Uma batalha às cegas

Uma batalha às cegas

Publicado por: Suzana Barelli, de Panguipulli, Chile Publicado: 28/01/2024 18:10 Visitas: 1557 Comentários: 0

Pode parecer estranho, mas começo esse texto com uma ressalva: nenhum destes sete vinhos foram degustados pelo Guia dos Vinhos. E nem serão. Estão totalmente fora da nossa proposta de rótulos disponíveis no mercado brasileiro e com preços de até R$ 300.

Mas a aventura não apenas de degustá-los, mas de descobrir seus rótulos, ensina muito sobre o que prestar atenção em uma degustação às cegas, quando provamos sem saber que vinho corresponde a cada taça.


As equipes se preparam para começar a competição: “Não deixem também de apreciar os vinhos. São todos muito bons”, informa Jeannie Cho Lee MW

Foi assim, por exemplo, que degustamos os quase 600 vinhos deste Guia dos Vinhos. Sem ser influenciados pelo rótulo ou por qualquer outra informação: sabíamos apenas o país de origem e a faixa de preço.

E já vale aqui uma segunda ressalva (e prometo parar aqui nestas exceções). “Não deixem também de apreciar os vinhos. São todos muito bons”. Esse foi o conselho que a Jeannie Cho Lee MW (lembrando que MW são as letrinhas mágicas que os master of wine acrescentam em seu sobrenome) nos deu antes de começar a brincadeira, digo, a degustação às cegas.

Foi dela a ideia de fazer um segundo quiz informal (na noite anterior, a Caro Maurer MW já tinha feito um quiz, de perguntas com múltiplas escolhas), em uma viagem pelos projetos da Família Chadwick, no Chile. Ela sugeriu e o grupo topou, mas não esperávamos essa degustação.


O time formado por Mina Ha Choi, da Coreia, Suzana Barelli e Caro Maurer MW

As regras foram claras: fomos divididos em três grupos de três. Cada um deveria provar os vinhos individualmente e depois cada grupo discutia sobre os vinhos para responder questões sobre sua origem, uva, safra, teor alcoólico. Só sabíamos que dos sete vinhos decantados, tinham representantes da França, do Chile, da Itália e dos Estados Unidos.

As garrafas foram escolhidas por Jeannie na adega de Eduardo Chardwick - e aqui, desculpem-me, mais um comentário paralelo: que anfitrião generoso!

E assim provei o primeiro vinho. Tanto no nariz como no paladar, minha cabeça voou para a França. Sim, era um Bordeaux, com a cabernet sauvignon majoritária - depois de tudo que tínhamos aprendido sobre a Cata de Berlin, certamente Chadwick teria um Bordeaux Premier Cru na sua adega. Mas nenhuma ideia sobre a safra. O segundo vinho, o sexto e o sétimo com certeza eram chilenos – quer dizer, eu achava que eram chilenos. Mas me questionava se haveria espaço para três chilenos em uma prova de quatro países em sete amostras. Nos primeiros momentos, a amostra 6 me levou à carménère, em notas aromáticas que sumiram depois. Poderia ser um blend. Será? As mesmas notas apareceram depois de um tempo na taça da última amostra. O quarto vinho me levou à Itália, uma acidez peculiar, que associo ao país. Sobre o terceiro e o quinto, eu simplesmente não tinha a menor ideia.

Do meu grupo, Caro era a mais assertiva nas origens. Cravou que o quatro seria norte-americano. Para mim, era um cabernet sauvignon do Novo Mundo, mas não conseguia identificar sua origem. Chutaria os EUA por eliminação. Junto com Mina Ha Choi, a terceira integrante do nosso grupo, ficamos quebrando a cabeça para encontrar aromas ou sabores que nos revelassem um pouco mais dos vinhos. Safras eram quase impossíveis de descobrir, teor alcoólico era mais fácil de chutar (sim, seria por palpite na hora).

Depois de 10 minutos de discussão, voltamos à mesa principal. Jeannie inicia: “Quem acha que este vinho é chileno?”. Um grupo levanta a mão. “Quem acha que é italiano”. Ninguém. Quem acha que é dos EUA?”, novamente ninguém. “Quem acha que é francês?”. Dois grupos, o meu incluído, levantam a mão. Era francês. Segunda pergunta: “Quem acha que a uva majoritária é merlot?”. Ela faz a pergunta também com syrah, cabernet sauvignon e cabernet franc. Os dois grupos votam (e acertam) na sauvignon. Depois acertamos que era Bordeaux. E os dois grupos erram a origem: votamos em Saint Julian, e o outro grupo, em Margaux. Era Pauillac.


Karen MacNeil, Lu Yang MS e esposa

A adrenalina subia a cada pergunta. No final, acertamos a safra entre as quatro opções (era um Lafite 2000) e outro grupo errou. Não tivemos a mesma sorte no segundo vinho, que acertamos apenas a sua origem: Chile. Erramos a região – era o Viñedo Chadwick 2000, de Puente Alto. No terceiro também fomos mal: na verdade, todos erraram a origem (era o Don Maximiano, também 2000). Fomos bem no quarto vinho, o Opus One, mas perdemos em sua safra. Era 2001.

A essa altura, estavam todos empolgadíssimos. Parecíamos estudantes em uma gincana de escola, tentando acertar, comemorando cada resposta.

Fizemos bonito no quinto, que era italiano (o Sassicaia 2000), mas fomos eliminadas no teor alcoólico. No sexto, fomos bem até a região. Chile, correto; blend, correto; mas apostamos no Maipo e não em Aconcágua. Confesso que fiquei brava comigo. Eu deveria saber a região, que havíamos provado o vinho naquela semana. Por fim, o sétimo vinho. Cheirei a taça e me veio uma certeza que era um carménère chileno. E era mesmo.

Nos vinhos chilenos, eu tinha a obrigação de saber. Afinal, neste grupo havia degustadores dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Da América do Sul, tinha a inglesa Amanda Barnes, que mora na Argentina, e cujo grupo ficou em primeiro, e eu, pelo Brasil.

Aos interessados, os vinhos, pela ordem (foto acima) eram Château Lafite Rothschild 2000; Viñedo Chadwick 2000; Don Maximiano 2000; Opus One 2001; Sassicaia 2000;  Seña 2021 e Kai 2006.

Só não me pergunte qual o meu ranking entre estes vinhos. Eu estava tão focada em descobrir a maior quantidade de informações do vinho, que não pontuei os vinhos. Pensando agora, meus top três seriam Lafite, Sassicaia e Viñedo Chadwick.

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