Instabilidades na plataforma mostram que Twitter opera na precariedade

É pouco provável que a rede social deixe de funcionar, mas problemas têm aparecido com frequência para usuários

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Por Ryan Mac , Mike Isaac e Kate Conger

THE NEW YORK TIMES - Depois da aquisição do Twitter por Elon Musk no ano passado e de ele demitir milhares funcionários, muitos usuários estão assustados com a frequência com que as hashtags #RIPTwitter (Descanse em paz, Twitter) e #GoodbyeTwitter (Adeus, Twitter) começaram a ser bastante usadas. O serviço da rede social continua funcionando até hoje. Mas suas interrupções, bugs e outras falhas técnicas estão aumentando cada vez mais.

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Apenas em fevereiro, o Twitter apresentou pelo menos quatro interrupções generalizadas, em comparação com nove em todo o ano de 2022, de acordo com a NetBlocks, uma organização que monitora falhas de serviços na internet - o último problema ocorreu na segunda-feira, 6.

Isso mostra que a frequência de interrupções no funcionamento está aumentando, disse a NetBlocks. E os bugs que tornaram o Twitter menos utilizável – impedindo as pessoas de tuitar, por exemplo – têm sido mais perceptíveis, disseram pesquisadores e usuários.

A credibilidade do Twitter piorou conforme Musk fez cortes no quadro de funcionários da empresa. Após mais uma rodada de demissões recentemente, o Twitter agora tem menos de dois mil profissionais, uma redução consdierável ao se comparar com a equipe de 7,5 mil quando Musk assumiu o controle da plataforma. Os últimos cortes afetaram dezenas de engenheiros responsáveis por manter o site online, disseram três atuais e ex-funcionários.

É pouco provável que o Twitter pare de funcionar de vez, mas suas operações de tecnologia se tornaram mais precárias desde novembro, disseram sete atuais e ex-funcionários. Musk encerrou as operações em um dos três principais centros de processamento de dados do Twitter, reduziu ainda mais as equipes que trabalham com tecnologia back-end na empresa, como servidores e armazenamento em nuvem, e dispensou os líderes que supervisionavam essa área.

As mudanças exacerbaram os temores de que não haja profissionais ou conhecimento institucional suficientes para fazer a triagem dos problemas do Twitter, principalmente se a plataforma se deparar com algo que os trabalhadores restantes não sabem como solucionar, disseram duas pessoas a par das operações internas da empresa.

No passado, o Twitter prevenia que as falhas aumentassem tendo profissionais por perto para diagnosticar e resolver problemas imediatamente. Agora, é provável que a plataforma seja assolada por mais problemas técnicos, já que os trabalhadores demoram mais para identificá-los, disseram as fontes.

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“A gente costumava ver falhas em coisas menores, mas agora o Twitter está caindo completamente para certas regiões do mundo”, disse Saagar Jha, engenheiro do Twitter que deixou a empresa em maio. “Quando coisas sérias dão defeito, as pessoas que conheciam os sistemas não estão mais lá.”

O Twitter e Musk não responderam as solicitações de posicionamento enviadas pelo Times.

Em um e-mail recente para os funcionários, ao qual o New York Times teve acesso, Musk disse que as demissões foram “uma reconfiguração organizacional difícil focada na melhoria de conquistas futuras”. Ele disse que aqueles que ainda estão na empresa receberiam “ações muito significativas e outras recompensas como remuneração” em 24 de março.

Quando a rede social ainda crescia de forma exponencial, mensagem de 'pane' nos servidores do Twitter mostrava passarinhos segurando uma baleia; usuários apelidaram o movimento de 'baleiar' Foto: Reprodução/Twitter

‘Baleiou’

No final dos anos 2000 e início dos anos 2010, o Twitter era conhecido por falhas constantes e por sua “Fail Whale” (que no Brasil deu origem ao verbo “baleiar”), uma imagem de uma baleia sendo içada do mar por um bando de passarinhos que aparecia na tela quando o site não funcionava. Ao longo dos anos, a empresa adicionou centenas de pessoas às suas equipes de infraestrutura e melhorou a tecnologia de seus servidores para mitigar essas falhas, disseram três atuais e ex-engenheiros da plataforma.

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Depois que Musk adquiriu a empresa, as demissões começaram – seguidas por mais mudanças substanciais na tecnologia back-end do site. Em 24 de dezembro, o Twitter encerrou as operações de um centro de processamento de dados em Sacramento, na Califórnia, que ajudava a lidar com grande parte do tráfego da web para a plataforma. Isso deixou o Twitter com apenas duas outras instalações, em Atlanta e em Portland, no Oregon.

Quatro dias depois, o Twitter sofreu uma interrupção generalizada, com alguns usuários não conseguindo fazer login no site ou ver as respostas aos seus tuítes.

Erros de funcionários levaram a outras interrupções. No início de fevereiro, um trabalhador do Twitter excluiu dados de um serviço interno destinado a evitar spam, levando a uma falha técnica que deixou muitas pessoas sem poder tuitar ou enviar mensagens umas para as outras, segundo três pessoas familiarizadas com o incidente.

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Os engenheiros do Twitter levaram várias horas para diagnosticar o problema e restaurar os dados com um backup. Durante esse período, os usuários receberam mensagens de erro que diziam que eles não podiam tuitar porque já tinham postado demais.

Uma semana depois, uma engenheira testando uma mudança nos perfis dos usuários em dispositivos móveis da Apple provocou outra interrupção temporária. Ela desconsiderou uma prática antiga de testar novos recursos com pequenos grupos de usuários e simplesmente implementou a mudança – um ajuste para o Spaces, o serviço de áudio ao vivo do Twitter – para um conjunto amplo de pessoas, disseram duas fontes a par do ocorrido.

“Então, acabei de derrubar o Twitter sem querer”, tuitou mais tarde Leah Culver, a engenheira por trás da interrupção do serviço. O aplicativo finalmente voltou a funcionar depois que a mudança foi revertida, disse ela. Leah não respondeu a solicitação de comentário enviada pelo Times.

Novos recursos aumentam falhas

Conforme Musk muda o Twitter com novos recursos, “mais imperfeições” têm surgido no site, disse Jane Manchun Wong, engenheira de software independente que estuda aplicativos de redes sociais.

Em fevereiro, ela tuitou que o número de curtidas de um de seus tuítes tinha diminuído, o que chamou a atenção de Musk. Ele respondeu que havia um atraso na distribuição de dados do Twitter entre seus centros de armazenamento.

Alguns usuários também reclamaram que seu número de seguidores na plataforma parecia ter caído misteriosamente. Outros observaram que os tuítes de usuários bloqueados por eles – incluindo Musk – começaram a aparecer em seus feeds sem explicação.

“Quando há mudanças de back-end, às vezes as coisas quebram”, disse Jane.

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Solucionar problemas técnicos tornou-se também mais difícil devido a mudanças nos sistemas internos e na comunicação. Há alguns dias, os funcionários perderam o acesso ao Slack, ficando sem seu principal meio de comunicação com os colegas e a possibilidade de ver um registro de como os profissionais corrigiram problemas com o Twitter antes, disseram três atuais e ex-funcionários.

Dias depois, a empresa trouxe o Slack de volta. Mas arquivou milhares de canais antigos do Slack que os trabalhadores usavam para se comunicar, segundo um e-mail interno verificado pelo Times.

Alguns funcionários disseram que nos últimos tempos Musk também tinha despertado mais mal-estar e desconfiança com uma avaliação informal entre colegas. Alguns gestores receberam ligações em fevereiro de Steve Davis, homem de confiança de Musk que liderou sua startup de túneis, a Boring, de acordo com duas fontes com conhecimento do assunto.

A ideia era promover mais uma filtragem de nomes a serem cortados. Pouco tempo depois, mais de 200 funcionários – entre eles gerentes de produto e engenheiros responsáveis por realizar mudanças rápidas na plataforma – tiveram suas contas de e-mail congeladas e perderam o acesso aos sistemas internos do Twitter. Musk tinha feito mais uma rodada de demissões. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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