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Alckmin condena invasões do MST durante reunião com bancada ruralista: ‘Invadiu, desinvadiu’

Após ir à feira nacional dos sem-terra, vice-presidente quase é desconvidado para almoço com bancada ruralista; encontro é mantido e termina em ‘causos’

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – Três dias depois de comparecer à Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Sem Terra, em São Paulo, o vice-presidente Geraldo Alckmin almoçou com deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e condenou invasões de terra. Antes mesmo de ser questionado sobre o assunto, nesta terça-feira, 16, Alckmin se antecipou e disse que, se há invasão de uma propriedade pública, não é necessário nem mesmo pedir reintegração de posse.

“Invadiu, desinvadiu. É simples assim. Cumpra-se a lei”, afirmou o vice, que também é ministro da Indústria e do Comércio. “Invasão não pode ser tolerada por ninguém. Está na Constituição.”

Alckmin participou no sábado da feira do MST, ao lado de Stédile, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadao Foto: TABA BENEDICTO

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Ao retomar o discurso de tolerância zero a invasões de terra, Alckmin destacou que suas posições eram as mesmas das do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi secretário de Segurança Pública quando ele era governador de São Paulo.

“Se alguém invade uma propriedade, peço a reintegração de posse e cabe ao Estado imediatamente executar. (...) Então, total respeito à propriedade privada. Vou mais longe, hein? Se for propriedade pública, não precisa nem reintegração de posse”, argumentou o vice, que se filiou ao PSB no ano passado, após três décadas no PSDB.

Alckmin lembrou de pareceres sobre o assunto quando governava São Paulo. “O ministro Alexandre de Moraes, que era meu secretário de Segurança Pública, dizia: ‘Geraldo não há necessidade de pedir reintegração de posse. Invadiu um prédio público, reintegra direto’”.

Desconvite

O convite para Alckmin expor suas ideias à bancada do agronegócio – da reforma agrária à tributária, passando pelo arcabouço fiscal e Marco Legal do Saneamento – foi feito bem antes de sua visita à feira do MST, no sábado. Na ocasião, ele se deixou fotografar ao lado de João Pedro Stédile, líder do movimento que promoveu o “Abril Vermelho”, com invasões de pelo menos 13 fazendas, entre as quais as da Suzano, além de uma área de pesquisa da Embrapa Semiárido.

Deputados da FPA cogitaram, então, a possibilidade de “desconvidar” Alckmin para o almoço, mas a ideia foi rejeitada. Durante a feira do MST, o vice chegou a ser saudado como “guerreiro do povo brasileiro”. Outros ministros, como Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Luiz Marinho (Trabalho), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Gabriel Galípolo – indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Banco Central – também compareceram ao evento dos sem-terra. Uma foto gigante de Fernando Haddad, titular da Fazenda, estampava a propaganda de fubá comercializado por pequenos produtores.

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A presença de ministros naquela feira irritou o agronegócio. Nos últimos dias, a bancada ruralista foi a que mais se empenhou para conseguir assinaturas favoráveis à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST. O colegiado pode ser instalado nesta quarta-feira, 17.

Na conversa com os integrantes da FPA, que durou mais de duas horas, Alckmin foi bastante questionado sobre invasões e não poupou críticas a esses atos. Disse, no entanto, que a feira do MST era “familiar” e vendia “produtos orgânicos e artesanais”, tão importantes como os da agricultura comercial. O deputado Ricardo Salles (PL-SP), escolhido como relator da CPI do MST, afirmou ali que, quando Alckmin era governador, essa feira nunca foi realizada.

Dirigentes da FPA pediram ao vice-presidente que atuasse como “ponte” para o diálogo do agronegócio com o governo Lula. Ao final do encontro, Alckmin conseguiu descontrair o ambiente e até contou seus famosos “causos”, que arrancaram gargalhadas da plateia. “É preciso construir pontes. Acho que a gente vai acertando, avançando. E o Brasil, hoje, é mais difícil de governar”, argumentou.

Para o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), Alckmin deixou claro que não aceita a invasão de terras privadas e produtivas, a exemplo do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. “Fica um pouco ainda a dúvida em relação a membros desses movimentos que invadem propriedades e estão no governo, quando há um posicionamento contrário às invasões por parte do governo. Eu sempre digo: cada um controla os seus aliados”, afirmou Lupion.

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A relação entre o Palácio do Planalto e a bancada do agro está bastante desgastada. Na quinta-feira, 11, Lula classificou os organizadores da Agrishow como “fascistas”, “negacionistas” e “maus caracteres” e disse que Fávaro foi “desconvidado” para a feira de Ribeirão Preto, maior evento do setor na América Latina. Ruralistas, por sua vez, não gostaram da presença de Stédile na comitiva de Lula à China, no mês passado, nem de ver o MST integrando o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável.

“Você gosta de se aproximar de quem te xinga?”, indagou Lupion, ao ser perguntado por jornalistas, após almoço com Alckmin, sobre o fato de Lula ter se referido a organizadores da Agrishow como “fascistas”. “Ultimamente, cada vez que o presidente Lula abre a boca, tem afastado ainda mais vários aliados”, emendou o deputado.

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