e fazer funcionar tecidos robóticos. Em um sinal de que a tecnologia está se aproximando da maturidade, a comunidade de inteligência dos EUA anunciou em julho que estava pretendendo desenvolver roupas inteligentes para soldados e espiões.

Os pesquisadores disseram que o trabalho deles está em um momento decisivo e que em breve podem dar início a uma era em que as roupas vão funcionar mais como um computador, detectando como seu corpo se sente e dizendo às suas roupas como ajudá-lo.

Na próxima década, segundo os cientistas, os consumidores podem esperar por uma gama completa de ofertas futuristas: calças que podem ajudar a levantar idosos ou pessoas com deficiência, meias esportivas que podem estimular a corrente sanguínea por meio de compressão automática, roupas para pessoas grávidas capazes de monitorar os batimentos cardíacos do feto e melhorar os prognósticos da gestação.

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Tecido tecnológico produzido no MIT  Foto: Roni Cnaani/MIT

Evolução

Tecidos existem há séculos. As tramas entrelaçadas de lã, tecido e fios enriqueceram impérios e permaneceram relativamente iguais durante décadas.

Porém, nos últimos anos, as empresas começaram a lançar roupas inteligentes, que se conectam ao celular. O Google – por meio de seu projeto Jacquard – fechou parcerias com marcas como Levi’s, Yves Saint Laurent e Adidas para colocar sensores em jaquetas jeans, mochilas e sapatos, permitindo que os usuários acessem seus telefones de forma instantânea, trocando de música aos deslizar as mãos pelas mangas. A startup de tecnologia de moda Wearablex criou calças para ioga que emitem vibrações para melhorar a postura, também por meio de um smartphone.

Mas essas roupas conectadas são apenas a primeira leva da tecnologia para roupas inteligentes, disseram os pesquisadores, e os avanços tecnológicos nos quais eles estão trabalhando vão criar outras que podem fazer bem mais.

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Na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, pesquisadores estão criando tecidos que mudam de formato. Than Nho Do, professor da escola, disse que sua equipe criou tubos minúsculos de silício, semelhantes em tamanho aos fios de lã e inspirados em fibras musculares, que podem se transformar em mantas de tecido. Esses tubos, acionados por estímulo eletrônico ou térmico, podem fazer com que o tecido ganhe vários formatos pré-programados (veja ao lado).

Mas ainda restam desafios para a equipe de Do, sobretudo quanto a tornar esses tubos robóticos menores para que possam ser entrelaçados facilmente com fios de lã e outros tecidos sem adicionar volume, disse ele. Atualmente, eles têm um diâmetro de 0,5 mm, mas o objetivo é que tenham 0,1 mm, aproximadamente, o tamanho de uma ponta de agulha de uma seringa média. O fio de lã pode ter em média cerca de 3 a 4 mm.

Computação

Para tornar as roupas inteligentes transformadoras, no entanto, é necessário poder de computação dentro dos tecidos, para que eles possam monitorar sinais fisiológicos e direcionar a tecnologia, disse Fink. Os pesquisadores estão tentando construir tecidos computacionais que possam processar dados gerados pela pele humana e transformá-los em comandos que as roupas obedeçam.

“O software vai determinar quais serviços você está recebendo”, disse ele, “e essa coisa vai se parecer com a camiseta e as calças usadas por você hoje”.

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Fink e outros pesquisadores do MIT criaram fibras com centenas de microchips de silicone para transmitir sinais digitais – essenciais para as roupas monitorarem coisas como frequência cardíaca ou inchaço nos pés. Essas fibras são pequenas o suficiente para passar por uma agulha, serem cobertas em tecido e lavada pelo menos dez vezes.

Outros no instituto também criaram baterias recarregáveis de íons de lítio no formato de uma fibra ultralonga que pode ser entrelaçada em tecido, fornecendo eletricidade aos tecidos sem uma fonte de energia externa.

Tecido tecnológico produzido pelo MIT é aplicado a fios de lã  Foto: Roni Cnaani/MIT

Design

Mas um dos maiores desafios enfrentados pela área de pesquisa, segundo Fink, é o design. “Como deveria ser esse tecido?”, disse ele. Deve “parecer, dar a sensação, ser usado e lavado exatamente como o tecido usado por você agora”. Ele observou que seu laboratório tem parcerias com designers industriais da Escola de Design de Rhode Island para lidar com essas questões fundamentais.

Rebecca Kramer-Bottiglio, professora de engenharia mecânica da Universidade Yale, concordou que muitos desafios vão continuar a existir até que os tecidos inteligentes “atinjam todo o seu potencial”. Será um desafio fazer essas roupas, repletas de fibras e tecnologia, duráveis o suficiente para suportar vários ciclos na máquina de lavar, ela disse.

Rebecca lembrou que o tamanho também será um desafio. “O volume adicional de fibras especializadas pode tornar os tecidos inteligentes desconfortáveis ou difíceis” de se vestir ou retirar. Além disso, acrescentou, os pesquisadores terão de descobrir a maneira ideal de colocar fibras robóticas em tecidos e garantir que as fontes de energia sejam leves.

Apesar disso, os pesquisadores vão descobrir uma forma de seguir em frente, afirmou. “Inovações recentes apontam para um futuro não tão distante no qual os tecidos inteligentes farão parte do nosso guarda-roupa diário.” TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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