Os partidos de oposição ao governo se articulam no Congresso para ouvir os servidores federais que estão sendo investigados pela operação Porto Seguro, da Polícia Federal, mesmo após a determinação da presidente Dilma Rousseff para exonerar e afastar os envolvidos. A operação Porto Seguro foi deflagrada na sexta-feira e investiga o envolvimento de servidores do Executivo e de agências reguladoras num esquema que obtinha pareceres técnicos fraudulentos que eram vendidos para empresas interessadas. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em órgãos do governo federal e inclusive no escritório da Presidência da República em São Paulo e deteve três pessoas. Também foram indiciadas 18 pessoas, entre elas a chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Novoa de Noronha, e o advogado-geral adjunto da União, José Weber de Holanda Alves. Os dois foram exonerados de suas funções pela presidente. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), pediu, nesta segunda-feira, ao diretor da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho, o compartilhamento do inquérito da operação com o Congresso e encaminhou requerimentos de convocação dos envolvidos no esquema para prestar explicações. Ele também quer que os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, sejam convocados para prestar explicações sobre a investigação da PF. "São setores que movimentam segmentos significativos (da economia), por isso temos que analisar todos os desdobramentos", disse o tucano à Reuters por telefone. Entre os órgãos que foram alvo das buscas da PF estão o Ministério da Educação, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O envolvimento do diretor de Infraestrutura da Anac, Rubens Carlos Vieira, leva Dias a colocar em suspeição as concessões dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas, em janeiro deste ano. "À época inclusive se contestou muito as empresas que ganharam, por não serem as mais credenciadas. Temos que saber qual influência isso teve sobre a privatização dos aeroportos", afirmou Dias. Os requerimentos do senador ainda terão que ser aprovados pelas comissões no Senado para que os investigados sejam ouvidos. Como o governo tem maioria no Congresso, é possível que os pedidos do tucano sejam rejeitados. Já o DEM ainda estuda qual a melhor estratégia para conseguir mais informações sobre a operação Porto Seguro e seus envolvidos. A assessoria do partido disse à Reuters que o núcleo jurídico está estudando se é melhor convocar os envolvidos ou seus superiores, já que os investigados podem rejeitar a convocação das comissões. A tendência, segundo a assessoria, é que até terça-feira seja fechada uma posição sobre a estratégia.