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Notas de Pedro II viram patrimônio

Registros das viagens do imperador brasileiro são reconhecidos pela Unesco e devem ser digitalizados e publicados até 2013

Por Clarissa Thomé
Atualização:

O conjunto de documentos das viagens de d. Pedro II foi reconhecido como patrimônio da Memória do Mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (Unesco).

 

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Fazem parte desse acervo as 43 cadernetas com anotações de viagem do imperador, roteiros preparados por ele e 67 desenhos de paisagens feitos de próprio punho, além de jornais internacionais, relatórios de despesa e correspondências.

 

Todo esse material - 870 itens - será agora digitalizado. O Museu Imperial, responsável pelo acervo, pretende publicá-lo até 2013. E prepara ainda um catálogo e uma exposição.

 

Pedro II viajou do Norte ao Sul do Brasil e fez três grandes viagens internacionais: em 1871, para Europa e Oriente Médio; em 1876, para Estados Unidos, Europa e África; e, em 1888, para a Europa. Um ano depois desta terceira viagem, voltou à Europa, onde se exilou depois da proclamação da República.

 

Os moleskines - cadernos de uma famosa marca italiana - do imperador guardam não apenas impressões sobre os locais que conheceu, como a reprodução de monumentos, a descrição dos povos, desenhos dos tipos que encontrava, exemplares de plantas. "Ele faz um verdadeiro trabalho etnográfico, tinha uma preocupação grande em registrar o que via", diz Neibe Machado da Costa, responsável pelo Arquivo Histórico do Museu Imperial.

 

Exemplo disso é o pequeno dicionário que compilou a partir do encontro com índios puris, no Espírito Santo. Ao visitar os Estados Unidos, em 1876, onde abriu a Exposição Internacional da Filadélfia, em comemoração ao centenário de independência daquele país, descreveu a empolgação com o funcionamento de um gerador, que levava energia aos equipamentos expostos. Foi ali que encontrou Graham Bell e se surpreendeu com a invenção deste, o telefone.

 

Novos elementos. "Essas impressões de viagens são pesquisadas desde a década de 1940", afirma o diretor do Museu Imperial, Maurício Vicente Ferreira Júnior. "Em 1999, a historiadora Begonha Bediaga publicou O Diário do Imperador D. Pedro II, a partir das cadernetas, mas a edição está esgotada. Queremos reeditar os diários e incorporar novos elementos, como as correspondências e itinerários de viagem", completa.

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A partir da escolha do acervo para integrar o Programa Memória do Mundo, Ferreira Júnior vai começar a captação de recursos para restaurar parte dos documentos, traduzir as cadernetas (muitos trechos estão em francês) e rever transcrições. "Queremos fazer uma publicação definitiva", avisa.

 

Os 870 documentos serão ainda escaneados e integrarão o Projeto Dami, que prevê a digitalização, em cerca de dez anos, de todos os 250 mil documentos, 55 mil livros e 7 mil objetos que compõem o acervo do Museu Imperial.

 

PARA ENTENDER

 

O Programa Memória do Mundo, criado em 1992, tem o objetivo de proteger documentos de valor histórico. Os detentores do acervo preparam um dossiê, ressaltando a importância do material como patrimônio mundial, inscrevem-se no programa e aguardam a decisão da Unesco. A instituição que tem seus documentos nominados patrimônio da Memória do Mundo se compromete a protegê-los e torná-los acessíveis ao público.

 

A Carta de Pero Vaz de Caminha foi o primeiro documento em língua portuguesa a ser inscrito no Memória do Mundo. Também receberam o título a Lei Áurea e o arquivo Oscar Niemeyer.

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