Sem pressões sobre preços, BC seguirá cortes de juro

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Por RENATO ANDRADE E VANESSA STELZER
Atualização:

A perspectiva de desaceleração econômica e inflação em ritmo decrescente garantiu ao Comitê de Política Monetária a retomada do ciclo de cortes do juro, mas as dúvidas ainda permanecem sobre o ritmo e o tamanho dos próximos passos do Banco Central. De acordo com a ata da primeira reunião do Copom de 2009, divulgada nesta quinta-feira, a forte desaceleração da economia e a ausência de repasse da depreciação cambial para os preços foram as principais razões por trás da decisão da semana passada, quando o comitê fez o primeiro corte do juro desde setembro de 2007, jogando a Selic para 12,75 por cento ao ano. Apesar de ter promovido o corte mais forte da taxa desde 2003, os diretores do BC deixaram claro que qualquer mudança no quadro de riscos inflacionários provocará alteração imediata na política monetária, mesmo considerando o espaço existente para um ciclo duradouro de cortes da taxa básica. "A política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, a despeito de haver margem para um processo de flexibilização", afirmaram os diretores do BC na ata. 75 OU 100? Analistas consultados pela Reuters após a divulgação da ata foram unânimes em dizer que o juro será reduzido mais uma vez em março, quando o Copom realiza sua segunda reunião do ano. Mas a unanimidade dá lugar à divisão quando o assunto é o tamanho do corte. "O mercado vai continuar dividido entre 0,75 e 1 ponto de corte na próxima reunião", disse Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB do Brasil. Uma das razões por trás da dúvida, segundo Padovani, foi a falta de explicações na ata sobre a afirmação feita pelo Copom quando anunciou o corte, ao dizer que "parte relevante" do ciclo de flexibilização já estaria sendo feito de imediato. A própria divisão dentro do comitê --dos oito integrantes, três defenderam uma redução de 75 pontos-base-- também contribui para as incertezas do mercado, uma vez que para esses diretores, o corte menor "corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação do processo de flexibilização". "Quando (o Copom) fala que o 0,75 ponto defendido pelos dissidentes seria uma velocidade ótima, cria o sentimento de que um corte de 0,75 ponto seria o objetivo para as próximas reuniões", afirmou Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. No mercado de juros futuros os contratos mais negociados não sofreram grandes alterações após a divulgação da ata. O contrato para janeiro de 2010, tradicionalmente o mais negociado e que indica a expectativa para a taxa Selic ao final de 2009, variou boa parte da sessão em torno de 11,23 por cento, mesmo patamar de fechamento da quarta-feira. DESACELERAÇÃO AJUDA A desaceleração do ritmo de crescimento da atividade econômica foi destacada na ata do Copom como um dos principais fatores que permitiram o corte da Selic. Durante meses, a expansão acelerada da atividade era vista com preocupação pelo BC, diante de seus possíveis efeitos sobre o comportamento dos preços na economia brasileira. Desta vez, entretanto, o comitê entendeu que diante dos sinais de arrefecimento do ritmo de atividade, "reduziram-se de forma importante os riscos de não concretização de um cenário inflacionário benigno". "A ata trouxe a alteração do foco, de inflação para atividade, ao dizer que o cenário inflacionário está mais sob controle por causa da desaceleração da atividade", destacou Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos. A falta de repasse da depreciação cambial para os preços também foi outro elemento que justificou a decisão do BC, segundo a ata. No entender do comitê não há "evidências nítidas" de repasse, o que contribuiu para a manutenção dos preços dentro do patamar desejado. Na ata, o Copom reafirma que a estratégia adotada continua tendo como objetivo trazer a inflação de volta ao centro da meta já em 2009, e "mantê-la em patamar consistente com a trajetória de metas em 2010". O centro da meta de inflação de 2010 também é de 4,5 por cento, como este ano. Para os dois períodos, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou um margem de variação de 2 pontos percentuais, para cima ou para baixo.

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