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Delator diz que liberou R$ 4 milhões a Moreira Franco para evitar 'retaliação' no Galeão

Benedicto Júnior, o BJ, afirmou à força-tarefa da Lava Jato pagamento foi realizado em 2014 'a pretexto de campanha eleitoral' porque tinha 'medo' de perder concessão

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Moreira Franco. Foto: Sergio Castro / Estadão

No inquérito que investiga os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, por suspeita de cobrança de propina para irrigar campanhas eleitorais do PMDB, os delatores da Odebrecht descrevem como e por que motivos repassaram vantagens indevidas ao grupo de Michel Temer na Câmara dos Deputados.

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Uma das afirmações, do ex-diretor da área de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior (conhecido como "BJ"), é a de que repassou R$ 4 milhões em 2014 a pedido de Moreira Franco, a pretexto de campanha eleitoral, porque tinha "medo de ser retaliado" no setor da aviação civil. Moreira Franco era o ministro da pasta no governo Dilma. O Grupo Odebrecht ganhara pouco tempo antes a concessão do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.

No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, descreveu relações "mais longevas do que se poderia supor" entre Padilha, Moreira e o atual presidente Michel Temer. Os três, segundo Janot, capitaneavam um grupo do PMDB na Câmara que contava também com o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Apesar de ter sido citado, Temer não será investigado devido à "imunidade temporária" que detêm os presidentes da República no exercício do cargo.

Benedicto Júnior reconhece a influência de Moreira Franco ao dizer que se sentiu impelido a autorizar o pedido de R$ 4 milhões que ele fez a Cláudio Melo Filho, e diz que o apelido do hoje ministro nas planilhas do departamento da propina da Odebrecht era "primo" devido ao parentesco com Cláudio Melo.

"Ele era uma pessoa muito próxima do núcleo duro do governo federal. Ele era representante do PMDB mais forte, ligado ao vice-presidente Temer. É provável que eles pudessem nos retaliar com alguma coisa, já que ele tinha um poder muito grande na Secretaria de Aviação e o Galeão tinha uma série de demandas até a sua efetiva implantação e operação pós a entrada no privado. Ele poderia criar alguma dificuldade", disse Benedicto Júnior no depoimento dado à PGR no acordo de delação premiada.

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Ele explica que o setor era estratégico para a empresa e a competição era ferrenha, razão pela qual não deveria frustrar um pedido de Moreira.

"Havia uma briga muito grande entre os privados no setor de aviação e efetivamente tinha uma guerra de bastidores. O Moreira era uma pessoa que podia pender para um lado e para o outro. Por medo de ser retaliado, ou que ele fizesse alguma coisa para prejudicar a chegada e saída de voos do Rio de Janeiro, que era um projeto frágil do ponto de vista de demanda, era uma preocupação constante nossa. Nós não poderíamos nunca ter ido contra alguma agenda que pudesse piorar a nossa situação", afirmou BJ.

Sobre o montante de R$ 4 milhões, BJ disse que considerou natural, porque Moreira Franco se apresentava como arrecadador do PMDB. "Ele fez uma arrecadação como sendo uma pessoa que estava fazendo uma coleta para o partido... Era um valor dentro do planejado para uma pessoa com a dimensão que ele tinha no partido".

De acordo com as informações cruzadas a partir dos depoimentos dos delatores, os R$ 4 milhões foram entregues em um escritório de Eliseu Padilha. O local é na Rua Siqueira Campos, em Porto Alegre. O direcionamento foi dado por Moreira Franco, segundo BJ.

Jantar. Outros fatos narrados neste inquérito se referem ao jantar entre Temer, Marcelo Odebrecht e Eliseu Padilha, narrados pelo próprio Marcelo e pelo ex-diretor de Relações Institucionais Cláudio Melo Filho.

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Melo Filho descreve Padilha como um representante de Michel Temer. Com base no relato do delator, Janot diz que Padilha atuava como "verdadeiro preposto de Michel Temer, deixando claro que muitas vezes falava em seu nome e utilizava seu peso político para obter êxito em suas solicitações".

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