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Rumo aos EUA, papa diz que Igreja excluirá pedófilos

Antes de iniciar viagem, Bento 16 diz querer 'sanar ferida' provocada por escândalos.

Por Bruno Accorsi
Atualização:

O papa Bento 16 disse nesta terça-feira, pouco antes de embarcar para sua visita oficial aos Estados Unidos, que a Igreja vai excluir os padres envolvidos em escândalos sexuais. "Nós vamos excluir por completo pedófilos do Santo Ministério", afirmou Bento 16, ao responder a perguntas de repórteres a bordo do avião papal, em Roma, de onde seguiu para Washington. O tema de abusos sexuais cometidos por padres católicos poderá ofuscar os demais tópicos que o papa pretende tratar em sua visita oficial, que tem início nesta terça, em Washington, e termina no domingo, em Nova York. Os escândalos vieram à tona em 2002, na arquidiocesde de Boston. Mais tarde, surgiram denúncias semelhantes em diversas outras cidades americanas, muitas das quais datavam de décadas e que teriam sido acobertadas por reporesentantes do alto clero. Os escândalos causaram "grande sofrimento à Igreja nos Estados Unidos, à Igreja como um todo e a mim, pessoalmente", afirmou Bento 16. Vergonha "É difícil para mim entender como isso poderia acontecer", acrescentou o papa. "Como foi possível que padres traíssem desta maneira a sua missão para com as crianças." "Estou profundamente envergonhado, e faremos o possível para termos bons padres em vez de muitos padres", disse Bento 16. "Faremos o possível para sanar essa ferida." A Igreja gastou um total de US$ 2 bilhões em indenizações para as vítimas de abusos sexuais, mas muitos ativistas criticam o suposto acobertamento dos autores de crimes, que teriam sido transferidos para outras dioceses, em vez de denunciados de imediato. A visita do papa é a primeira de um sumo pontifíce aos Estados Unidos desde a eclosão dos escândalos, e a primeira de Bento 16 ao país desde o início de seu papado, em 2005. Condenação "tardia" Muitas vítimas de abuso afirmam que a condenação papal chega tarde demais. É o caso da ativista Barbara Blaine, que preside a entidade Rede de Sobreviventes das Vítimas de Abuso cometidos por Padres (Snap, na sigla em inglês). "O histórico do Santo Padre não tem sido bom", afirmou Blaine à BBC Brasil. "Ele soube da ação dos predadores e não tomou uma atitude." "Ele chefiou o setor responsável pela doutrina da Igreja, que recebeu denúncias de todo o mundo, mas eles fizeram pouco ou nada", acrescentou. A organização afirma que a omissão da Igreja nos Estados Unidos ainda perdura, pois teriam surgido novas acusações acobertadas por representantes da alta hierarquia católica. Mas muitos católicos não compartilham do ceticismo da ativista, como Ray Flynn, ex-embaixador americano no Vaticano que conhece Bento 16 desde o período em que ele era o cardeal Joseph Ratzinger, o principal ideólogo do Vaticano e o braço direito de João Paulo 2º. "Ele seguirá frisando a transparência e a necessidade de que bispos cooperem com autoridades", disse Flynn. "Ele é um rígido disciplinador." "No final das contas, é a lei moral que irá prevalecer", avalia o ex-embaixador. "Se fosse para dar um apelido, eu o chamaria de o 'papa antiacobertamento'. Ele é um linha-dura que fará o que for ao encontro do bem comum. " BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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