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Crowdfunding faz sucesso com projetos culturais

Crise econômica e acesso restrito a leis de incentivo à cultura tornam o financiamento coletivo fonte importante de viabilização de projetos

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Atualização:

Não é apenas de produzir que vivem os entusiastas da economia criativa. Eles também pensam em alternativas de captação de recursos. E uma estratégia que vem se consolidando para o setor é a vaquinha virtual, conhecida pelo nome oficial de crowdfunding. No Brasil, essas iniciativas apareceram há pouco mais de cinco anos e, basicamente, servem para viabilizar empreendimentos ligados ao mundo das artes. Angariar fundos para um projeto por meio da captação de ‘apoiadores’ – como são chamados aqueles que aportam algum recurso para a iniciativa em questão – é estratégia comum em países europeus e nos Estados Unidos, precursor do movimento. O norte-americano Kickstarter, principal portal de crowdfunding do mundo, já acumulou mais de US$ 2,6 bilhões em financiamentos para os 112,1 mil projetos, mais do que os fundos públicos dos Estados Unidos direcionado aos investimentos de arte, que não chegam a US$ 1 bilhão. Por aqui, o Catarse é o primeiro representante. O site acumula em sua carteira 3,5 mil iniciativas viabilizadas. Apenas no primeiro semestre deste ano, o número de aportes dentro da plataforma cresceu 33%. Até outubro, a expectativa dos fundadores é de que ele alcance o mesmo engajamento do ano passado inteiro. Conforme avalia Diego Reederg, sócio do Catarse, a crise econômica e o volume de iniciativas de sucesso no crowdfunding é um dos fatores que eleva o engajamento do público. “Os idealizadores dos projetos aprenderam há pouco tempo a criar uma comunidade de pessoas em busca de um ideal e são elas que financiam os projetos”, analisa o empreendedor. “O financiamento coletivo tem uma relação estreita com a comunidade em que o produto vai atuar. O apoiador vira um coprodutor”, comenta. No Kickante, também nacional, esse movimento é ainda mais evidente. Apenas no primeiro semestre deste ano, foram financiados mais de 6 mil projetos criativos, em um total de R$ 8,27 milhões em investimentos. No mesmo período de 2015, os 2 mil projetos em pleito receberam R$ 2,89 milhões. A fundadora da plataforma Candice Paschoal vislumbra o crowdfunding como a principal fonte de financiamento para iniciativas culturais no futuro. “Existe uma necessidade de financiamentos alternativos. As leis de incentivo não estão funcionando como antes e as empresas não estão investindo”, comenta. “Nos Estados Unidos, quando a economia desacelerou, o crowdfunding disparou. O mesmo está acontecendo aqui e eu espero ainda muito mais”, prospecta a empreendedora.Projetos. Com projetos bem-sucedidos, o financiamento coletivo começa agora a se expandir para além do estereótipo de plataforma para artistas independentes. Ele vai também se tornando um expediente cada vez mais comum de personalidades do meio. No ano passado, o álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares, esteve entre os mais bem avaliados da MPB.  A cantora, porém, quer ir mais longe e levar o trabalho para uma edição em DVD. Com a carreira marcada por atitudes pouco convencionais, Elza optou pelo crowdfunding para viabilizar a ideia. A proposta é realizar a gravação na comunidade carente de CentreVille, em Santo André. Sua campanha está no ar no Kickante e busca levantar R$ 400 mil. 

Iniciante. Elza Soares recorreu ao modelo para lançar DVD Foto: Estadão

“Pensamos em levar a apresentação para um comunidade, levar a nossa música até o povo mesmo e fazer esse registro lá”, conta Elza. “Seria muito mais fácil gravar em um teatro, porque a estrutura já está pronta. Na comunidade, precisamos levantar toda a estrutura e também queremos deixar coisas legais para as pessoas. Daí, surgiu a ideia de fazer o crowdfunding.” Conforme aponta a cantora, as transformações do mercado fonográfico tornam o financiamento coletivo uma real alternativa de captação de recursos. “Tocar na rádio era sinal de sucesso. O disco ‘A Mulher do Fim do Mundo’ foi muito premiado, mas não tocou na rádio. E tudo mudou”, analisa.  O caráter disruptivo também chegou ao mundo da arquitetura e urbanismo sob o guarda-chuva do financiamento coletivo. Um dos maiores sucessos do Catarse foi o projeto Mola, uma espécie de “Lego” de peças que possibilita o estudo de estruturas arquitetônicas. A meta inicial de arrecadação do Mola foi de R$ 50 mil. Ao fim da campanha, porém, o aporte total recebido de apoiadores foi de R$ 600 mil.  O arquiteto e idealizador do projeto Marcio Sequeira conta que não conseguiria tirar os kits do papel se não optasse pela vaquinha virtual. “Tentei patrocínio e investimento por outras vias mais tradicionais, sem sucesso”, conta. O reconhecimento foi tamanho que Sequeira planeja lançar uma segunda campanha para uma nova edição do mesmo projeto, que já alcançou mais de 40 países com a primeira versão.

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