Milho verde na bandeja vale mais

Em vez de vender a espiga com palha em sacos de 20 quilos, produtores lavam o milho e vendem a bandeja

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

Produtores de milho verde de Capela do Alto, na região de Sorocaba, sudoeste paulista, já não se limitam às práticas que permitem o cultivo o ano todo. Além de usar variedades do tipo longa vida para dar mais durabilidade às espigas após a colheita, eles processam e embalam a produção para atender às grandes redes de supermercados.   Assim, em vez de vender em toneladas ou em sacas de 20 quilos para entrepostos como a Ceagesp, na capital, alguns produtores já contabilizam a venda por unidade colhida e lucram mais. Eles montaram estruturas sofisticadas para processar e embalar as espigas, que descansam em câmaras frias para permanecer frescas. O agricultor João Siqueira, proprietário do Sítio Capuava, no bairro Guarapiranga, zona rural do município, não vende milho verde na palha. Toda a produção obtida em 170 hectares - destes, 50 são arrendados - vai para o packing house que ele instalou na propriedade, com os sócios José Márcio Fernandes da Silva e Eliezer Carriel. Ali as espigas são descascadas, classificadas e embaladas. Tudo informatizado Na linha de produção, cerca de 15 mulheres usando máscaras cirúrgicas fazem a limpeza das espigas e as colocam em bandejas de isopor. Todo o processo é informatizado. Os pedidos que chegam pela internet são analisados pela funcionária Priscila Fidêncio da Rosa e repassados para a produção.   Veja também: Capela do Alto retoma produção Se o estoque de milho colhido durante a madrugada fica baixo, a equipe de campo é acionada. São as turmas que fazem a colheita manual das espigas na roça. Não se usa máquina para isso. "É preciso prática e jeito para colher a espiga sem ferir o milho", diz o colhedor João Fernando Wincler que, em um único dia, já chegou a colher 3.600 quilos. A empresa está no mercado há dois anos e já produz 4.500 bandejas/dia. "Temos demanda para dobrar, quem sabe até triplicar, a produção", diz. Com a câmara de refrigeração, ele pode atender com rapidez aos pedidos. A vantagem é o valor que se agrega ao milho processado. Na palha, uma saca com 20 quilos - de 40 a 50 espigas - era vendida na semana passada por R$ 7. Nas bandejas, a mesma quantidade de milho rendia R$ 30. A palha retirada das espigas é vendida como alimento para o gado. O engenheiro agrônomo Antônio Roberto Vieira de Campos, da Casa da Agricultura de Capela do Alto, diz que o número de produtores que processam e embalam a produção de milho verde ainda é pequeno, mas tende a crescer. Ele realiza dias de campo para repassar as técnicas aos interessados. "Com um pouco mais de trabalho e algum investimento, o produtor consegue agregar um valor significativo à produção."   Variedade doce ganha mercado   Usado tradicionalmente na fabricação de conservas, o milho verde doce ganhou nova aplicação em Capela do Alto. Uma variedade desenvolvida por uma multinacional do setor de sementes resultou num produto que pode ser cozido ou consumido in natura. A empresa fez parceria com João Siqueira e seus sócios para produção em escala comercial. "É um milho desenvolvido especialmente para o consumo na espiga, cozido ou cru", explica. O milho verde, que produz a polpa leitosa com a qual se fazem muitas iguarias, também pode ser consumido na espiga, cozido. A doce, embora não seja rica em amido, portanto com pouca aptidão para doces e bolos, tem consistência macia e sabor adocicado. Seu cozimento é rápido: na água fervente, fica pronta em 12 minutos. O produto caiu nas graças do consumidor. "Vendemos tudo e, se tivesse mais, também iria embora." Siqueira explica que a lavoura é mais exigente. "Não produz sem irrigação, precisa adubar bem e pulverizar com mais frequência por causa das lagartas", diz. "Não é qualquer terra que dá esse milho." Ele precisou instalar irrigação com propulsão automática. Com a irrigação, o milho doce também pode ser cultivado o ano todo.

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