Brasil perde 38% da vegetação nativa

Devastação foi 4 vezes maior fora da Amazônia, mostra levantamento do IBGE; só restam 12% da Mata Atlântica, bioma mais afetado

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Por Luciana Nunes Leal , Vinicius Neder e RIO
Atualização:

Cerca de 38% da vegetação nativa do País já desapareceu. E, com as preocupações voltadas para a Amazônia, onde está reunida a maior biodiversidade do planeta, pouca atenção foi dada ao resto do território brasileiro, que já perdeu 59% da vegetação nativa. O saldo da devastação foi calculado pelo Estadão Dados, com base em estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A proporção da devastação do Brasil não amazônico é quatro vezes maior que a destruição da Amazônia, onde 15% foram desmatados. Do território que reúne Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal, foi devastada uma área equivalente às Regiões Nordeste e Sudeste juntas.Nos Indicadores do Desenvolvimento Sustentável 2012, o IBGE aponta pela primeira vez o retrato do desmatamento em todos os biomas fora da Amazônia.Há 20 anos, sem conseguir água para irrigar a roça de feijão, milho e abóbora, o agricultor Benedito Mendes, de 50 anos, estava na iminência de vender o sítio na zona rural de Ribeirão Grande, a 239 km de São Paulo. O pequeno manancial existente na área secou depois que a cobertura vegetal de Mata Atlântica que o protegia desapareceu.Os indicadores do IBGE revelam que estão preservados apenas 12% da área original da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do País. A área destruída chega a 1,13 milhão de km², quase o Estado do Pará e mais que toda a Região Sudeste.Por ser o bioma mais devastado, a Mata Atlântica também tem o maior número de espécies da fauna extintas ou ameaçadas de extinção: cerca de 260. No total, o IBGE apontou nove espécies que já desapareceram.O bioma presta serviços ambientais importantes para várias cidades populosas, como Rio e São Paulo, e sua devastação multiplica dramas como o do agricultor Mendes.Nos anos 1990, ele aderiu ao programa estadual de microbacias e recuperou a nascente e recompôs a reserva legal. A atitude sustentável fez com que a família fosse incluída no programa de aquisição de alimentos do governo federal. Também passaram a fornecer para a merenda escolar. Agora, para manter o comprador, Mendes se esmera em respeitar o meio ambiente.Ameaçado pela expansão agropecuária e queimadas, o Cerrado, segundo maior bioma do País, chegou em 2010 a 49% de desmatamento acumulado. Na pesquisa divulgada há dois anos, o IBGE havia apontado devastação de 48% do Cerrado. Em dois anos, foram desmatados 52,3 mil km² - o equivalente ao Rio Grande do Norte. Embora o ritmo de desmatamento da Amazônia Legal - área que inclui, além da floresta amazônica, trechos de Cerrado - venha diminuindo ano a ano desde 2008, a perda de vegetação original chegou a 15% do território em 2011. Desde a Eco-92, uma área equivalente ao Chile foi desmatada. Nos últimos dois anos, se perdeu uma cidade de Manaus em vegetação nativa.Grande parte da queda no ritmo do desmatamento da Amazônia, segundo o IBGE, é explicada pela redução de queimadas e focos de incêndio na região, que caíram de 104.122 ocorrências em 2000 para 61.687 em 2011. Ministro do Meio Ambiente na época da Eco-92, José Goldemberg discorda. "Não se sabe se a queda é por causa de medidas efetivas do governo ou à pouca demanda internacional. Com a crise econômica, as pessoas estão comprando menos carne, menos soja", afirma. "O desmatamento da Amazônia, que caiu, ainda é muito alto. São 5 mil km² por ano. É desmatamento para danar." / COLABORARAMJOSÉ ROBERTO DE TOLEDO,AMANDA ROSSI, TCHA-TCHO EJOSÉ MARIA TOMAZELA,

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