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Sucesso da imunização resgata popularidade de Piñera

Aprovação do presidente do Chile, que estava em 6% na época dos protestos, subiu para 20% com a vacinação

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Por Valentina Fuentes e Matthew Malinowski

SANTIAGO - Há pouco mais de um ano, o presidente chileno, Sebastián Piñera, tinha um índice de aprovação de 6%, o mais baixo da América Latina. O país estava implodindo em razão da desigualdade e a população foi às ruas para pedir sua renúncia. Hoje, o Chile já vacinou um quinto de seus habitantes, em parte graças à capacidade de Piñera de fechar acordos com as farmacêuticas. Resultado: sua popularidade saltou para 20%.

.Exemplo. Presidente chileno,Sebastián Piñera, que se vacinoucontra o coronavírus, mostrou sua capacidade de mobilizar a sua população 

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“Desta vez, seu passado como empresário jogou a favor”, disse Gonzalo Muller, diretor do centro de políticas públicas da Universidad del Desarrollo. “Ele mostrou sua capacidade empresarial e a capacidade de mobilizar recursos, administrar e de negociar.”

Cerca de 21% dos chilenos já receberam uma vacina contra o coronavírus, mais do que nos EUA, que está em cerca de 19%, e muito à frente do Peru, com 1%, e da Argentina, com 2,6%, de acordo com dados da Bloomberg. Na verdade, o Chile, com 19 milhões de habitantes, espera inocular toda sua população até junho, dando a Piñera a chance de refazer um legado manchado pela agitação social. No embalo, ele até anunciou planos de doar algumas vacinas para países vizinhos, como Equador e Paraguai.

A resposta do governo à pandemia obteve 52% de aprovação e 80% consideram a vacinação em massa “boa” ou “muito boa”, de acordo com pesquisa do Cadem. Ambos os números são mais altos do que a aprovação de Piñera, que enfrenta um aumento nas infecções que está ligado ao fim das férias de verão, no início de março. 

O presidente ainda luta contra a desconfiança persistente dos protestos em massa de 2019 e de 2020, quando ele convocou os militares para tentar restaurar a ordem pública, e enfrenta a ameaça de novos distúrbios no momento em que o país começa a eleger os deputados constituintes,em abril. Em resumo, Piñera corre contra o tempo para aumentar sua aprovação e dar à coalizão governista uma chance melhor de permanecer no poder nas eleições presidenciais de novembro.

Ainda assim, sua posição forte contrasta com a sorte de outros líderes latino-americanos que foram enfraquecidos pela pandemia. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, luta contra a queda em seu índice de aprovação em meio à escassez de vacinas e ao recorde de mortes, enquanto os líderes de Peru e Argentina enfrentam escândalos causados por aliados que furaram a fila da vacinação. 

Implementar um programa de vacinação tem sido uma das principais preocupações de Piñera desde o início, disse o porta-voz do governo, Jaime Bellolio, quando questionado sobre o assunto. “Qualquer aumento no índice de aprovação decorrente de ações do governo é bem-vindo”, acrescentou.

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O governo do Chile tomou medidas precoces contra o vírus. Em janeiro de 2020, semanas antes de o primeiro caso da América Latina ser confirmado, pesquisadores de universidades chilenas, trabalhando em parceria com funcionários do governo, começaram a garantir as vacinas, de acordo com Fernando Leanes, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Chile.

Imediatamente, o Ministério da Ciência estabeleceu contatos com laboratórios que desenvolviam vacinas e ofereceu o Chile para servir de campo de testes clínicos, enquanto o Ministério das Relações Exteriores fechou negócios para comprar imunizantes e o Ministério da Saúde organizou campanhas locais de conscientização e distribuição.

“A alta prioridade, a quantidade de recursos reservados e as negociações iniciais fizeram a diferença”, afirmou Leanes. “Houve apoio decisivo das prefeituras, que colocaram à disposição recursos adicionais para garantir a refrigeração, os registros eletrônicos de vacinação, além do monitoramento e do rastreamento permanente nos postos de imunização.”

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Em dezembro, o Chile já havia garantido quase 36 milhões de doses de fornecedores, incluindo Sinovac e Pfizer/BioNTech. As autoridades não precisaram ceder à pressão para garantir doses da vacina russa e de outras vacinas chinesas, bem como contratos de longo prazo com vários laboratórios.

Hoje, o Chile permanece em um estado de incerteza política, um país muito desigual às vésperas de escrever uma nova Constituição. O futuro de Piñera é igualmente incerto, embora Muller acredite que sua aprovação continuará subindo. “Depois de um ano presos em uma nuvem negra, estamos vendo a luz no fim do túnel”, disse. “A vacinação está ajudando a mudar um sentimento de que tudo está ruim para uma visão de esperança no futuro.”

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