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Renasce em Minas o Virna Lisi, fruta temporã do som pós-punk

Banda, dissolvida havia 12 anos, se reúne especialmente para o Eletronika, em BH

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Virna Lisi é uma atriz italiana que um dia, lá pelos meados dos anos 1960, sonhou ocupar o vácuo deixado pela morte de Marilyn Monroe em Hollywood. Em 1990, seu nome batizou uma banda pós-punk temporã de Minas Gerais, que durou apenas três discos. O retorno da banda Virna Lisi hoje, 12 anos depois do fim, às 21 horas, como atração especial do festival Elektronica, em Belo Horizonte, pode ser saudado como a oportunidade de se descobrir o que resiste no som que não se vendeu. "Voltamos porque percebemos que o som está superatual, não parece marmita requentada", disse ao Estado o guitarrista Ronaldo Gino. "Por nunca ter sido uma banda comercial, o som não teve tanto desgaste. Nunca fizemos samba-rock, mas a música tem uma brasilidade grande, misturava elementos brasileiros. Então, a volta foi natural."Formada em 1989, o Virna lançou em esquema independente três álbuns: Esperar o Quê? (1992), O Que Diriam os Vizinhos? (1995) e Se Desce a Lona Vira Circo, se Cerca Vira Hospício (1996). Produzidos por Pena Schmidt, tinham pendores para letras concretistas, fato que Gino atribui às origens acadêmicas - os integrantes cursavam Arquitetura, Design, Artes Visuais e Comunicação.O primeiro disco, Esperar o Quê? (1992) foi gravado em duas madrugadas no antigo estúdio Vice Versa, em 1991, e saiu só em vinil. "É um álbum muito puro", define Gino. O último álbum, Se Desce a Lona (1996), já era mais sofisticado. Produzido por Tom Capone (morto em 2004 num acidente em Los Angeles), tinha participação de Dado Villa-Lobos.Surgido antes da onda que emplacou O Rappa, Planet Hemp, Nação Zumbi (bandas de origem independente apadrinhadas por majors do disco), o VL tem vários méritos. Ouvindo suas músicas que zanzam pelo YouTube, nota-se que faixas como Antes da Chuva parecem antecipar de alguma forma procedimentos do mangue beat, e Se Desce A Lona Vira Circo, de 1996, sugere grande sincronicidade com a segunda onda do punk rock, que viria a seguir.À exceção do guitarrista Marden Veloso, substituído por Henrique Matheus (do grupo Transmissor), a formação é a original: César Maurício (vocal), Gino (guitarra), Marcelo de Paula (baixo) e Luiz Lopes (bateria). "O Marden foi o único dos cinco que não levou a vida, depois do fim da banda, para o lado musical. Ele consolidou a carreira de arquiteto, vive em Montes Claros", explicou Gino.O retorno foi sendo articulado aos poucos, conta o guitarrista. Às vezes, um deles estava no show da banda do outro, e era convidado ao palco. No festival Garimpo, em setembro, ele e o vocalista César tocaram juntos. Depois, seu antigo empresário, hoje no festival Eletronika, resolveu sacramentar a ideia da reunião. Diferentemente da atriz, a banda Virna Lisi nunca sonhou ocupar o vácuo de ninguém, mas sua ausência, como poderemos conferir, foi uma lástima (ah, o grupo nunca foi molestado pela atriz italiana, hoje com 72 anos, pelo uso do nome).Em meio à euforia do show biz nacional, Belo Horizonte acolhe de hoje a domingo um dos mais respeitáveis eventos do gênero eletrônico do País: o Eletronika. Que tem como convidados internacionais Birdy Nam Nam, Anoraak, Minitel Rose e Rubin Steiner. Do Brasil, além do retorno do Virna Lisi, estão escalados Black Drawing Chalks (GO), Copacabana Club (PR) e Garotas Suecas (SP). Informações pelo fone (31) 2535-3858, ou pelo site www.festivaleletronika.com.br.

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