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Em um ano, cresce pessimismo de CEOs de médias empresas, e 50% acham que negócio será inviável

Pesquisa Global CEO Survey, com dados de 2023, mostra como os executivos veem suas empresas daqui a 10 anos; em 2022, a previsão de inviabilidade do negócio era 11 pontos menor (39%)

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Por João Scheller
Atualização:

Metade dos CEOs de médias empresas no Brasil acredita que o modelo de negócio de suas companhias não será economicamente viável por mais de dez anos. Os dados são de recorte da pesquisa Global CEO Survey 2024, feita pela consultoria PwC, com dados de 2023. O número representa um aumento de onze pontos percentuais em comparação com os dados do ano anterior (39%).

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Em comparação, 41% dos CEOs brasileiros, de companhias de todos os portes, fizeram a mesma afirmação. O relatório da PwC considera empresas médias aquelas que faturam até US$ 50 milhões (R$ 259 milhões) por ano.

A pesquisa mostra ainda que os CEOs de médias empresas são, em geral, mais otimistas com relação aos cenários econômicos no Brasil e no exterior, frente aos líderes de companhias maiores. Além disso, aponta para uma dificuldade de empresas menores de implementar mudanças em relação à descarbonização de seus produtos ou serviços.

“Se olhamos para as empresas maiores, elas observam um impacto menor pelo tamanho, ou seja, elas já possuem uma estrutura, algum plano [para lidar com a mudança]. Para elas é algo que já foi percorrido”, afirma Luciano Sampaio, sócio da PwC Brasil.

“O que está subentendido nas respostas, é que se essas empresas não fizerem nada para melhorar em termos de tecnologia e melhores recursos, terão dificuldade de sobreviver daqui a dez anos. Acho que quem ainda está se estruturando tem um caminho a percorrer maior e mais difícil do que quem já está há muito tempo na jornada e tem dinheiro para investir”, complementa Sampaio.

Segundo ele, as dificuldades apontadas pelas empresas se referem às mudanças tecnológicas trazidas pelos avanços na inteligência artificial (IA) generativa, mas também por conflitos geopolíticos globais, que aumentaram no último ano, além de dificuldades trazidas pela crise climática. “A IA tem o seu papel na contribuição dessa análise, mas não foi só isso”, afirma.

O relatório aponta que, ante este cenário, é importante que as empresas se dediquem a reinventar seus modelos de negócio, considerando mudanças e tendências que afetam a região e a indústria em que estão inseridas e que impactem positivamente a natureza. Além disso, o relatório sugere que as companhias invistam na utilização de IA generativa e na qualificação de seus funcionários para lidar com novas tecnologias.

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Pesquisa Global CEO Survey, da PwC, mostra que metade dos executivos prevê que suas empresas podem se tornar economicamente inviáveis em 10 anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Mudanças tecnológicas são principal preocupação das empresas

Segundo a pesquisa, as maiores fontes de preocupação para os CEOs brasileiros são as mudanças tecnológicas e as mudanças de preferência dos consumidores, respectivamente, tanto para empresas médias, quanto para as grandes.

As ações da concorrência vem em terceiro lugar para empresas menores, lugar que é ocupado pela regulação governamental para empresas maiores.

Neste contexto, 38% dos CEOs de empresas de médio porte afirmaram que tiveram que mudar sua estratégia de tecnologia no último ano por causa dos avanços com IA generativa e 35% afirmaram que a tecnologia já foi adotada em toda a empresa.

Dentro deste segmento, o principal aspecto positivo mencionado para o uso da IA no próximo ano foi o aumento da eficiência de tempo de trabalho dos funcionários (71%), enquanto os riscos de segurança cibernética (62%) foram apontados como maior risco.

Expectativas com a economia

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Em geral, os CEOs de empresas de médio porte apresentaram uma percepção mais otimista das expectativas econômicas do que seus pares em grandes companhias.

40% dos CEOs de empresas menores no Brasil acreditam na aceleração do crescimento da economia global, ante 32% de empresas maiores. Além disso, com relação à economia brasileira, os CEOs de médias empresas também se apresentam mais confiantes, com 60% acreditando na aceleração econômica, em comparação com 52% de empresas maiores.

Porém, dentro deste grupo, os que afirmam que a economia brasileira deve desacelerar também são maioria (33%), em comparação com a média brasileira (29%).

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“As empresas maiores têm uma sensibilidade global. Neste caso, a questão de conflitos geopolíticos e mudanças climáticas são temas que se falam e têm interação em nível global, isso chama a atenção das grandes empresas”, afirma Sampaio.

Segundo ele, as empresas menores se preocupam, num ambiente de curto prazo, com questões relacionadas à reforma tributária, política local e desenvolvimento do país. “Você não considerada tanto os riscos globais e, pensando em nível Brasil, talvez América do Sul, essa leitura pode ser um pouco mais otimista”, complementa.

Mudanças climáticas

Dentro do segmento de empresas brasileiras com faturamento de até US$ 50 milhões, 52% dos CEOs afirmaram ter esforços em andamento ou já concluídos para melhorar a eficiência energética de suas companhias e 51% para inovar com produtos e serviços com baixo impacto climático. Os números, porém, são significativamente menores do que os apresentados por empresas maiores.

71% delas afirmam que já possuem esforços para melhorar a eficiência energética e 66% para a inovação com produtos e serviços de baixo impacto no clima.

“Quando a gente trata desse universo de empresas menores, a intenção já é algo louvável por conta dessa dificuldade [de investimento]. São empresas que estão nos dizendo que o modelo de negócio pode ser inviável em dez anos. Elas estão com preocupações muito grandes, com caixa pequeno. Obviamente esses pontos não vão ser necessariamente prioridade do planejamento da empresa”, afirma Sampaio.

Ele pontua, porém, que o planejamento para tornar as empresas mais sustentáveis é algo que se deve começar desde já, considerando o impacto dessas mudanças no cenário dos negócios já no curto prazo.

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