No Brasil, muitas pessoas perdem a vida, a memória e a própria história em enchentes e deslizamentos. Moradora do Jardim Pantanal, Rose Campos conta que sempre que chove os moradores do bairro sofrem uma perda. Móveis, eletrodomésticos, álbum de fotos de pais e filhos. Bens materiais e objetos insubstituíveis são levados pelas águas.
Essas perdas poderiam ser evitadas se a população de menor renda tivesse acesso a tecnologia que emitisse alertas precisos e antecipados, avisando sobre os riscos de chuva forte e de enchentes, com tempo hábil para que possa se preparar. Parece um sonho distante? Na verdade, na geração de dados meteorológicos de qualidade se encontra a resposta para esse desafio.
Fundada por cinco amigos - Mariana Marcílio, Diogo Tolezano, Pedro Godoy, Hugo Santos e Murilo Souza -, a Pluvi.On desenvolveu uma estação pluviométrica de baixo custo, dotada de sensores para medir a velocidade e a direção do vento, além de intensidade da chuva, temperatura e umidade.
Com o objetivo de espalhar 350 equipamentos - conectados em tempo real com toda a cidade de São Paulo e voltados a produzir alertas rápidos, enviados gratuitamente pelo assistente virtual São Pedro para os moradores de áreas de risco -, a empresa deu início a uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo).
Com os recursos arrecadados, irá instalar redes de estações meteorológicas em pontos estratégicos da cidade para medir a intensidade da chuva e antever a probabilidade de uma enchente. Com os dados obtidos, os moradores poderão trocar mensagens com o santo virtual, via Facebook Messenger e WhatsApp, para entender o grau de risco de alagamentos e enchentes em suas regiões.
A meta inicial é arrecadar R$ 90 mil para instalações nas três comunidades de baixa renda mais afetadas pelas chuvas em São Paulo. Caso consigam ultrapassar esse valor, irão ampliar a abrangência do projeto para mais regiões. Com R$ 30 já é possível participar da ação.
"Pensar em cidades mais funcionais é pensar em como trazer mais qualidade de vida às pessoas"
As estações criadas pela startup de impacto têm custo mais acessível por serem fabricadas com 100% de tecnologia brasileira. Recentemente, os empreendedores foram convidados a integrar a plataforma de cidades inteligentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a United Smart Cities.
Não por acaso, o tema dialoga diretamente com temáticas transversais das cidades inteligentes. Aliás, pensar em cidades mais funcionais para brasileiros e brasileiras é pensar em como trazer mais acesso, escolha, dignidade e qualidade de vida às pessoas. Essas são condições básicas para o desenvolvimento pleno de uma sociedade.
O apoio pode ser feito até 23 de maio pelo site da campanha.
* Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.