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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Goldman Sachs quer atropelar fintechs

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

O mercado de crédito norte-americano gira cerca de U$12 trilhões por ano. Deste total, cerca de 75% vão para o crédito imobiliário, U$1 trilhão vão para o financiamento de automóveis, U$1 trilhão vão para o crédito estudantil e outros U$1 trilhão vão para os chamados empréstimos sem garantia, principalmente aqueles que servem para saldar dívidas com cartões de crédito.

Este último segmento tem sido alvo de muitas fintechs de lending peer-to-peer, aquelas que emprestam diretamente de uma pessoa para outra. Neste tipo de operação, aqueles que emprestam dinheiro conseguem um retorno maior do que os investimentos oferecidos pelos bancos, enquanto que os que tomam dinheiro emprestado pagam uma taxa de juros inferior à que os bancos cobram. Assim, ambos são beneficiados e o banco acaba sendo desintermediado.
Diante das regulamentações impostas após a crise de 2008 e de um mercado cada vez mais difícil, o Goldman Sachs resolveu apostar em novas fontes de receita. Historicamente focado no mercado corporativo, governos e famílias com grandes fortunas, em abril deste ano, o tradicional Banco de Investimentos surpreendeu o mercado criando o GS Bank, um banco digital para o Varejo. E, na semana passada, anunciou a criação da Marcus, uma plataforma digital para empréstimos sem garantia, que competirá diretamente com Lending Club, Prosper, Funding Circle, Upstart, entre outros.
O nome Marcus homenageia um dos fundadores da instituição, Marcus Goldman, que há 147 anos atrás pregava a importância do banco ser centrado no cliente, ser inovador e ter excelência na execução de suas operações. Os mesmos valores estão presentes na nova plataforma, que tem como diretor geral Harit Talwar, um executivo especialmente contratado para o desafio, com 30 anos de experiência no mercado de crédito pessoal. A iniciativa é tratada como uma startup, apartada da operação principal. Cerca de 60% dos funcionários foram contratados no mercado, pois o banco não tinha os perfis necessários para o empreendimento.
Segundo Talwar, a Marcus terá algumas vantagens em relação às fintechs com as quais vai competir no mercado. Em primeiro lugar, a Marcus tem um banco por trás, com seu próprio funding, não dependendo de investidores externos, o que pode limitar a atuação das fintechs; outro ponto é que a gestão de risco está no DNA da empresa, não é uma expertise a ser desenvolvida. Em relação ao produto, na Marcus não haverá qualquer taxa, a única coisa que o cliente paga são os juros. Não há taxas para cadastro, pré-pagamento, seguros, ou outras taxas escondidas. Além disso, o cliente é que vai definir o prazo em que quer pagar, podendo ser 23 ou 31 meses, por exemplo, e não prazos pré-estabelecidos como 12, 24, 36 e 60 meses. Outro ponto interessante, ressaltado por Talwar, é que ao ligar para o Call Center, o cliente será imediatamente atendido por uma pessoa. Não terá URA, dizendo digite 1 para falar sobre um assunto, 2 para outro e assim por diante. Segundo ele, clientes que usam intensivamente a tecnologia, quando ligam para uma central de atendimento, não querem ser atendidos por máquinas, mas por pessoas reais.
O Goldman Sachs diz que a Marcus não pretende ser um player dominante deste mercado. Segundo o banco, o mercado é muito grande e comporta diversos tipos de soluções diferentes. É uma postura diferente da que se esperaria do poderoso banco e um indicativo muito interessante de como os incumbentes podem usar suas fortalezas para se proteger das ameaças impostas pelas startups. O primeiro passo é estar aberto para repensar seus modelos de negócios.

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