Os educadores da internet

Eles não são profissionais, mas usam seu conhecimento para ajudar na educação de milhares de pessoas

PUBLICIDADE

Por Redação Link
Atualização:

Laís Cattassini

SÃO PAULO – O engenheiro César Medeiros, de 38 anos, até queria ter se tornado professor. “Mas professor sofre bullying na sala de aula”, diz. Conhecido pelo apelido Nerckie, César encontrou uma solução para realizar sua vontade de ensinar: passou a dar aulas pela internet, por meio de vídeos que ele faz em sua casa, na zona sul de São Paulo, em um estúdio montado no escritório.

 

PUBLICIDADE

Os vídeos são publicados no canal Vestibulândia, no YouTube, com mais de 130 mil usuários inscritos, e César dá aulas de matemática com o conteúdo que costuma cair nos vestibulares.

As aulas têm entre 9 e 15 minutos e os vídeos são divididos em cursos e programas de estudo, preparados com a ajuda de livros e pesquisa. “Leio sobre o assunto que quero abordar, resumo, listo os pontos importantes e crio a aula, apresentando a teoria e exercícios”, diz.

Ele não é o único que usa seu conhecimento para educar, informalmente, milhares de pessoas por meio de vídeos. Canais norte-americanos como o CGP Grey e Khan Academy – cujo fundador Salman Khan esteve no Brasil esta semana – também se especializaram em criar conteúdo educativo para complementar as aulas nas escolas e até desafiar o ensino convencional.

Karl Wendt, um dos colaboradores da Khan Academy, diz que a internet tornou a educação mais acessível. “O acesso à informação é muito diferente hoje. Isso mudou a questão do porquê educamos”, diz Karl, que, em seus vídeos, ensina a construir eletrônicos. Além dele, há uma longa lista de colaboradores que dão aulas desde aritmética à computação gráfica.

Salman Khan, criador do canal no YouTube que virou um sistema de ensino, começou fazendo aulas em vídeo para uma sobrinha, mas percebeu o potencial de ampliar o alcance pela rede. “A internet pode tornar a educação muito mais acessível, de forma que o conhecimento e a oportunidade de aprender sejam compartilhados mais amplamente”, escreve Khan no livro Um Mundo, Uma Escola – A Educação Reinventada (Ed. Intrínseca).

Publicidade

A visão dele é compartilhada por C.G.P Grey, dono do canal CGPGrey. “É apenas uma questão de tempo até que a internet, ao lado de alguma outra tecnologia, se torne uma professora melhor do que qualquer humano.”

Mas a internet realmente pode substituir a escola formal? Para a professora de tecnologia na educação da PUC-SP Maria Elizabeth de Almeida, as video-aulas são um material de apoio interessante. “Uma aula em vídeo não é equivalente a uma comum, pois tem todo um processo interativo e comunicativo a que o aluno também está sujeito.”

A falta de interação é um problema relatado por César Medeiros. “Na sala, há a possibilidade de interagir, fazer correções, tirar dúvidas.” Mas mesmo isso está sendo solucionado. A ferramenta hangout do YouTube permite que professores façam transmissões ao vivo com a participação de espectadores. “Hoje é possível interagir e tirar dúvidas”, diz Bibiana Leite, gerente de parcerias do YouTube para a América Latina. Para garantir a qualidade, o YouTube tem buscado parcerias com os canais de educação, incentivando os criadores mais talentosos.

Porém, há coisas que a internet não faz pelo aluno. Segundo Maria Elizabeth Almeida, a figura de um tutor é essencial para o público mais jovem e ajuda a formalizar o que foi apresentado em vídeos e a garantir a interpretação correta das aulas. “Se o aluno for um adulto com autonomia, a autoaprendizagem dos vídeos pode ser suficiente. Já com crianças há mais o que fazer.”

De qualquer maneira, a tecnologia passou a moldar o futuro das escolas. “A tecnologia não deve ser temida, mas abraçada, permitindo que professores ensinem melhor e que a sala de aula se torne um espaço de colaboração e não de passividade”, escreve Salman Khan.

Participe da enquete:

A internet pode substituir a escola formal?

Publicidade

—-Leia mais:‘Brasil será exemplo de educação’, aposta Khan • Rede de ensino • Link no papel – 21/01/2013

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.