Oposição despreza concessão de presidente egípcio

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Por ALISTAIR LYON E TAMIM ELYAN
Atualização:

A concessão oferecida pelo presidente do Egito, Mohamed Mursi, não conseguiu aplacar o ânimo da oposição, que o acusou neste domingo de mergulhar o país em uma crise ainda maior ao se recusar a adiar a votação sobre uma Constituição preparada pelos islamistas. Os islamistas dizem ver o referendo como uma maneira de selar uma transição democrática que começou quando uma revolta popular derrubou Hosni Mubarak há 22 meses, depois de três décadas de um governo de um homem só apoiado pelos militares. Seus adversários, cristãos, liberais e esquerdistas, dizem que o documento preparado às pressas para ser votado pode ameaçar as liberdades e não vai contemplar a diversidade da população de 83 milhões de egípcios. Mais protestos foram programados perto do palácio de Mursi, apesar dos tanques, cercas de arame farpado e outras barreiras instaladas na semana passada, depois que confrontos entre islâmicos e seus rivais mataram sete pessoas. Mursi cedeu ao cancelar um decreto muito contestado que dava a ele poderes extras e protegia suas decisões de possíveis revisões judiciais. Mas o presidente insistiu em seguir adiante com o referendo constitucional no próximo sábado, e a Irmandade Muçulmana, de onde ele saiu, exortou a oposição a aceitar o resultado das urnas. Ahmed Said, um líder liberal do principal partido da oposição, Frente de Salvação Nacional, descreveu a corrida para o referendo como "chocante" e um "ato de guerra" contra os egípcios. O Egito está dividido entre os islamistas, que foram reprimidos durante décadas, e seus rivais, que temem que os religiosos conservadores calem as outras vozes e restrinjam as liberdades sociais. Muitos egípcios sonham com a estabilidade e recuperação econômica. O porta-voz da Irmandade, Mahmoud Ghozlan, disse que o cancelamento do decreto de Mursi havia acabado com qualquer motivo para controvérsia. "Pedimos aos outros para anunciar a sua aceitação do resultado do referendo", disse na página do grupo no Facebook, perguntando se a oposição vai aceitar "os princípios básicos da democracia". O cancelamento do decreto de Mursi de 22 de novembro, anunciado por volta de meia noite após um "diálogo nacional" boicotado por quase todos os críticos do presidente, não serviu para diminuir os desentendimentos políticos. O primeiro-ministro, Hisham Kandil, um tecnocrata com tendências islâmicas, disse que o referendo seria a melhor pesquisa de opinião. "É o povo que faz o futuro, desde que tenha liberdade de recorrer às urnas para uma votação democrática, livre e justa," disse ele em um comunicado.

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