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Startups ganham força na agricultura

Empresários ligados ao setor de tecnologia no País descobrem que o campo pode ser muito fértil para os negócios

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Por Renato Jakitas
Atualização:
  Foto: DIV

Está prevista para o começo de agosto a estreia do primeiro serviço de streaming voltado ao agronegócio. O site é uma espécie de Netflix de dados sobre o campo. Alimentado com 15 anos de imagens de satélite, ele descarrega no computador do usuário projeções de safra com 95% de margem de acerto mediante o pagamento de mensalidades a partir de R$ 19.

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Para se ter uma ideia do impacto esperado com o serviço, atualmente, as análises do tipo chegam a custar 100 vezes mais. O negócio é tocado por um ex-policial ambiental de Araraquara, no interior paulista, formado em biologia e com mestrado em agronomia.

Ele encubou a empresa em um centro ligado à Universidade de São Paulo (USP), especializado em startups para o campo, na cidade de Piracicaba, também no interior. Para rodar uma versão experimental, que está no ar há duas semanas, e começar a operar a empresa, o empreendedor recebeu aporte de R$ 2,5 milhões da gestora de capital de risco SP Ventures, que prevê injetar R$ 15 milhões na empresa em três anos de acordo desde que haja o cumprimento de algumas metas, todas relacionadas aos resultados financeiros e comerciais.

Queridinho. O Agronow chama a atenção do mercado justamente pelo ineditismo e capacidade de ganhar escala global entre grandes produtores de grãos, como os americanos, europeus e australianos.

O que é tratado como diferencial é a complexidade de entregas possibilitadas pela ferramenta, que avalia até mesmo qual é a área de maior produtividade na plantação a partir de um algoritmo que consegue medir a qualidade da energia dentro da planta.

“Eu conheci essa tecnologia de leitura de energia na politécnica, onde eu fazia mestrado, e apliquei às imagens de satélite que compramos e com ela alimentamos o sistema”, afirma o empresário Antônio Morelli, que tinha o sonho de se tornar o primeiro doutor da Polícia Militar de São Paulo, mas precisou abandonar a corporação depois de divergências envolvendo sua agenda de plantões com os estudos a que se dedicava.

Morelli é um exemplo do movimento de empreendedores tecnológicos que tem passado à margem do noticiário – e também de alguns investidores. São desenvolvedores de soluções em hardware e software para a agricultura, organizados em um ecossistema que se espalha por São Paulo.

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Expansão. “O Brasil já é uma potência nesse setor”, conta Pedro Waengertner, da Aceleratech, empresa que prepara negócios de tecnologia para se tornarem lucrativos. “A gente está entrando no mercado agro agora”, conta ele, que tem no portfólio uma startup chamada Jetbov, que integra ferramentas virtuais de gestão para produtores com até 3 mil cabeças de gado – os pecuaristas de porte tem em média 40 mil animais.

Atualmente, o principal fundo de investimentos da área é a SP Ventures, criado por Francisco Jardim. Com histórico de nove investimentos na área, Jardim acaba de fechar um aporte para a Agrosmart, da empresária Mariana Vasconcelos. A empreendedora criou uma plataforma que conecta um aplicativo para smartphones a sensores instalados na terra e mapas de satélite. A tecnologia faz um mapeamento do uso do solo, da qualidade da safra e ajuda a racionalizar o aproveitamento da água disponível, o que culmina em uma economia de 30% a 70% de água para o agricultor.

Formada em administração de empresas pela Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, Mariana ganhou destaque no ano passado após desbancar outros 562 projetos em um concurso organizado pela Nasa e que deu a ela uma bolsa de estudos na Singularity University, instalada dentro de uma base da agência espacial americana no Vale do Silício.

“A experiência foi importante para a gente ampliar um pouco o alcance da nossa startup”, conta ela, que aprendeu a utilizar os mapas de satélite para análises na agricultura. “Antes, nosso foco era na economia de água, agora a gente consegue fazer uma análise sobre a qualidade da planta”, disse a empresária, que captou R$ 2,5 milhões. “A gente disse que faria o aporte caso ela validasse a operação e conseguisse um cliente. E ela fechou um contrato de recorrência com a Coca-cola”, afirma Francisco Jardim. “Não dava para não investir.”

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O contrato em si é o de monitoramento de pequenos produtores que fornecem insumos para a linha de sucos da gigante de bebidas. “Vamos rodar no Espírito Santo um primeiro projeto com 17 produtores de goiaba. O projeto é de três anos”, afirma Mariana, que passou pelo programa Startup Brasil e foi assessorada pela aceleradora Baita, de Campinas.

Protagonismo. A agricultura é o principal motor da economia brasileira e a atual recessão resultou em um aumento da importância do setor agropecuário no Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com balanço feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a participação do setor no PIB passou dos 21,4% registrados em 2014 para 23% em 2015. Somente no primeiro trimestre de 2016, o valor bruto da produção agropecuária registrou faturamento de R$ 515,2 bilhões, aumento de 0,7% na comparação com os R$ 511,4 bilhões de 2015.

De olho nesse protagonismo que a tecnologia pode assumir nessa área no Brasil, grandes empresas começam a buscar oportunidades de negócios. A Monsanto, por exemplo, anunciou sua entrada no fundo de investimentos Brasil Aceleradora de Startups, a BR Startups. O aporte inicial oscilará entre R$ 250 mil e R$ 1,5 milhão. A empresa também está apostando em sua afiliada digital, a The Climate Corporation, no Brasil.

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