Facilitar o trabalho de divulgação e penetração dos games brasileiros no mercado internacional. Essa é uma das principais missões da B9 Corp, publisher de games com capital 100% nacional que iniciou suas operações recentemente e promete trabalhar em prol dos desenvolvedores de jogos brasileiros. A empresa reúne empresários e investidores, bem como o apoio da Acigames, e surgiu com a ideia de oferecer uma solução completa para a publicação: desde a distribuição até a promoção das criações nacionais. O Modo Arcade conversou com Mario Aguilar, business developer da B9 Corp, sobre os planos de atuação de empresa, como ela vai ajudar os game designers do País e como pretende mudar o atual cenário. Veja abaixo a conversa e a primeira apresentação pública da companhia, feita na Campus Party 2014.
MODO ARCADE: Quem está por trás da B9 Corp?
MARIO AGUILAR: Temos profissionais de diversas áreas, pois temos que abraçar um grande número de diferentes expertises para que possamos oferecer ações globais para nossos clientes. Fazem parte do quadro de parceiros e mentores da empresa ex-presidentes de empresas privadas, gestores de fundos de investimentos com passagens em importantes bancos internacionais, executivos de multinacionais da área de software, a Associação Comercial, Industrial e Cultural de Videogames do Brasil (Acigames), profissionais da área de tecnologia da informação e desenvolvedores.
MODO ARCADE: A empresa é brasileira, certo? Porque a sede, então, é na Flórida (EUA)?
MARIO AGUILAR: A empresa tem capital 100% brasileiro. Ela tem uma pessoa jurídica aqui no Brasil, com seu respectivo CNPJ, e uma nos Estados Unidos. Mas não estamos nos considerando a primeira publicadora de jogos do Brasil, e sim trazendo um novo conceito e um novo projeto ao mercado brasileiro de desenvolvedores. A escolha de estarmos nos Estados Unidos é para um favorecimento no momento de distribuição internacional.
MODO ARCADE: Como surgiu a ideia de criar um empreendimento desse tipo especializadono Brasil?
MARIO AGUILAR: Surgiu da identificação da demanda do mercado. Temos excelentes desenvolvedores, designers, ilustradores e sonoplastas que atuam no mercado brasileiro de aplicativos e games, todos extremamente criativos e que trabalham com paixão. Infelizmente sabemos que para a confecção de um game há diversos outros pontos a se considerar, como análise de viabilidade (técnica, comercial e de potencial), elaboração de um plano de negócios e planilhas financeiras que possam demonstrar receitas futuras, estratégias de marketing para uma campanha de lançamento, projeções de como penetrar e se localizar em outros países. Sabemos também que a realidade dos desenvolvedores brasileiros é complicada e que na maioria das vezes não há recursos sequer para a manutenção da equipe, quanto mais para a contratação de serviços importantes que auxiliem no processo de profissionalização e comercialização do produto. Por isso tivemos a ideia de nos apresentarmos e nos disponibilizarmos como prestadores desses serviços em torno do desenvolvimento de games.
MODO ARCADE: Qual será o papel da empresa?
MARIO AGUILAR: A proposta concreta da B9 Corp é oferecer essa "cross solution" para os desenvolvedores brasileiros, seja apenas com ideias, projetos iniciados ou até mesmo games já finalizados. Uma vez que identificamos as necessidades de cada projeto, acionamos o lado de facilitadora da empresa, que busca suprir essas necessidades, incluindo também aportes de capital de risco através de capital próprio ou de parceiros de investimentos.
MODO ARCADE: Quais são esses serviços oferecidos?
MARIO AGUILAR: A B9 Corp vai oferecer justamente o que está ao redor do game feito pelos desenvolvedores para que ele se torne um produto inovador e com enorme potencial. Os serviços ofertados são diversos e dependem do estágio de cada projeto. Desenvolvedores com a ideia apenas no papel necessitarão de uma gama maior de serviços, passando por estágios como incubação, aceleração e distribuição. Os estágios são análise da ideia, em que discutimos o projeto com seus criadores; analisa da viabilidade, quando avaliamos se é necessário adotar novas ferramentas de acordo com a capacidade do projeto; definição comercial, em que discutimos a monetização; e estratégia de distribuição.
MODO ARCADE: Desenvolvedores estrangeiros também serão atendidos?
MARIO AGUILAR: Não. Há talento de sobra por aqui!
MODO ARCADE: Segundo informações do site da empresa, ela vai trabalhar com "webs, redes sociais ou aplicativos móveis". Plataformas como consoles ou PC não estão nos planos?
MARIO AGUILAR: Não trabalharemos exclusivamente com plataformas móveis. A única diferença é que consoles, jogos multiusuários e para computadores demandam um estudo de viabilidade ligeiramente diferenciado e seus investimentos normalmente têm cifras mais elevadas, mas isso não quer dizer que não iremos receber ou analisar estes projetos.
MODO ARCADE: Entre os serviços prestados estão o licenciamento e a distribuição internacional. O que isso quer dizer?
MARIO AGUILAR: Existem diversos projetos que têm grande potencial se lançados e explorados em outros continentes. Basta verificarmos o valor médio adquirido de aplicativos móveis por parte dos brasileiros - geramos um enorme volume de downloads, mas com valor baixo de aquisição. Em países asiáticos como Coréia do Sul, Japão e Tailândia, o volume de gasto médio por usuário é no mínimo oito vezes maior do que o nosso. Analisaremos com cada parceiro os melhores mercados para se localizar e lançar os produtos.
MODO ARCADE: Como vai funcionar esse licenciamento? A B9 vai ter os direitos do jogo e ficar com parte da receita?
MARIO AGUILAR: A B9 Corp trabalhará com percentuais em cada projeto. Não existe uma tabela fixa e cada projeto é tratado como único. É óbvio haverá que um porcentual maior para projetos ainda em fase inicial em relação aos projetos já finalizados, devido ao envolvimento de uma quantidade maior de profissionais. Mas a matemática é muito simples e cabe ao desenvolvedor escolher a porcentagem. Os direitos da propriedade intelectual permanecem com seu idealizador e desenvolvedor e a B9 Corp fica apenas com o direto de comercialização por um período estipulado de tempo, ficando totalmente facultativo à produtora optar pela continuidade ou pela interrupção dos serviços prestados ao término desse período.
MODO ARCADE: Haverá uma equipe de desenvolvimento de games?
MARIO AGUILAR: Em hipótese alguma! A B9 Corp nunca será uma desenvolvedora, não entrará em concorrência com seus parceiros e clientes e não prestará serviços para terceiros no setor de desenvolvimento. Achamos muito mais prudente procurarmos estúdios e produtoras para desenvolverem os projetos, evitando uma morosidade que ocorreria caso uma nova equipe precisasse ser formada, integrada, treinada e capacitada.
MODO ARCADE: Existe alguma empresa que oferece serviços semelhantes aqui no Brasil, ainda que não seja 100% brasileira?
MARIO AGUILAR: Com este modelo de negócios que estamos apresentando ao mercado, não.
MODO ARCADE: Dá para publicar jogos nas redes sociais e no mobile, por exemplo, sem uma publisher. O que o trabalho da B9 faria de diferente numa questão dessa?
MARIO AGUILAR: Hoje, quando um jogo é publicado de forma independente, que alcance ele tem? Quanto sobra de dinheiro para aplicar em campanhas de marketing? Um bom projeto merece uma boa quantia aplicada em marketing, o que favorece e muito a possibilidade maior de sucesso - e maiores receitas. Esse é o diferencial do nosso serviço.
MODO ARCADE: Já há algum projeto em andamento? Qual?
MARIO AGUILAR: Sim, no total são cinco. Dois jogos móveis (um de espaçonave e outro de voleibol), dois aplicativos profissionais para empresas prestadoras de serviços (um na área de logística e outro na área jurídica) e um quinto projeto que será divulgado em breve.
MODO ARCADE: Quais são as expectativas para esse primeiro ano de atuação?
MARIO AGUILAR: Falando em números, queremos ter ao menos dez produtos publicados com abrangência internacional (no mínimo em oito países distintos). Mas de forma geral, nossos principais objetivos são auxiliar o mercado a ser visto com maior credibilidade e profissionalismo, fazer com que os games sejam reconhecidos como um grande segmento da indústria, comércio e serviço, aproximar mais investidores deste mercado, que atualmente temem colocar seus investimentos em "joguinhos".
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