Análise: Disfarçado, viés autoritário esteve subjacente aos atos
Em cima dos caminhões de som não se ouviram palavras de ordem pelo fechamento do Congresso ou do Supremo
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Por Vera Magalhães
2 min de leitura
O cavalo de pau dos últimos dias nas pautas autoritárias e belicistas das manifestações deste domingo surtiu efeito de saneamento básico: em cima dos caminhões de som e por parte dos coordenadores (quando era possível identificá-los) não se ouviram palavras de ordem pelo fechamento do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federal.
Mas o germe havia sido plantado, e a intenção inicial de apresentar os demais Poderes como inimigos do governo Jair Bolsonaro esteve presente em faixas, pixulecos como o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cartazes e gritos de guerra no asfalto de Norte a Sul.
Ato pró-governo Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO
Na Paulista, epicentro desse e dos últimos grandes atos, havia muito menos gente que nas jornadas de 2013 e nas de 2015 e 2016, pelo impeachment de Dilma Rousseff. O número de pessoas foi próximo ao do ato do dia 15, contra os cortes na Educação (e, assim, antigoverno).
Mas o cálculo de participantes e a comparação com o dia 15 importam menos que o efeito das manifestações na relação entre governo e Congresso.
Os militantes foram levados a acreditar que sua presença nas ruas acuará o Centrão, em particular, e o Congresso, em geral, e os convencerá na marra a votar a reforma da Previdência, o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro e o que mais vier do Palácio do Planalto a toque de caixa.
Não é bem assim. Embora seja verdade que, nos últimos anos, o escrutínio das ruas e das redes sociais tenha adquirido mais peso para os parlamentares, o Legislativo continua cioso de suas prerrogativas e não vai abrir mão delas em favor de um plebiscito permanente.
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Se Bolsonaro achar que porque as pessoas foram às ruas ele poderá governar à revelia do Congresso, cometerá (mais) um erro crasso. É preciso que haja assessores que lhe digam que quem foi à rua é um contingente menor que o de seus próprios eleitores. Em número e em representatividade (basta ver as defecções na centro-direita).
O melhor, na verdade o único, caminho para a aprovação das iniciativas do governo continua sendo a democracia representativa. A conferir o estrago que a confrontação de ontem pode causar.
Veja imagens das manifestações pró-Bolsonaro ao redor do Brasil
1 / 26Veja imagens das manifestações pró-Bolsonaro ao redor do Brasil
Rio de Janeiro (RJ)
No Rio de Janeiro, os manifestantes se reuniram na orla de Copacabana Foto: Fábio Grellet/Estadão
Brasília (DF)
Em Brasília, a manifestação começou por volta das 10h, e no início da tarde já se dispersava. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
Brasília (DF)
No Distrito Federal, o Congresso foi um dos alvos dos manifestantes Foto: Dida Sampaio/Estadão
Brasília (DF)
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi criticado pelos manifestantes em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão
Brasília (DF)
Manifestantes em Brasília em apoio ao presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio/Estadão
Brasília (DF)
Vista aérea do Congresso Nacional na manhã deste domingo Foto: Dida Sampaio/Estadão
Belém (PA)
Os atos de apoio ao governo em Belém do Pará Foto: Rita Soares/Estadão
Salvador (BA)
Os manifestantes também foram às ruas em Salvador, na Bahia Foto: Heliana Frazão/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
No Rio, um pequeno grupo pedia intervenção militar Foto: Fabio Grellet/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
Classe política foi criticada nos atos em Copacabana Foto: Fabio Grellet/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
Um grupo pediu o fim do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Foto: Fabio Grellet/Estadão
São Paulo (SP)
Manifestantes se reuniram em frente ao Masp em São Paulo Foto: ALEX SILVA /ESTADAO
São Paulo (SP)
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi alvo de críticas em São Paulo Foto: Pedro Venceslau/Estadão
São Paulo (SP)
Inflável do presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO
São Paulo (SP)
Ato no início da tarde na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: Fabio Leite/Estadão
Brasília (DF)
Boneco para representar político em Brasília Foto: Amanda Pupo/Estadão
Brasília (DF)
Manifestantes se vestiram de lagosta para criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) Foto: Amanda Pupo/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
Pautas dos atos no Rio foram variadas. Foto: Fabio Grellet/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
Pixulecos de Lula e de Rodrigo Maia na manifestação do Rio de Janeiro. Foto: Fábio Grellet/Estadão
Belo Horizonte (MG)
Cartazem BH faz referência à discussão entre o deputado federalZeca Dirceu e o ministro da Economia Paulo Guedes em abril. Foto: Leonardo Augusto/Estadão
Rio de Janeiro (RJ)
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi alvo de críticas no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Fábio Grellet/Estadão
Salvador (BA)
Pautas como o apoio ao pacote anticrime e CPI da Lava Toga foram comuns em diversas cidades. Na foto, Salvador (BA) Foto: Heliana Frazão/Estadão
Brasília (DF)
Sérgio Moro virou super-heróiem manifestação de Brasília Foto: Amanda Pupo/Estadão
Belo Horizonte (MG)
Na capital mineira, os atos se concentraram na Praça da Liberdade Foto: Leonardo Augusto/Estadão
Curitiba (PR)
Na capital paranaense, os manifestantes se reuniram à tarde na praça Santos Andrade Foto: Julio Cesar Lima/Estadão
Porto Alegre (RS)
O Parcão foi o ponto de encontro em Porto Alegre Foto: Luciano Nagel/Estadão