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Temperatura no reator é 10 vezes maior que a do Sol

Por Livio Oricchio
Atualização:

Alguns fatos e números ilustram bem o enorme desafio para a realização de um projeto como o Iter. Por exemplo: por não poder reproduzir a enorme pressão do núcleo das estrelas, provocada pela gravidade, para os átomos de hidrogênio realizarem a fusão nuclear a saída é elevar a temperatura.Enquanto no núcleo do Sol 15 milhões de graus Celsius são suficientes para ocorrer a fusão, por causa da eleva pressão, no reator do Iter, o tokamak, é preciso elevar a temperatura a 150 milhões de graus Celsius, ou dez vezes mais que no núcleo do Sol.E para os supercondutores transportarem a energia elétrica para as bobinas do tokamak criarem os campos magnéticos necessários para transformar os átomos de hidrogênio em plasma a temperatura exigida se aproximam do zero absoluto, algo como 270 graus Celsius negativos. As temperaturas envolvidas, portanto, se deslocam de um extremo ao outro.Os campos magnéticos criados pelas bobinas mantêm o plasma a 150 milhões de graus Celsius suspenso dentro da câmara do tokamak. Não pode tocar nas suas paredes, pois nenhum material suporta tamanha quantidade de calor. Volume da câmara: 840 metros cúbicos, imensa.Outro guerra que deve ser vencida para ocorrer a fusão e que também explica a necessidade da temperatura impensável é a repulsão magnética entre os átomos de hidrogênio. Na realidade, para a obtenção da fusão é preciso contar com isótopos de hidrogênio, o deutério e o trítio. Isótopos são variações de um elemento químico. Têm o mesmo número de prótons, mas diferente número de nêutrons. O deutério tem um próton e um nêutron. É abundante na natureza, como na água do mar.Já o trítio possui um próton e dois nêutrons e precisa se produzido, o que pode ser feito no próprio tokamak. Tanto o deutério quanto o trítio se repelem por terem carga positiva, a carga do próton. O nêutron não possui carga. Para fazer com que o deutério e o trítio se choquem, superando a força de repulsão magnética, é preciso lhes oferecer grande quantidade de energia, suprida pelo calor. Vale lembrar a temperatura na câmara: 150 milhões de graus Celsius.O tokamak do Iter terá 60 metros de altura, equivalente a um edifício de 20 andares, e seu peso somado ao da fundação antiterremoto chegará a 400 mil toneladas. A construção do tokamak consumirá muito aço: 23 mil toneladas. A torre Eiffel, para se ter uma ideia, necessitou 7.300 toneladas.Para alguns componentes do tokamak serem transportados do porto de Marselha até Cadarache, sede do Iter, o governo francês teve de reconstruir parte da estrada de 104 quilômetros que os separa. O mais pesado terá 900 toneladas, incluindo o veículo, e o mais alto, 10,6 metros, sendo que alguns atingem 61 metros de extensão.O Iter está exigindo operações de guerra para gerar o que pode ser a saída para as carências futuras de energia.

 

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