Uma experiência despojada, de preço mais acessível, e atenta à sustentabilidade. O vinho em lata abriu caminho no mercado brasileiro nos últimos anos e ganhou um atalho com a pandemia e a consequente alta no consumo da bebida no País em 2020. A pioneira no setor no Brasil inaugurou um quiosque em março na Praia de Ipanema, no Rio, e planeja começar a exportar. Novas marcas apareceram, uma delas em janeiro deste ano. Nas várias empresas, mais lançamentos estão previstos para maio e os faturamentos, já na casa dos milhões, não param de subir.
O vinho em lata é produzido com uvas do Rio Grande do Sul, cultivadas na Serra Gaúcha e também nos Pampas. As latinhas da Mysterius, de elegante design e formato mais alto com 310 ml cada, chegaram ao mercado em março, com a bebida produzida pela Estância Guatambu, uma das proprietárias da nova empresa.
“A gente queria uma linguagem que fugisse do padrão dos vinhos, leve e atraente. Muito do enfoque foi pensado para esse público jovem que está migrando dos drinques e para quem já consumia um vinho reserva, mas não fica limitado a levar garrafa se vai para o campo ou para uma festa”, diz Gabriela Potter, sócia da Guatambu e diretora da Mysterius para produção.
O primeiro lote de 20 mil unidades se dividiu igualmente entre Veraz (tinto seco) e Intuição (espumante brut). Para o próximo mês, mais dois vinhos chegam ao público: o rosé Dasmarias e o branco Solstício. “Todas as uvas na Campanha são viníferas. Estamos na latitude 31, com verão seco de muita insolação e inverno com temperaturas baixas constantes. O clima permite qualquer tipo de vinho”, explica a enóloga.
“É verdade que você não vai sentir todos os aromas na lata. Mas, se é para ser um momento mais informal, é prático e vai compensar pelas outras experiências.” Vinícola boutique, com pequenos lotes e garrafas numeradas, a Guatambu produz 120 mil garrafas por ano e projeta 60 mil latinhas da Mysterius para 2021. “A nossa marca já tem reputação. Nunca vai criar um produto se não for de extrema qualidade”, afirma Gabriela.
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Lançada no ano passado, a Lovin’ Wine também se preocupou em conquistar os consumidores pelo paladar. “Fechei uma parceria com a Casa Perini, vinícola gaúcha muito conhecida, que desenvolveu um blend de vinho frisante, algo que fosse fácil de beber”, conta João Paulo Sattamini, CEO da empresa. “Não é para um cara que lê Wine Spectator, mas também não é um vinho barato, ruim. Logo no primeiro ano, ganhamos o Wines of Brazil Awards Gold com o rosé.”
Com dez anos de experiência em bebidas não alcoólicas, Sattamini criou o Organique, primeiro energético orgânico brasileiro, feito de erva-mate, açaí e guaraná e vendido em lata. “Acredito muito na sustentabilidade, em causar o mínimo impacto possível. A lata tem uma das maiores taxas de reciclagem no Brasil. O vidro pode ser 100% reciclável, mas não é 100% reciclado.”
De setembro de 2020 a março de 2021, a Lovin’ faturou R$ 1 milhão. “A gente lançou o produto em agosto do ano passado. É uma startup de vinho DNBV (Digitally Native Vertical Brand): faz produção, parte industrial, desenvolvimento de produto, marketing e distribuição até o cliente”, explica Sattamini.
O primeiro lote de 15 mil latas, inicialmente previsto para durar uns três meses, vendeu em menos de 30 dias. “Foram dois motivos: o consumo de vinho cresceu 30% na pandemia e a venda online de vinho cresceu acima de 50%”, diz. Depois do sucesso dos frisantes, a marca lança o rosé seco na primeira semana de maio. A Lovin’ espera faturar R$ 5 milhões neste ano.
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A Vivant Wines, pioneira no vinho em lata no Brasil, quer atingir R$ 23 milhões de faturamento em 2021 – nos dois anos anteriores, início da operação, a empresa alcançou R$ 1,2 milhão (2019) e R$ 6 milhões (2020). “A ideia é continuar fortalecendo a distribuição física no Brasil, e parte desse volume virá da exportação, prevista para o segundo trimestre. A gente quer começar pelos países vizinhos”, afirma Alex Homburger, CEO da empresa. Presente em mais de 4 mil pontos de vendas em 25 Estados brasileiros, a Vivant mantém uma negociação avançada para vender para o Peru e o Paraguai.
Antes do verão passado, em outubro, os consumidores foram apresentados aos dois frisantes da marca. “Branco e rosé são vinhos mais flexíveis em termos de clima e temperatura e se encaixam muito bem na lata”, diz Homburger.
Com intuito de reforçar a identidade do produto, a empresa abriu um quiosque na orla de Ipanema. “O Rio recebe bastante turista o ano inteiro, então não atinge só o carioca. A praia para a Vivant é muito importante. É um dos principais locais de consumo do vinho em lata, como a piscina.” No quiosque, são vendidos os cinco vinhos da marca, incluindo tinto, rosé e branco secos, produzidos pela Quinta Don Bonifácio, em Caxias do Sul.
O CEO da Vivant acredita que o setor ainda tem muito a crescer no Brasil. “Os Estados Unidos são os mais avançados em termos de vinho de lata, com cerca de 300 marcas. Lá o mercado cresceu mais de 90 vezes nos últimos oito anos. A gente usa isso de benchmarking”, diz.
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A Vinícola Góes, em São Roque (SP), decidiu entrar nesse mercado também, levando em conta a sustentabilidade com a reciclagem da lata, a facilidade do consumo em porções menores e a possibilidade de ganhar consumidores. Participante do Roteiro do Vinho de São Paulo, a empresa lança sua linha Sauv até o início de maio deste ano, quando os frisantes branco e rosé devem estar à venda na loja virtual da marca.
Vinho na caixa de papelão
Adriano Santucci, da Fabenne, vê o vinho fora da garrafa no Brasil do mesmo modo. “Temos de desritualizar e diminuir esse preço. Novos formatos vão ajudar muito a categoria. As vinícolas do Sul são boas em terroir, e a Fabenne e outras marcas, em encontrar o consumidor final e distribuir”, diz o sócio da startup, que envasa o vinho produzido pela Cooperativa São João, de Farroupilha. “Eles têm 450 famílias descendentes de italianos, cultivando uva há mais de 100 anos, muito focados na elaboração do vinho.”
A Fabenne, no entanto, trabalha com outro formato de embalagem: bag-in-box. “É muito conhecido no mundo inteiro e é realmente um saquinho dentro da caixa. Vão mais de 800 tipos de resinas no saco, o que mantém a qualidade do vinho. Tem a torneirinha e a gravidade empurra o vinho para baixo, evitando entrar tanto ar. Existem estudos que mostram que, se você toma uma taça por dia da bag in box, o vinho pode durar até oito semanas.” A caixa de três litros, segundo ele, ainda tem a vantagem do preço. “Nosso custo acaba sendo de R$ 5 a R$ 6 por taça, com umas 20 ou 30 por mês.”
A empresa começou em 2017, mas focou no consumidor final apenas a partir de março de 2020. “A gente queria testar o conceito com bares e restaurantes, ter uma chancela, validar o produto”, conta Santucci. Em 2019, a empresa atendia diretamente 360 estabelecimentos. “Quando chegou a pandemia, ficaram dez e a inadimplência aumentou, então a gente decidiu contar a história do bag in box e investiu no ecommerce.”
Terminou o ano passado com R$ 4 milhões de faturamento e 10 mil clientes na base do seu ecommerce. Para este ano, a meta é chegar a 50 mil casas e faturar R$ 16 milhões. “Cerca de 30% dos nossos consumidores compram dois bags por mês. Vamos expandir de três para seis tipos de vinho em maio. O tinto é o que mais vende, de 60 a 70%.”
Quanto custa
Mysterius: Com seis unidades de 310 ml, o pack de 310 ml custa R$ 210 (o valor individual fica em R$ 35)Lovin’: A caixa com quatro latas de 269 ml sai por R$ 79,60 (equivalente ao custo unitário de R$ 19,90)Vivant: Por R$ 76,50, o kit degustação inclui cinco latas de 269 ml (uma de cada tipo de vinho da marca)Góes: A lata de 269 ml custa R$ 15Fabenne: A R$ 99, a embalagem contém três litros de vinho – rosé e branco estão em oferta, a R$ 84 cada
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