Inflação
O peso no bolso
Prévia da inflação em junho fica em 0,04%, diz IBGE. Mais um maravilhoso exemplo de que meias-verdades são mais danosas e mentirosas do que as mais deslavadas mentiras. De fato, é verdade que o IPCA-15 de junho de 2023 ficou em 0,04%, porém – e eis aí um grande porém – a elevação de preços real, aquela sentida no bolso vazio da imensa população de baixa renda, que gasta o pouco que ganha em comida, transporte e aluguel, percebe-se que foi maior nos últimos dois a três anos. E não é à toa que chegamos agora à triste marca de 71,4 milhões de inadimplentes. Essa é a verdade por inteiro.
Alfredo Franz Keppler Neto
Santos
*
Línguas de aluguel
A senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) pediu ao Conselho Monetário Nacional a exoneração do presidente do Banco Central (BC), Campos Neto. Segundo a senadora, o motivo é a persistência em manter injustificadamente a taxa básica de juros, comprometendo a economia. Diante de tudo o que se veicula na imprensa, Campos Neto tem, sim, dado razões para a Selic permanecer em 13,75%. Ocorre que essa política do BC tem desagradado a Lula, que não se conforma em ter no BC alguém que não reza sua cartilha. Por isso, escalou algumas línguas de aluguel para atormentar Campos Neto. A lição de casa a ser feita é gastar menos, mas este governo perdulário não se toca de que, quanto maior o gasto, maior a inflação.
Izabel Avallone
São Paulo
*
Muletas
Parece que, para o atual governo, se o BC baixar os juros, todos os problemas do Brasil estão resolvidos, assim como no governo anterior o problema era que o STF não o deixava governar. Cada governo com a sua muleta.
Vital Romaneli Penha
Jacareí
*
Justiça Eleitoral
Risco Bolsonaro
Sobre o artigo Entre a ficção e a realidade (Estado, 28/6, A7), de Luiz Felipe D’Avila, previsões sobre desdobramentos da declaração de inelegibilidade de Jair Bolsonaro contemplam um arco que se estende da completa aniquilação de sua influência à potencialização dessa influência. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) implica razoável grau de risco, podendo, no limite, confirmar ou não a tese de que o bolsonarismo extrapolaria o âmbito da persona que o inspirou. A decisão mais extremada pode, ainda, acentuar tensões, como o descrédito da Justiça aos olhos de parcela significativa da sociedade. Não há dúvida de que a determinação de afastar Bolsonaro da vida pública é o elemento que pesa nas razões para torná-lo inelegível. É o que mais se tenta ocultar, mas sobressai aos que pouco compreendem e desacreditam o linguajar sofisticado dos ocupantes das altas esferas. A decisão pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro poderá, tão somente, aprofundar um fosso.
Patricia Porto da Silva
Rio de Janeiro
*
Plano Diretor de SP
Por que a pressa?
O açodamento para aprovação de um plano diretor que prevê 148% mais prédios perto de linhas de trem e metrô suscita muitas desconfianças. Entre as mais fundamentadas estão a cobiça pela infraestrutura já instalada diante da incompetência do poder público em expandir os modais de transporte de massa e a indiferença à qualidade de vida na cidade – pior, o pouco-caso com a população. A demografia está mudando desde a pandemia e permanecer na cidade de São Paulo não é mais obrigatório para muitos, por isso é incompreensível que tenha sido aprovada tão rapidamente essa mudança, que pode incomodar milhares de moradores que a duras penas conseguiram se ajeitar em meio ao caos urbano que é a cidade de São Paulo. A prioridade da Prefeitura deveria ser a revitalização do centro da cidade, com projetos de retrofit para os inúmeros edifícios abandonados e ocupados por movimentos de moradia, além de um verdadeiro esforço para instalar famílias inteiras que estão nas ruas e outros tantos dependentes químicos, com o aluguel social. Não é entregando as chaves para a especulação imobiliária desenfreada que a cidade se tornará melhor. Feito tudo isso de uma forma severa, então, seria o caso de verificar qual é a demanda real por moradias e, então, dimensionar um plano diretor que não perturbasse regiões da cidade em que se consolidou alguma qualidade de vida.
Airton Reis Júnior
São Paulo
*
Cartas selecionadas para o Fórum dos Leitores do portal estadao.com.br
INÍCIO DO JULGAMENTO
O início do julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do ex-presidente Jair Bolsonaro, em um dos muitos processos que ele irá enfrentar daqui para a frente, teve o voto do ministro relator Benedito Gonçalves pela inelegibilidade por oito anos. Se tal voto for acompanhado pela maioria do tribunal, o setor ideológico de direita, que o antigo mandatário representa e lidera, terá de se reestruturar para continuar existindo. Essa realidade implicará em substanciais mudanças em nossa política daqui em diante, o que poderá possibilitar o surgimento de novas lideranças, que estamos precisando, rumo à construção da grande nação que tanto sonhamos e temos condições de ser.
José de Anchieta Nobre de Almeida
Rio de Janeiro
*
BENEDITO GONÇALVES
Quando o ministro do TSE Benedito Gonçalves levou tapinha na face do à época candidato Lula da Silva e em outra ocasião disse ao pé do ouvido de um colega “Missão dada é missão cumprida”, ao afegão médio ficou claro que nessa corte manda quem pode e dane-se a lei. Portanto o iluministro Benedito nem precisaria ter gasto 400 páginas de papel pagas pelo povo brasileiro, bastava em poucos segundos declarar o ex-presidente Bolsonaro inelegível. Só esqueceram de combinar com o povo, ou nós, que não aceitamos um ex-condenado como presidente e queríamos urnas eletrônicas auditáveis por desconfiarmos dessa “parceria estranha”, também teremos atrás de nós o peso da lei?
Beatriz Campos
São Paulo
*
BOLSONARO INELEGÍVEL
Durante os últimos anos, as mídias transmitiram os pronunciamentos do ex-presidente Bolsonaro, deixando cristalina a postura adotada por ele em relação a diversas questões. O ex-presidente manifestou sua visão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), demonstrando discordância de algumas decisões e criticando seus membros. Expressou opiniões sobre o sistema eletrônico de votação, suscitando dúvidas sobre sua eficiência e confiabilidade. Precisamos eleger um líder que represente os interesses do País. Tornar Bolsonaro inelegível é necessário.
José Carlos Saraiva da Costa
Belo Horizonte
*
‘JULGAMENTO JUSTO’
Infeliz, a fala do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao dizer que espera “um julgamento justo” para o caso. Desrespeita os membros da corte superior da Justiça Eleitoral ao insinuar “perseguição” ao ex-presidente.
Jorge de Jesus Longato
financeiro@cestadecompras.com.br
Mogi Mirim
*
TRIBUNAL DE HAIA
Na oportunidade da notícia Chavismo volta a ser investigado por crimes contra a humanidade (28/6, A12), ocorre-me indagar sobre a atuação do Tribunal Penal Internacional em relação a crimes praticados por governos capitalistas. Se há naquele tribunal, por exemplo, processos relativos a reiteradas denúncias concernentes à prisão mantida na base militar norte-americana em Guantánamo. Ou, ainda, quanto a casos de estupro e assassinato praticados em 20 anos de ocupação do Afeganistão por tropas estrangeiras, culminando com os colaboradores locais “cuspidos” dos aeroplanos em fuga, enquanto os talibãs valsavam de volta ao poder.
Patricia Porto da Silva
Rio de Janeiro
*
LICENÇA PARA GASTAR
Por conta de pressão do presidente Lula, da primeira-dama e de consumidores e parlamentares, o Ministério da Fazenda pretende lançar medidas para reduzir os altíssimos juros do rotativo do cartão de crédito. Complexidades técnicas e operacionais à parte, um dos motivos principais pelos quais esses juros são elevados é a alta taxa de inadimplência entre os usuários dessa modalidade de pagamento. Acerta em cheio o secretário de Reformas Econômicas do ministério, Marcos Barbosa Pinto, ao afirmar ser necessária uma “comunicação clara do problema para a população, que precisa entender o peso dos juros acima de 400% ao ano no orçamento familiar” (Estado, 29/6, B17). Este é o âmago da questão: Lula sempre teve como objetivo estimular o consumo entre as classes média e baixa, o que considera salutar para a economia e para a justiça social. Mas calma, devagar. Cartão de crédito não significa licença para gastar, pois com ou sem juros, à vista ou parcelado, se o valor devido não é pago, não há economia que rode. Para consumir à vontade e sem riscos é preciso antes responsabilidade fiscal, desenvolvimento sustentável e empregos. A inversão dessa ordem, como já é bem sabido, sobra sempre para o mais fraco: o consumidor.
Luciano Harary
São Paulo
*
TAXA SELIC
Se o próprio Banco Central julga que a taxa de juro real neutra é de 4,5% ao ano, e a previsão de inflação para este ano é de 5,06%, segundo o boletim Focus, qual a necessidade da manutenção da Selic a inacreditáveis 13,75% ao mês? Visto que a inflação pesada está concentrada nos preços administrados e preços de serviços, ambos pouco afetados pela Selic, qual é o porquê de submeter toda uma economia a este sacrifício, já que os vilões da inflação são quase imunes aos efeitos desse amargo remédio?
Joaquim Antônio Pereira Alves
Santos
*
ANSEIOS DOS CONSUMIDORES
Finalmente alguém (de fora do País ainda por cima) expressou de forma clara e objetiva os legítimos anseios de nossos consumidores, cansados de serem mantidos praticamente cativos por um sistema obsoleto e perverso que torna os produtos produzidos no Brasil tecnologicamente defasados e excessivamente elevados em relação a nossa renda média (‘Não é preciso subsídio ao produtor, mas ao consumidor’, 28/6, B21). Esse sistema é caracterizado por dependência excessiva das benesses governamentais, baixa produtividade, inovação e competitividade internacional. No meu entender, se, ao invés de depender excessivamente de Brasília, for trazido conhecimento técnico, incentivo à pesquisa local e foco em uma indústria competitiva que também exporte parte da produção para mercados relevantes, essa será uma grande oportunidade potencial para o Brasil. Há finalmente uma tênue esperança de sairmos das garras do atraso e da mediocridade em que tristemente nos encontramos, em direção à nova realidade industrial do século 21?
Fernando T. H. F. Machado
São Paulo
*
CEM MELHORES UNIVERSIDADES
É alvissareira a notícia de que a Universidade de São Paulo (USP) passou a figurar entre as cem melhores universidades do mundo. Qualquer ranking apresenta limitações, críticas e inexatidões, mas é um parâmetro válido, quando avaliado junto a outros critérios. Junto a ela, as demais universidades brasileiras também se elevam, pois há um “cordão de excelência” que as une. E que fique bem claro que todas as instituições nacionais no topo são públicas.
Adilson Roberto Gonçalves
Campinas
*
EDUCAÇÃO LIMITADA
Atravessando uma ponte sobre um largo rio, da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, presenciei na calçada um rapaz – de uns 16 a 18 anos, de mochila e skate em uma das mãos – jogar algo no já sofrido rio, cena infelizmente não rara. Qualquer pessoa que protagonizasse o triste fato já seria triste, mas sendo um jovem é muito mais relevante e preocupante, pois deixa a sensação de não estarmos no rumo certo. Na realidade estamos falhando no principal e primordial fundamento para vivermos em um mundo sustentável e melhor. A educação ainda é muito limitada aqui.
Abel Pires Rodrigues
Abel Pires Rodrigues
Rio de Janeiro
*
DETERIORAÇÃO DAS LEIS
Sobre o artigo Entre a ficção e a realidade (28/6, A7), a crise da democracia começa pela deterioração das leis e com o crescimento da cultura da corrupção, que está generalizada. O feio agora é ser honesto.
Arcangelo Sforcin Filho
São Paulo
*
FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS
Nas famílias reconstituídas há muitas dificuldades de negociações para acomodar novas pessoas de velhos relacionamentos. Podem ser formadas a partir de vários relacionamentos anteriores, o que por si só demonstra como será difícil eleger um novo funcionamento da família. A questão da filiação muitas vezes de pai desconhecido, que não incomoda o núcleo familiar mas o âmago do que foi abandonado, poderia ser resolvida com a aceitação da Justiça de que “quem cria é o verdadeiro pai”, afirmação reconhecida pelas boas relações afetivas, mas ainda complicada pelo Poder Judiciário até então. Oportuno evento que demonstra que as soluções simples, que protegem os vínculos reais, são preferíveis e mais eficientes que as de cunho protetivo de uma família tradicional que só existe na cabeça de burocratas inflexíveis (A filiação derivada da afetividade, 28/6, A4).
Carlos Ritter
Caxias do Sul (RS)
*
SÉRGIO AUGUSTO
Sou apaixonada por Sérgio Augusto desde muito jovem, quando lia O Pasquim na década de 1970. As colunas dele, muito esparsas para a minha sede, são deliciosas pela inteligência, erudição e humor, às vezes um tanto ferino. Podiam ser mais longas, mais espaçosas. Cartas do boom (25/6, C5) mostra a correspondência entre o argentino Julio Cortázar, o mexicano Carlos Fuentes, o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Lhosa, os “fab four” da prosa latino-americana. Imperdível!
Jane Araújo
Brasília
*
LIGAÇÃO SANTOS-GUARUJÁ
Não podemos deixar de agradecer ao sr. Eduardo Lustrosa, diretor da Autoridade Portuária do Porto de Santos, pela atenção e pelos devidos esclarecimentos sobre o valor do atual do projeto dessa ligação submersa entre Santos-Guarujá, assim como as respectivas diferenças contra o projeto apresentado no ano de 2022, que inclusive estava em trâmite junto ao Tribunal de Contas da União (Fórum dos Leitores, 28/6, A4). Por outro lado, fica a dúvida sobre como poderia transitar um projeto pelos órgãos governamentais e principalmente junto à população com valores totalmente desatualizados há mais de dez anos. Acompanho esse assunto como muitos, principalmente da população da Baixada Santista, pelas notícias através dos órgãos de imprensa, e jamais vi ou li qualquer notificação de que os referidos valores necessitavam das devidas correções e/ou atualizações monetárias como deveria ser a transparência governamental de um projeto de tamanha envergadura.
Carlos Sulzer
Santos