Facebook terá programa de verificação de notícias falsas no Brasil

Rede social faz parceria com agências de checagem de notícias Aos Fatos e Lupa para reduzir disseminação de fake news; iniciativa reduziu alcance orgânico de publicações em até 80% no exterior

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Por Bruno Capelas
Atualização:
No exterior, programa ajudou Facebook a reduzir em 80% a disseminação de notícias falsas na rede social Foto: Facebook

O Facebook anunciou nesta quinta-feira, 10, um novo programa para tentar reduzir a disseminação de notícias falsas na rede social no Brasil. A partir de hoje, a empresa inicia uma parceria com as agências de verificação de notícias Aos Fatos e Lupa para checar a veracidade de publicações feitas na plataforma criada por Mark Zuckerberg. Implementado no exterior, o programa ajudou a reduzir o alcance orgânico de postagens falsas na plataforma em até 80%, informou o Facebook. 

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“Um dos nossos pilares hoje é ter uma comunidade bem informada”, diz Claudia Gurfinkel, líder de parcerias com veículos de mídia do Facebook para a América Latina. “Para nós, é muito importante lançar esse programa no Brasil às vésperas das eleições.” A menção ao pleito deste ano não é à toa: apesar de existir há bastante tempo na internet, a disseminação de notícias falsas se tornou um problema mais acentuado a partir de 2016, durante a eleição presidencial americana, que deu a vitória a Donald Trump. 

O Facebook é considerado um dos principais atores nessa discussão – e o novo programa é uma tentativa da empresa para reduzir seu papel nessa questão problemática. Além disso, a iniciativa surge na esteira do escândalo do uso ilícito de dados de 87 milhões de usuários pela consultoria política Cambridge Analytica, contratada para atuar na campanha de Trump. 

Como funciona. Nos últimos tempos, o Facebook tem começado a receber denúncias de notícias falsas pelos usuários – que podem notificar a rede de abusos, assim como acontece em questões como violência ou nudez. Além disso, a empresa também diz usar sistemas de aprendizado de máquina para ler comentários que possam indicar que a publicação contém informações inverídicas. 

As duas agências que fecharam a parceria com o Facebook terão acesso a essa lista de notícias classificadas pela rede social como supostamente falsas, e poderão, a partir dela, fazer a checagem dos dados. A partir da apuração, Aos Fatos e Lupa poderão rotular as publicações de diferentes formas – são ao todo seis rótulos, que vão de falso a verdadeiro, incluindo sátira. “É um rótulo que criamos para mostrar que aquele conteúdo não é jornalístico e, portanto, não se aplica a uma checagem”, diz Gurfinkel ao Estado. 

Caso uma publicação feita no Facebook seja rotulada como falsa, a rede social vai avisar os usuários que tentarem compartilhá-la. Caso a decisão de dividir aquela história com os amigos seja tomada pelo usuário, a postagem será exibida com um rótulo de “falsa” e trará, como artigo relacionado, o texto que mostra a checagem das agências independentes. O Facebook também vai vetar que aquela publicação seja impulsionada por uma página – isto é, que alguém possa pagar para que ela chegue a mais pessoas. 

Além disso, páginas no Facebook que compartilharem notícias falsas repetidamente terão seu alcance diminuído e possibilidades de monetização cortadas. “Sabemos que um dos aspectos mais significativos das notícias falsas é o econômico – com agentes que buscam atrair leitores para faturar com anúncios em seus sites. Cortar a monetização é uma forma de coibir essa prática, avalia a executiva do Facebook. 

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Especialistas ouvidos pelo Estado receberam a notícia com bons olhos. Para Pablo Cerdeira, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio), a utilização de parcerias é uma “iniciativa acertada”. “Modelos de algoritmos e sistemas de aprendizado de máquina ainda têm um longo caminho a percorrer, enquanto tecnologia, para detectar se uma notícia é confiável”, diz. “A participação de especialistas é saudável e interessante para ajudar a conter esse problema.”

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