Chefe do Instagram defende criação de órgão de proteção para crianças online

Em depoimento no Congresso dos EUA, Mosseri defendeu o aplicativo e sugeriu a criação de nova agência

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Por Bruna Arimathea , Bruno Romani e Giovanna Wolf
Atualização:
Adam Mosseri, diretor do Instagram, participou de audiência no Senado americano nesta quarta-feira Foto: Brendan Smialowski/AFP

Depois de Mark Zuckerberg e outros executivos do Facebook prestarem depoimento perante o Congresso dos Estados Unidos, chegou a vez de Adam Mosseri, chefão do Instagram, responder a perguntas do governo americano. Nesta quarta-feira, 8, o diretor da rede social de fotos participou de audiência no Senado americano sobre o impacto da plataforma na saúde mental de adolescentes - foi a primeira vez que o executivo apareceu diante dos legisladores. 

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Ele defendeu a criação de um novo órgão que determinaria as melhores práticas para garantir a segurança de crianças na internet. O diretor do Instagram explicou que a estrutura avaliaria como verificar a idade, como projetar experiências adequadas a cada idade e como criar controles parentais. “Há quase três anos pedimos regulações atualizadas. Na minha visão, não há área mais importante do que a segurança dos jovens”, disse o executivo em documento enviado ao Congresso americano nesta quarta-feira.

Para Mosseri, esse órgão deveria receber contribuições da sociedade civil, pais e reguladores para criar padrões e proteções universais. "Acredito que empresas como a nossa devam aderir a esses padrões para obter algumas de nossas proteções da Seção 230 (legislação americana que determina responsabilidades sobre conteúdo na internet)", disse o executivo na carta. Antes da audiência, o app de vídeos foi alvo de protestos. 

A audiência começou com o senador democrata Richard Blumenthal criticando as grandes empresa de tecnologia e avisando que regulação está a caminho. "A época da auto-regulação se foi. As empresas de tecnologia pediram para confiarmos nelas, mas essa confiança foi perdida", afirmou. Ele também tocou na proposta de olhos externos olharem de perto o que as empresas fazem. "Precisamos de pesquisadores de fora, que tenham critériso rígidos".  

Questionado por transparência de algoritmos e de sistemas de ranqueamento de conteúdo (que prioriza determinadas publicações nos feeds de notícias dos usuários), Mosseri disse que se compromete em oferecer "acesso significativo" a estudos da empresa, para que pesquisadores externos possam utilizar os documentos para suas próprias pesquisas. Não ficou claro, porém, como funcionaria exatamente a divulgação.

Na defensiva, Mosseri disse que o Instagram é um lugar onde adolescentes gostam de passar o seu tempo e que alguns deles já chegam com problemas de saúde mental, que acabam exacerbados. Mosseri afirmou que uma pesquisa externa realizada no mês passado concluiu que mais adolescentes norte-americanos estão usando o TikTok e o YouTube do que o Instagram.

"Uma pesquisa externa do mês passado sugeriu que mais adolescentes nos EUA estão usando o TikTok e o YouTube do que o Instagram. Com adolescentes usando várias plataformas, é fundamental que abordamos a segurança online para jovens como um desafio da indústria e desenvolvemos soluções para toda a indústria e padrões", disse. Ele também rejeitou a afirmação de que o Instagram cause vício em jovens, embora as informações contradigam aquilo que já foi publicado nos Facebook Papers. 

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A senadora Marsha Blackburn demonstrou não ter mais paciência com a empresa de Mark Zuckerberg: "Estou frustrada porque essa é a quarta vez nos últimos dois anos que falamos com alguém da Meta (nova holding do Facebook) e acho que a conversa continua a mesma. Eu sei que tem pessoas, muitos pais, eles compartilham dessas frustrações, eles continuam ouvindo de vocês que as coisas vão mudar, que a segurança online vai existir, que os dados vão ser seguros. Mas nada muda". 

Em resposta a Blackburn, Mosseri afirmou que “não importa a idade, é importante que seja fácil achar novos amigos”, a respeito da configuração padrão de recomendação de novos perfis. Segundo a senadora, contas para menores de 18 anos deveriam ter essa opção desabilitada, por promover potenciais seguidores prejudiciais aos adolescentes.

“Eu acredito que os pais sabem melhor qual o limite de telas que as crianças podem ter por dia”, afirmou Mosseri. Nas opções de controle parental, há uma opção que permite que os pais permitam até 3 horas de uso do app pelos filhos", disse ele. Os senadores demonstraram insatisfação com o tempo de três horas citados por ele. 

Mosseri afirmou que usuários menores de 13 anos não são permitidos no Instagram e que a plataforma está tentando desenvolver novas tecnologias para identificar e remover contas pertencentes a menores de 13 anos.

Na véspera da audiência, manifestantes protestaram contra o Instagram na frente do Congresso americano Foto: Elizabeth Frantz/Reuters

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A audiência acontece após documentos vazados do Facebook mostrarem que a empresa foi negligente com a segurança dos usuários em seus aplicativos: entre outros problemas, a companhia estava ciente do impacto da plataforma no bem-estar de jovens, mas não tomou medidas para conter os danos. Os arquivos foram vazados por Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook – as primeiras reportagens foram inicialmente publicadas pelo jornal americano Wall Street Journal, em setembro. Uma das pesquisas internas da empresa revelou que 32% das meninas que se sentiam mal com o próprio corpo ficavam ainda pior ao acessar o Instagram.

Após as publicações virem à tona, o Facebook interrompeu o projeto Instagram Kids, que previa a criação de uma versão do aplicativo voltada para crianças. Criticado por pais, especialistas e reguladores, o projeto será reavaliado “em uma data posterior”, disse o Facebook em setembro. 

Esforços

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Na terça-feira, 7, na véspera do depoimento de Mosseri, o Instagram anunciou novos recursos de proteção para adolescentes. A empresa informou que vai desativar a capacidade dos usuários marcarem ou mencionarem adolescentes que não os seguem no aplicativo. A partir de janeiro, os usuários adolescentes também poderão excluir em massa seu conteúdo, curtidas e comentários anteriores.

Além disso, a rede social está explorando controles para limitar conteúdo potencialmente prejudicial ou sensível sugerido aos adolescentes por meio das funções de pesquisa, hashtags, vídeos curtos e "Contas sugeridas", bem como na página "Explorar", de curadoria de publicações.

A companhia também anunciou o lançamento da função "Take a Break", que lembra os usuários de fazerem uma breve pausa no aplicativo após usá-lo por um determinado período de tempo. Por enquanto, o recurso está disponível apenas nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália.

Blumenthal criticou os novos recursos de proteção, afirmando que foram uma manobra de relações públicas. O senador também questionou por que as mudanças não foram anunciadas anos atrás.

Segundo Blumenthal, uma nova conta falsa foi criada pelo Comitê na última segunda-feira, 6, para averiguar se mudanças anunciadas pelo Instagram nos últimos meses tiveram algum efeito. Blumenthal afirmou que, em pouco tempo, algumas curtidas em conteúdos tóxicos relacionados a alimentação resultou em uma frequente recomendação de publicações problemáticas — que continham anorexia e outros tipos de distúrbios alimentares.

O senador já havia comentado sobre esse tipo de experimento durante audiência com Antigone Davis, diretora de segurança do Facebook, em setembro. /COM REUTERS

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