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Palestinos fazem megaconferência para atrair investimentos

Evento busca estimular economia hoje muito dependente de Israel.

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Por Rodrigo Durão Coelho

Apesar dos problemas internos e externos que enfrenta, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) deu início nesta quarta-feira a uma grande conferência para tentar atrair investimentos estrangeiros para a Cisjordânia. "Somos realistas, transparentes em relação a nossos problemas", afirmou à BBC Brasil, Samir Hasboun, presidente da Câmara de Comércio de Belém, a cidade bíblica onde está ocorrendo a conferência. "Mesmo assim, acreditamos que temos muito a oferecer. Uma grande quantidade de mão-de-obra especializada e economicamente competitiva, vários produtos feitos utilizando padrões europeus de qualidade e garantias de organizações internacionais a eventuais investidores", disse ele. "Queremos atrair investimentos especialmente no setor de construção, turismo e da indústria leve." Mais de cem projetos avaliados em US$ 2 bilhões deverão ser apresentados aos investidores que participam da conferência, que termina nesta sexta-feira. Vantagens A Autoridade Nacional Palestina ressalta o fato de que 65% de sua população tem menos de 25 anos de idade e apresenta bons níveis de educação (apenas 6,5% de analfabestismo). Segundo os organizadores, o déficit de moradias existente tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza é uma oportunidade para construtoras estrangeiras. O turismo é outra indústria que o evento busca estimular. A organização afirma que "os territórios contêm mais de 1,6 mil sítios arqueológicos" e que a região "é chave para as três principais religiões monoteístas". A ANP afirma ainda que os investidores contam com garantias externas. "Existe um fundo do Banco Mundial para os estrangeiros que investem aqui, além de um fundo de US$ 30 milhões do Japão", afirma Hasboun. Apoio internacional A conferência foi sugerida pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, em dezembro, em um encontro de governos doadores em Paris, como forma de incentivar a criação de um Estado palestino. O evento também conta com apoio americano. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Robert Kimmitt, é um dos cerca de 500 participantes, entre estrangeiros e palestinos. Empresas americanas como Cisco e Intel estão entre os patrocinadores da convenção. Também participam do evento o ministro do Exterior da França, Bernard Kouchner, e o ex-premiê britânico Tony Blair, atual representante do Quarteto (EUA, ONU, União Européia e Rússia) para o Oriente Médio. Obstáculos Os palestinos estão divididos física e politicamente. O Hamas controla a Faixa de Gaza e o Fatah, a Cisjordânia. Um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento da economia palestina na Cisjordânia são os mais de 500 postos de controle israelenses, que dificultam a circulação de pessoas e mercadorias. Eles foram construídos depois do início do segundo Levante palestino, ou Intifada, no ano 2000. Israel alega que os postos de controle são importantes para a segurança do país. O Banco Mundial afirma que até aquele ano a economia palestina se baseava em investimentos do setor privado, mas depois se tornou dependente de gastos governamentais e ajuda externa. Calcula-se que entre 1999 e 2002 as exportações palestinas diminuíram em 60% e as importações, mais de 40%. A taxa de desemprego foi calculada em mais de 20% em média, tanto em Gaza como na Cisjordânia, no ano de 2007. Os Estados Unidos elogiaram a decisão israelense de desativar alguns postos de controle da Cisjordânia na semana passada, mas disse que outros ainda precisam ser removidos. Diversificar Apesar da problemática relação, Israel é o maior parceiro comercial palestino. Mais de 70% das exportações e importações palestinas são feitas com os israelenses. Além disso, as mercadorias palestinas utilizam muito da infra-estrutura israelense para serem escoadas e alguns setores, como o energético, são completamente dependentes do país vizinho. Um dos objetivos da conferência, segundo Hasboun, é diminuir essa dependência. "A relação com Israel não é de cooperação, mas sim de dominação e esperamos que essa conferência seja um ponto de partida para cooperarmos com outros países e mercados", disse ele. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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