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‘Ao atacar no Brasil, o terror quer mostrar que ninguém está a salvo no mundo’, diz militar

Instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e especialista em combate ao terrorismo explica ao ‘Estadão’ quais os interesses do Hezbollah no Brasil

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

Instrutor de Guerra Irregular na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e especialista em combate ao terrorismo – formado pelo Centro de Instrução de Operações Especiais –, o major Frederico Salóes adverte que as ações em território brasileiro do Hezbollah contra a comunidade judaica teriam um único objetivo: o impacto psicológico de mostrar que qualquer um no mundo pode ser atacado, até mesmo quem vive em um País tropical sem antecedentes desse tipo de ação. O Estadão fez quatro perguntas ao militar. Ei-las.

O major Frederico Salóes, instrutor de guerra irregular da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), especialista em combatre ao terrorismo Foto: ARQUIVO PESSOAL / FREDERICO SALÓES

É possível saber qual a importância da América Latina para as operações do Hezbollah?

A importância da América Latina é sobretudo pelo fato de ela abrigar a maior comunidade libanesa do mundo fora do Líbano. São de 7 milhões a 10 milhões de integrantes, a maioria concentrada na região da tríplice fronteira. Se levarmos em consideração o primeiro ciclo da atividade terrorista, você tem a sensibilização, seguida da radicalização, até o treinamento para o terror. Para tudo isso é necessário o financiamento, e isso nós temos na tríplice fronteira. Lá há diversos crimes transfronteiriços sendo praticados e, com eles, se pode financiar a atividade terrorista de organizações como o Hezbollah. Outro fator importante é utilizar a região para o chamado esfriamento, que é o refúgio de terroristas após atentados. Aqui temos miscigenação e um grande acolhimento de imigrantes, um contexto propício para o esfriamento ou para o planejamento de atentados com certa facilidade. É cada vez mais forte o nexo entre crime e terror. Por exemplo, uma organização terrorista pode transportar droga pelo Sahel (na África) para a Europa a serviço de uma organização criminosa e cobrar pedágio pelo trabalho.

O que a operação desta quarta pode trazer de ensinamento para o combate ao terror no Brasil?

Quando falamos de combate ao terror temos de diferenciar o antiterrorismo do contraterrorismo. O antiterrorismo é uma série de medidas preventivas, como a fiscalização e controle da entrada e saída de pessoas do País ou o controle de sua aduana. Ou ainda o combate aos crimes cibernéticos, que podem estar por trás da lavagem de dinheiro do terror. É preciso, assim, fortalecer a capacidade de ações interagências do País e criar uma mentalidade para se perceber a ameaça para que sejam feitas ações do contraterrorismo proativas, para evitar as ações dos terroristas. Nesse aspecto, a capacidade de análise de dados é fundamental.

Qual a importância da cooperação entre as agências internacionais, como neste caso, com a participação do Mossad?

É extremamente importante. E não só do Mossad, mas da Interpol do adido policial brasileiro em Israel. A cooperação entre as agências e a capacidade de análise de informações são fundamentais para frustrar essas ações. O Brasil tem se mostrado capaz de compartilhar informações e de vencer o ego entre as instituições, o que é necessário para se poder atuar de forma proativa positivamente. É preciso ainda haver confiança entre os elementos dos diversos órgãos para o sucesso da missão.

Por que o Brasil ser tornaria um alvo compensador para o terrorismo de grupos como o Hezbollah?

Manter o Brasil fora do alvo do terror compensa em razão das atividades desenvolvidas aqui, como a lavagem e o uso do País para o esfriamento. Se um atentado aqui tem êxito, a resposta seria um aumento da fiscalização, perturbando aquelas atividades. Para superar esses benefícios e agir no Brasil, seria preciso pensar no impacto psicológico de um atentado no Brasil. Ele seria grande. E demonstraria que qualquer um pode ser atacado, que ninguém está a salvo no mundo, nem mesmo quem está em um país tropical, sem tradição desse tipo de ação. Em grande parte para nós, brasileiros, é inimaginável um atentado. Um aspecto que pode levar à decisão de agir no Brasil seria a sensação de medo, de que ninguém está a salvo. É o medo e a violência como propaganda, além da indignação no mundo, até em um país tropical que dispõe do Comando de Operações Especiais (COE), do Exército, do Comando Naval de Operações Especiais, da Marinha, e da Divisão Antiterror da Polícia Federal, que servem de dissuasão para esses atos.

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