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Opinião|Março Azul

Infelizmente, a despeito dos benefícios do rastreamento do câncer colorretal, ele ainda não é largamente aplicado no Brasil como política pública

Em prol da saúde, os meses do ano formam uma espécie de arco-íris, cada um marcado por uma cor e dedicado à conscientização e ao combate a determinada doença. Estamos no Março Azul, mês de alerta para a importância da prevenção do câncer colorretal ou do intestino grosso. E por que esta atenção especial, dedicando um mês inteiro para o câncer do intestino?

Recentemente, o câncer colorretal ganhou espaço na mídia e no dia a dia das pessoas com o diagnóstico da doença em celebridades como os atletas do futebol Pelé e Roberto Dinamite e as cantoras Simony, Preta Gil e o cartunista Paulo Caruso. E, de fato, o tema merece atenção especial, principalmente porque, apesar de ser um tipo de câncer evitável, é o segundo em incidência tanto em homens quanto em mulheres. Além disso, o câncer colorretal é curável quando diagnosticado precocemente. Portanto, ainda podemos fazer muito mais para evitar mortes por essa doença. Infelizmente, a despeito dos comprovados benefícios do rastreamento, este ainda não é largamente aplicado no Brasil como política pública.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou recentemente as estimativas para o ano de 2023, pelas quais são esperados mais de 45 mil casos de câncer colorretal, o que faz com que essa doença sozinha corresponda a cerca de 10% de todos os tumores malignos que vão ser diagnosticados neste ano. Além disso, cerca de 20 mil pessoas morrem anualmente vítimas desses tumores.

Para reduzir esses números, é preciso trabalhar em prevenção. Hábitos de vida saudáveis, como a realização de atividades físicas, dieta rica em fibra, além de evitar o tabagismo, o alcoolismo, o consumo de carnes vermelhas e combater a obesidade são medidas que podem levar à redução do aparecimento do tumor de intestino. Denomina-se esse conjunto de práticas de prevenção primária.

Já a prevenção secundária é aquela que busca o diagnóstico precoce, antes mesmo do aparecimento dos primeiros sinais. É o que chamamos de rastreamento. Por meio de exames se diagnosticam doenças com potencial de transformação para câncer ou até mesmo o tumor em fase precoce, aumentando as chances de cura. Para o tumor colorretal, pessoas sem histórico familiar de câncer ou outros fatores de risco devem iniciar essa busca a partir dos 45 anos, mesmo na ausência de sintomas.

A realização da colonoscopia é uma das formas mais eficazes de fazer esse rastreamento. Esse exame nos permite encontrar e tratar pólipos, que são lesões precursoras do câncer, e, ao fazermos isso, evitamos mais de 50% dos casos desse tumor. Além disso, quando encontramos o câncer no indivíduo ainda sem sintomas, o diagnosticamos em estágio mais precoce, com maior chance de cura, reduzindo cerca de 70% das mortes por essa causa. Vale a pena enfatizar que, apesar do temor que algumas pessoas têm, a colonoscopia é muito bem tolerada, pois é realizada sob sedação após a limpeza do intestino. Outra estratégia seria buscar pela presença de sangue nas fezes. Em caso positivo, o indivíduo é submetido à colonoscopia para diagnosticar ou descartar o tumor. Caso negativo, o exame deve ser repetido dentro de um a dois anos.

Por fim, é necessário que todos estejam atentos aos principais sintomas do câncer colorretal: sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal (com alternância entre a diarreia e o intestino preso), dor abdominal, perda de peso e anemia. Na presença destes sintomas, é fundamental procurar o médico para que, se mantida a suspeita de tumor de intestino, solicite a colonoscopia.

O Março Azul é uma campanha internacional que foi abraçada pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, em parceria com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia e a Federação Brasileira de Gastroenterologia. Com o intuito de chamar a atenção da população, da classe médica e do poder público para a necessidade de estar atento à prevenção do câncer colorretal, as referidas sociedades médicas deverão realizar uma grande ação na cidade de Cairu, na Bahia, onde pessoas na faixa etária entre 50 e 70 anos serão rastreadas por meio da pesquisa de sangue oculto nas fezes e, em casos positivos, serão submetidas à colonoscopia.

A ONG Zoé, em consonância com essas entidades médicas, em seu atendimento às populações ribeirinhas do Rio Tapajós, no Pará, inclui em várias de suas expedições o rastreamento do câncer colorretal. Neste ano, de 20 a 26 de março, mais uma expedição será realizada e, desta vez, as ações serão estendidas a Aveiro, município que se localiza às margens do Rio Tapajós.

Ações como essas visam a, em última instância, trazer o foco para o câncer colorretal e com isso chamar a atenção para a necessidade de implementação de uma política nacional de prevenção do câncer colorretal em nosso país.

Neste março, podemos salvar vidas vestindo a camisa azul da prevenção do câncer de intestino.

Saúde é prevenção!

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SÃO CIRURGIÕES COLORRETAIS E FUNDADORES DA ONG ZOÉ. MARCELO AVERBACH É TAMBÉM COORDENADOR DA CAMPANHA MARÇO AZUL

Opinião por Pedro Averbach
Marcelo Averbach