Moradores tentam tirar índios de praia em Niterói-RJ

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Moradores de Camboinhas, um dos endereços mais valorizados de Niterói, estão se mobilizando para se livrar de seus mais novos vizinhos: 38 índios guarani que se mudaram para uma área de sambaquis (cemitérios indígenas) à beira da praia. A Sociedade Pró Preservação Urbanística e Ecológica de Camboinhas (Soprecam) encaminhou ofício ao Ministério Público Federal, questionando a propriedade da terra. E alega que os indígenas estão destruindo área de restinga, de preservação ambiental. A associação de moradores reclama que os índios têm nadado nus e alega que eles são aculturados, e portanto não haveria justificativa para que vivessem numa aldeia. "Eles têm laptop, mandam e-mail, têm até carro. E estão transformando ali num camelódromo de artesanato. O desespero dos moradores de Camboinhas é que a praia vire um camelódromo", alega a advogada da Soprecam, Adriana Alves da Cunha e Souza. Os índios negam essa versão. Eles se instalaram ali como forma de preservar a área de sambaquis. "Ali tem cinco cemitérios e já havia autorização da prefeitura para construção de um condomínio. Há cinco anos fazemos manifestações ali contra esse empreendimento. E então, sugerimos ao IEF (Instituto Estadual de Florestas) um projeto para proteção ambiental com manejo indígena. Estamos negociando", afirmou o advogado Arão da Providência Araújo Filho, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) e ele próprio um índio guajajara. "Acho que o discurso da Soprecam é o da intolerância, da discriminação. Somente as crianças nadam nuas. Queremos ter laptop, televisão, que nossas crianças tenham acesso à informação como as crianças brancas, mas sem perder nossa cultura. A cultura originária incomoda? Então será necessário falar claro e partir para o extermínio, porque somos urbanos agora", afirmou Araújo Filho. Escola Os guarani chegaram no fim de março e ergueram quatro ocas e uma escola, onde as crianças aprendem guarani, português e matemática. Deixaram Paraty, no litoral sul fluminense, depois de uma disputa étnica e fugindo de dificuldades financeiras. O Ministério Público Federal informou que abriu procedimento para investigar a denúncia da Soprecam. Uma arqueóloga está preparando relatório sobre a presença indígena na região. Em nota, a assessoria de Imprensa do IEF informou que a legislação não permite a presença de moradores em unidades de conservação - os índios estão na área do Parque Estadual da Serra da Tiririca. "Pretende-se um acordo para que haja uma desocupação pacífica e consensual", informou o texto. A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que não recebeu nenhum pedido para que a região seja reconhecida como terra indígena.

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