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Entenda os elos de empresários bolsonaristas e grupo que financia fake news, segundo o gabinete de Alexandre

Policiais federais e juiz instrutor do gabinete do ministro Alexandre de Moraes traçaram 'liame fático' entre os alvos de cinco inquéritos em curso no STF e aliados do presidente Jair Bolsonaro flagrados no Whatsapp supostamente defendendo golpe de Estado em caso de vitória de Lula nas eleições de outubro

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Por Pepita Ortega , Rayssa Motta e Fausto Macedo
Atualização:

Empresários são investigados sob suspeita de financiamento de manifestações antidemocráticas. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Antes da deflagração da operação de buscas em endereços de oito empresários bolsonaristas que estariam defendendo um golpe de Estado em caso de vitória do ex-presidente Lula nas eleições de outubro, a Polícia Federal e o juiz Airton Vieira - instrutor do gabinete do ministro Alexandre de Moraes - traçaram um 'liame fático' entre alvos de cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal e aliados do presidente Jair Bolsonaro.

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Foi apontado, por exemplo, que um grupo de Whatsapp na mira do inquérito das fake news tem participantes em comum com aquele no qual foi defendido um golpe de Estado. Além disso, foram citadas ligações entre empresários investigados no inquérito das milícias digitais - investigação derivada da que se debruçou sobre os atos antidemocráticos - e a organização de atos 'violentos' do 7 de Setembro de 2021.

As conexões são citadas no parecer elaborado pelo juiz Ailton Vieira, instrutor no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, como mostrou o Estadão. Na avaliação do juiz, a representação da Polícia Federal, somada a 'outros fortes indícios' que estão sendo analisados nos inquéritos desde 2019, 'não permitem que a troca de mensagens com caráter eminentemente antidemocrático possam ser ignoradas, em especial, às vésperas do dia 7 de setembro'.

LEIA A ÍNTEGRA DO PARECER

Segundo o magistrado, a PF 'corretamente' defendeu a adoção de medidas voltadas a esclarecer as mensagens dos empresários bolsonaristas sob suspeita, 'especialmente considerado o momento pré-eleitoral de acirramento da polarização'. Os empresários negam ter defendido um ruptura democrática e conspirado para um golpe de Estado caso o presidente não ser reeleito em outubro.

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Confira as principais ligações que o juiz Ailton Vieira, instrutor no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, identificou ao analisar cinco inquéritos que tramitam ou tramitaram na corte - o das fake news; o das milícias digitais; o de declarações sobre a pandemia da covid-19; o dos atos antidemocráticos (já arquivado); e o das 'manifestações violentas' no dia 7 de Setembro de 2021.

Inquérito das fake news

Ao rememorar as apurações do chamado inquérito das fake news, Vieira cita, por exemplo, que, em depoimento, delegados da Polícia Federal apontaram Luciano Hang como uma das 'figuras para desestabilizar as instituições', indicando que o empresário 'fez constar que havia disponibilizado ônibus para o transporte de pessoas até Brasília no dia dos chamados atos antidemocráticos.

Segundo o juiz auxiliar do gabinete de Alexandre de Moraes, no bojo de tal investigação, foi apurado que os alvos do inquérito 'integraram um grupo autodenominado de 'Brasil 200 Empresarial''. Ainda de acordo com o magistrado, alguns dos participantes são comuns ao grupo 'Empresários & Politica', no qual teriam sido enviadas as mensagens golpistas que entraram na mira dos investigadores.

Vieira destaca que as diligências do inquérito das fake news estão em andamento, em especial o cruzamento de dados bancários e fiscais dos envolvidos'. Segundo ele, a investigação aponta 'fortes indícios' da participação de empresários integrantes do grupo 'Brasil 200 Empresarial' como 'possíveis financiadores de atos antidemocráticos e notícias fraudulentas' - 'no qual os participantes, entre eles Edgard Gomes Corona, Luciano Hang, Reynaldo Bianchi Junior e Winston Rodrigues Lima, colaborariam entre si para impulsionar vídeos e materiais contendo ofensas e notícias falsas com o objetivo de desestabilizar as instituições democráticas e independência dos poderes'.

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Inquérito das milícias digitais

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A mesma 'estrutura financeira' identificada no inquérito das fake news é investigada no inquérito das milícias digitais, a partir de 'fatos novos' surgidos com a investigação dos atos antidemocráticos, indica Vieira no parecer encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes. A apuração se debruça sobre 'a existência de uma verdadeira organização criminosa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político absolutamente semelhantes aos identificados no inquérito das fake news'.

No bojo de tal inquérito, o juiz destaca que foi apurada a ligação entre o 'núcleo financeiro' com o 'núcleo de divulgação das notícias fraudulentas e da prática de atos antidemocráticos'. A relação em questão é a mantida entre o núcleo identificado no inquérito das fake news com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

Segundo Vieira, foram identificadas mensagens trocadas entre Allan dos santos e 'diversos interlocutores, que indicavam atuação ativa no sentido de organizar e realizar ataques a determinadas autoridades públicas, que fossem contrárias ao posicionamento político de seu grupo, bem como a existência de uma verdadeira 'rede financeira' ao redor da produção e propagação do discurso de ódio, ataques aos Poderes de Estado e instituições e tentativa de rompimento da Democracia e do Estado de Direito com movimentação atípica de valores'.

O juiz lembra, por exemplo, da ligação entre Allan dos Santos e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro. Também rememora mensagens trocadas entre o blogueiro bolsonarista e o deputado Eduardo Bolsonaro sobre um contato com o empresário Luciano Hang para o financiamento de programa de rádio/televisão. O empresário aliado do chefe do Executivo também chegou a ser listado por Allan dos Santos como um 'parceiro-chave', menciona ainda Vieira.

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Inquérito sobre 7 de Setembro de 2021

Outra investigação na qual Vieira buscou 'conexões' foi o que se debruçou sobre os atos antidemocráticos que foram marcados para o dia 7 de Setembro de 2021. O magistrado apontou 'fortes elementos indiciários no sentido de que as manifestações violentas ocorridas na Esplanada dos Ministérios foram impulsionadas, largamente, por pessoas jurídicas, ainda sob investigação, que enviaram diversos caminhões para ameaçar invadir o STF durante a realização' de tais atos.

O juiz auxiliar dá destaque para o empresário Marlon Bonilha, diretor-presidente do Grupo Pro Tork, que, segundo ele, possui relações comerciais com Luciano Hang. A diretoria do grupo Pro Tork também foi recebida por Bolsonaro em 23 de junho de 2021, indica ainda o magistrado. Segundo Vieira, relatório da PF mostrou que Marlon 'teria contribuído de forma efetiva para as manifestações ocorridas no DF, por meio do fornecimento de inúmeros caminhões'.

Inquérito sobre declarações de Bolsonaro sobre a pandemia

O parecer de Vieira sobre as conexões entre os empresários bolsonaristas e outros investigados no STF ainda analisou o inquérito aberto para investigar o presidente sobre os crimes apontados no relatório final da CPI da Covid. Segundo o magistrado, o documento apontou um núcleo de financiamento para a divulgação de fake news sobre a doença, citando como principais 'financiadores' os empresários Luciano Hang e Otávio Fahkoury.

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O juiz auxiliar do gabinete de Alexandre de Moraes registrou que 'provas e indícios existentes nas várias investigações apontam a existência real de um núcleo de financiamento de notícias fraudulentas e de atos antidemocráticos, com a menção expressa de dois dos representados pela Polícia Federal - Luciano Hang (em todas as investigações) e Afrânio Barreira Filho - como possíveis empresários-financiadores e demonstração de interligação com os demais núcleos investigados'.

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