99, de transportes por app, demite cerca de 100 funcionários

Movimento aconteceu na última semana e afetou a área de relacionamento com o cliente

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Foto do author Bruna Arimathea
Foto do author Bruno Romani
Por Bruna Arimathea e Bruno Romani
Atualização:

A empresa de transporte por aplicativo 99 demitiu cerca de 100 funcionários na última semana, afirmaram ex-colaboradores ao Estadão. Em nota, a startup controlada pela chinesa Didi Chuxing confirmou os cortes, mas não divulgou o número de funcionários afetados. Ainda, a empresa afirmou que a área de relacionamento com o cliente foi a única atingida pelos cortes.

De acordo com relatos de ex-funcionários, grande parte da equipe de CX (a área de experiência do cliente) foi demitida em sessões na última semana. Alguns dos demitidos ouvidos pelo Estadão afirmaram que a companhia planeja terceirizar o atendimento ao cliente. Questionada pela reportagem, a 99 diz que “trabalha com empresas parceiras nessa área desde 2017″.

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Na nota divulgada, a 99 afirmou que passa por mudanças na estrutura para atender melhor a operação. Além do serviço de transportes, a companhia opera também um delivery de comida, o 99Food, no Brasil.

“Para atender às necessidades dos nossos usuários e do nosso negócio, que evoluem rapidamente, tivemos que tomar algumas decisões difíceis sobre o modelo operacional e a estrutura do nosso departamento de relacionamento com o cliente, com foco em maior escala e maior flexibilidade. Isso envolveu uma readequação do nosso time interno, ao passo em que ampliamos nosso escopo com os atuais parceiros”, explicou a empresa em nota.

99 cortou cerca de 100 trabalhadores na última semana  Foto: JF Diorio/Estadão


Segundo apurou a reportagem, a área de relacionamento serve como um grande guarda-chuvas para diferentes áreas da empresa, como segurança, delivery e mídias sociais. Ao Estadão, a 99 afirmou que não houve demissões na 99Food.

No pacote de cortes, ex-colaboradores afirmaram que a companhia ofereceu um terço do salário como rescisão de contrato e plano de saúde até o final do mês. É um modelo mais modesto do que feito por outras startups brasileiras em 2022.

Ano difícil da Didi Chuxing

Os cortes na 99 são mais um capítulo no ano difícil da Didi Chuxing, empresa chinesa que controla a 99. A companhia tem enfrentado dificuldades de crescimento no mundo, após enfrentar problemas regulatórios com o governo chinês.

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Em julho, autoridades do país declararam uma possível multa no valor de US$ 1 bilhão, após uma investigação nas suas práticas de cibersegurança. Antes disso, a plataforma da empresa foi removida das lojas de app no país. Os prejuízos da disputa afetaram toda a cadeia de operação da empresa ao redor do mundo.

Em fevereiro deste ano, a Forbes reportou que a Didi planejava cortar, ainda naquele mês, 20% de seus funcionários — a publicação estimou que isso era equivalente a 3 mil pessoas apenas no mercado chinês. Não é possível saber, porém, se os cortes no Brasil são parte de um plano global da Didi.

Inverno das startups

Desde o mês de abril, startups brasileiras e estrangeiras com operações no País vêm experimentando um cenário adverso em relação a investimentos. A situação é resultado da crise global macroeconômica pós-covid-19 e é agravada pela guerra na Ucrânia.

Recentemente, as startups Alice, Provi, Zenklub, Sanar, Sami, Zak, Frubana, Zenklub, Nomad e LivUp também já realizaram cortes, junto com os unicórnios Kavak, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, Olist, Mercado Bitcoin, Ebanx, iFood e Loggi. A mexicana Kavak, startup mais valiosa da América Latina, enxugou cerca de 300 trabalhadores de suas operações em São Paulo e no Rio de Janeiro.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups e empresas listadas em Bolsa.

Fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador. O investidor Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano devido aos maus resultados das empresas nas quais investe — as informações são do jornal Financial Times.

Além do SoftBank, a aceleradora Y Combinator, uma das mais conhecidas no Vale do Silício, recomendou que as startups reavaliassem suas finanças e que ficassem prontos para cortar gastos. A medida, de acordo com a aceleradora, é uma forma de prever até 24 meses sem investimentos. “Crises econômicas geralmente se tornam grandes oportunidades para os fundadores que mudam rapidamente sua mentalidade, planejam com antecedência e garantem que sua empresa sobreviva”, afirmou a gestora na carta.

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