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Hubs de inovação não vão abandonar espaços físicos; saiba por quê

Home office não impede crescimento de startups, e digital permite contratação de profissionais de várias partes do País; mas acaso dos encontros é força motriz para inovação, defendem hubs

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Por Bianca Zanatta
Atualização:

Serendipidade. Essa palavrinha meio cabeluda, que traduz o ato de descobrir coisas boas por mero acaso, vive na ponta da língua do universo dos hubs de inovação. Além de conectar startups e novas ideias a empresas e investidores no mesmo espaço, formando poderosos ecossistemas para gerar e fomentar negócios na base de networking e colaboração, esses ambientes sempre tiveram a casualidade como força motriz. 

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É nos encontros imprevistos que acontecem na hora do cafezinho, do chope no rooftop ou em uma esbarrada nos corredores que muitas ideias nascem e projetos ganham vida. E o grande desafio, na pandemia, foi migrar a intangível serendipidade para o universo digital.

“A gente já estava desenhando um modelo de abrangência nacional antes da pandemia”, afirma Renata Petrovic, head do inovabra habitat, ambiente de coinovação do Bradesco. Ela conta que a ideia do habitat conectado, lançado oficialmente em setembro de 2020, surgiu quando viram que muitas empresas queriam estar no hub, mas não necessariamente com equipe física.

O modelo, que transferiu todas as atividades e eventos para o online, fez com que o ecossistema ganhasse em expansão e participação. Atualmente o hub tem 185 startups e 78 corporações. 

“Se perdemos a causalidade e a espontaneidade de um lado, ganhamos um alcance muito maior dos eventos e atividades porque demos acesso a pessoas de todos os lugares do Brasil”, afirma a executiva, que relata um aumento de 30% de participação nos encontros virtuais. “Também tentamos reproduzir algumas coisas, como a Pizza com os CEOs, um evento icônico nosso”, diz. Ela conta que a versão virtual tem inclusive a pizza, só que agora mandam vouchers para cada um pedir a sua. 

Uma das salas do Cubo Itaú, em São Paulo, com estações vazias no começo da pandemia do coronavírus, em abril de 2020. Foto: Daniel Teixeira/Estadão-13/4/2020

“Pivotamos o modelo com foco em dar apoio e manter o ecossistema vivo.” Mesmo diante do cenário de crise, ela diz que fecharam o ano com crescimento de 25% em 2020, em relação ao ano anterior. O objetivo agora, diz, é ampliar conexões e parcerias, trazer mais negócios sustentáveis para o hub e direcionar o viés do impacto social e dos pilares ESG (sustentabilidade, social e governança) para a inovação.

“Não dá para transferir a energia do ambiente físico 100% para o digital porque tecnologia nenhuma substitui o contato humano, por isso haverá um retorno físico no futuro, mas com tudo mais controlado.” 

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Crescimento das startups

Com uma atuação bem desenvolvida no meio digital, o Cubo Itaú também acelerou transformações que já estavam previstas quando precisou fechar o prédio, em março do ano passado. O modelo permitiu que mais startups tivessem acesso à comunidade. 

De acordo com o co-head Pedro Prates, eles têm atualmente 22 mantenedores e quase 500 startups no portfólio - 85% delas registraram crescimento em 2020, somando um faturamento acumulado de mais de R$ 4,4 bilhões, mais de R$ 1 bilhão em investimentos e gerando 5,1 mil empregos.

“Como todos os setores, tivemos o grande desafio de fazer a nossa própria transformação digital e entender o melhor modo de utilizar as ferramentas digitais para que essas conexões e grandes ideias ainda viessem a ocorrer no ambiente virtual”, diz Prates.

Sem dúvidas a serendipidade é um dos nossos grandes valores

Pedro Prates

Reaberto em agosto de 2020 com todos os protocolos de segurança e capacidade reduzida, o prédio do hub voltou a fechar na fase roxa, mas a comunidade continua a crescer. “Passamos de um prédio que tinha uma comunidade para uma comunidade que tem um prédio”, ressignifica o executivo. 

A ideia, no futuro, é voltar com as atividades e eventos do espaço físico, mas manter a realidade híbrida. “Definiria que atuamos de forma 100% digital e temos o prédio para apoiar a comunidade no maior centro econômico do País”, ele afirma.

Carol Dassie, CEO e fundadora da Hisnëk, startup de saúde que está no Cubo Itaú. Foto: Carolina Machado

Startup do Cubo cresce 400% neste ano

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Health tech incubada pelo Cubo Itaú e que recebeu aporte de R$ 1 milhão no final de 2019, a Hisnëk, criadora da Ivi - assistente virtual que ajuda as empresas a identificarem o estado emocional dos colaboradores - estava no hub quando tudo parou. 

“Era um momento de desenvolver muitas coisas no produto, tínhamos acabado de entrar no processo de aceleração da Oxigênio”, conta a CEO e fundadora Carol Dassie. “Achamos que voltaríamos depois de 15 dias e até hoje estamos em casa.”

A distância física do ecossistema, porém, não impediu o crescimento vertiginoso do negócio. A Hisnëk atendeu mais de 1,7 milhão de vidas através da Ivi, viu a demanda crescer 60% durante a pandemia e a equipe dobrar de tamanho. Em 2021, o crescimento registrado já é de 400%. Dassie fala que grande parte do time está no interior - inclusive ela - e o home office também possibilitou trazer talentos de outros lugares do Brasil. “Nossos devs são do Sul, o time de UX é da Bahia.”

Nessa virada de 180 graus, a empreendedora elogia o esforço do Cubo para também se reinventar e apoiar o ecossistema. “Ficamos sem pagar mensalidade no período em que o prédio esteve fechado e depois mudaram o estilo de cobrança”, explica. 

Ela conta que agora o hub tem cadeira rotativa e um sistema de membership, que permite que a startup continue a ser membro, mas só pague o presencial por diária - presença que ela pretende voltar a marcar futuramente, mesmo que de forma híbrida.

Vista aérea de antiga fábrica abandonada em São Carlos, no interior de São Paulo, que deu espaço ao hub de inovaçãoOnovolab. Foto: Reprodução

Inovação sem fronteiras físicas

A diferença entre um coworking e um espaço de inovação é a grande responsável pelo sucesso da rotação para o digital, segundo Anderson Criativo, cofundador do Onovolab, instalado em uma antiga fábrica abandonada de São Carlos, no interior de São Paulo. “Associam muito a gente ao espaço físico, mas, quando tira isso, as pessoas e ideias continuam”, diz. “Estamos tendo um momento positivo porque entregamos valor de outras formas que não estão só no espaço físico, o ecossistema é muito mais valioso.”

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Entre março e maio de 2020, muitas startups não conseguiram se manter abertas, mas ele fala que chegaram outras na sequência. “Foi uma seleção natural do ecossistema.”

Apesar do desafio para transferir produtos e serviços para o digital, o primeiro trimestre de 2021 foi o mais rentável da história do hub, segundo Criativo. O espaço vinha aberto desde a flexibilização e chegou a expandir a área em mais de 2 mil metros quadrados na pandemia. Na fase roxa, voltou a fechar, mas só até segundo aviso. “Reproduzir aquele ‘esbarrar no café’ é muito difícil no virtual e a casualidade faz falta”, ele diz. 

Para Hector Gusmão, CEO da carioca Fábrica de Startups - que fechou 2020 com 80% de crescimento em relação a 2019 -, a discussão sobre a importância desse “cafezinho” foi polarizada no começo. Ele afirma que o ser humano, por essência, precisa do esbarrão, do acaso e das conversas não planejadas.

“Mas descobrimos que o digital só expande isso”, comemora. “É claro que a dinâmica é muito diferente porque a Fábrica é um espaço para conectar as pessoas de um jeito muito específico, uma questão a que o digital não chega, mas uma das coisas legais que ele proporcionou foi justamente romper as fronteiras do físico.”

Ele exemplifica com a nova parceria que o hub fechou durante a pandemia com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). “Mapeamos 60 empreendedores de cinco países africanos com língua portuguesa e agora estamos com 15 dessas startups em fase de aceleração”, fala Gusmão. “Estamos cruzando o oceano graças ao digital.”

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