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Opinião|Decifrando as transações de M&A no Brasil em 2023 e vislumbrando horizontes promissores para 2024

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No final de 2022, diante da instabilidade internacional e da crise geopolítica global decorrentes da guerra na Ucrânia, da imprevisibilidade econômica em razão das eleições para a presidência do Brasil, e da alta inflação global, as incertezas quanto ao investimento no mercado brasileiro eram inúmeras.

Carla Calzini Foto: Divulgação

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Entrando no primeiro semestre de 2023, o caso Americanas impactou de forma relevante o mercado de crédito e o mercado de capitais, havendo, por exemplo, saques de montantes significativos por fundos, o que pode ter representado um recuo para os investimentos, por exemplo.

Os debates relacionados à reforma tributária levaram também a questionamentos quanto a como esta pode impactar as transações de M&A, mudando o mindset de negociação de preço e valuation da empresa-alvo.

Todo este cenário pode explicar a queda no volume das operações de M&A (sigla para Mergers and Aquisitions – Fusões e Aquisições) no primeiro semestre de 2023, se comparado com o mesmo período do ano passado.

Já no segundo semestre de 2023, com a tendência de redução da taxa de juros e após a adaptação ao novo governo, notou-se um crescimento na confiança dos investidores, inclusive maior fluxo de estrangeiros, por operações de M&A estratégicas. Ou seja, um perfil de M&A que visa a integração dos negócios, união de sinergias, redução de custos, agregando valor significativo às empresas-alvo e impulsionando seu crescimento sustentável.

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Os M&As reportados até o momento envolvem diversos setores da economia, dentre os quais pode-se citar alguns que ganharam maior notoriedade: aquisição da Laager pelo Grupo Constanta, que se tornou a maior empresa de Internet das Coisas (IoT) da América Latina; aquisição da Kopenhagen pela multinacional Nestlé, player estratégico com apetite na indústria alimentícia brasileira; a aquisição da Aesop, pertencente à Natura, pela L’Oréal; e aquisição da Magnetis, gestora digital que atende alta renda, pelo BTG Pactual.

Apesar do otimismo depositado, segundo TTR Data, os M&As no Brasil sofreram uma queda de cerca de 24% em comparação com o mesmo período de 2022, tendo por base as transações ocorridas até outubro de 2023. Em comparação com os demais países da América Latina, no entanto, o Brasil lidera o ranking de transações. Inclusive o setor de tecnologia acompanhou esta desaceleração, embora tenha se mantido como o setor com mais transações no ano. Os Estados Unidos foram o país que mais investiu nas operações desta natureza.

Ainda segundo o TTR Data, foram 1.617 transações registradas, de janeiro a outubro de 2023, movimentando um total de R$ 178 bi.

Importante levar em consideração, em paralelo, que os anos de 2021 e 2022 tiveram um número elevado de M&As anunciados – o que, segundo relatório da PwC, poderia acabar obstando o patamar esperado para o ano de 2023.

Na contramão, destaca-se o setor do agronegócio que está em crescente ascensão. Segundo a PwC, neste ano de 2023 houve um aumento significativo nas transações de M&A envolvendo este segmento, cujo capital investidor, em sua maioria, é nacional, o que demonstra que o Brasil tem capital interno disponível e que os investidores brasileiros estão cada vez mais sofisticados.

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Com relação aos investimentos em Private Equity e Venture Capital (ativos alternativos que investem em companhias pequenas e médias com alto potencial de crescimento e rentabilidade), houve uma queda de 15% no número de operações em PE e de 42% de VC, de acordo com TTR Data, em comparação ao período de janeiro a outubro de 2022.

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No âmbito cross-border, segundo TTR Data, empresas brasileiras voltaram-se principalmente para os Estados Unidos, realizando 28 transações no valor de R$ 4,7 bi até outubro de 2023, seguidas pelo Reino Unido com nove operações.

Aqui importante trazer outro impacto relevante do ano de 2023 relativamente ao investimento dos brasileiros em fundos estabelecidos em jurisdições estrangeiras, o qual passou a sujeitar-se à taxação. A ferramenta antes utilizada pelos brasileiros como uma forma de diversificar seus portfólios e proteger seus ativos, reduzindo sua exposição aos riscos associados às implicações fiscais e regulatórias, na medida em que as jurisdições offshore frequentemente oferecem tributação mais favorável e maior sigilo financeiro, com maior estabilidade política e jurídica, agora está sujeita aos impactos da reforma em fundos exclusivos e offshore.

Embora as transações de M&A em 2023 possam não ter atingido as expectativas almejadas ou traçadas ao final de 2022, a análise revela uma importante jornada de aprendizado para o mercado. Diante de desafios, é fundamental reconhecer as lições e ajustar as estratégias.

O Brasil tem um potencial substancial para projetos de energia renovável, como eólica e solar, sendo também líder global em agricultura, com vastas terras aráveis e forte desempenho no agronegócio.  Quanto ao setor de tecnologia do Brasil, frente à estabilização, a tendência é que novos investidores retomem interesse, fomentando o seu crescimento.

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O otimismo para as transações em 2024 se alimenta não apenas da resiliência do mercado, mas também das mudanças no cenário político dos países vizinhos e da adaptação às mudanças geopolíticas como alicerce para uma revitalização bem-sucedida das transações de M&A, permitindo que o mercado se reposicione em direção a um futuro promissor.

*Carla Calzini, sócia responsável pela área societária e de M&A do Briganti Advogados

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