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O sétimo continente

Por Marcelo Souza
Atualização:
Marcelo Souza. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Durante os séculos XV e XVIII iniciava-se a expansão marítima da Europa. Essa fase, marcava uma profunda transformação no sistema feudalista, abrindo espaço para uma nova estrutura econômica baseada em lucro.

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Com essa nova realidade, os governos passaram a buscar alternativas de desenvolver suas economias, a fim de superar a crise que havia se instaurado no século XIV e o desenvolvimento mercantil foi a alternativa encontrada.

Com a situação acima e a busca por novos mercados, além da expansão do comércio em uma escala mundial, gerou um termo pouco difundido, conhecido com a revolução comercial, que por sua vez, teve como resultante a descoberta de vários territórios, entre eles, com destaque o continente americano. Essa expansão resultou no que hoje conhecemos como Mundo Moderno.

Contudo, nas últimas décadas, houve algo inesperado, que alguns especialistas vêm chamando de "sétimo continente". Imagine se um dia acordássemos e estivesse estampado em todas os jornais: "Extra! Extra! Novo continente com população nativa é encontrado". Infelizmente, o sétimo continente não diz respeito a um novo território a ser explorado. Se trata de uma ilha de lixo que está sendo formada no pacífico.

Em 1997, o capitão e oceanógrafo norte-americano Charles Moore, enquanto navegava com seu veleiro, retornando de uma regata náutica, se deparou com um "mar de plástico" tão intenso que foram necessários 7 dias para atravessá-lo, tornando pública a descoberta do "sétimo continente".

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Mas especificamente entre a Califórnia e o Havaí, as correntes marítimas estão formando que triplica o tamanho da França, com cerca de 1,6 milhão de km², composta por estimados 1,8 trilhão de pedaços de plásticos e pesando 80 mil toneladas. Esses dados foram publicados em 2018 pela Nature Reviews e o pior é que esses números não param de crescer. Ainda segundo a publicação, foram encontrados materiais com nove idiomas diferentes e outro fato interessante é que apesar das dimensões, devido as características dos plásticos, o "sétimo continente" não é visível para os satélites.

Não deixa de ser um fenômeno interessante essa formação, se não fosse tão desesperador. Desde o século XV, ou seja, há 500 anos, nosso desenvolvimento está literalmente mudando o mundo, que já apresenta sinais claros de "cansaço". Importante ressaltar que, quando falamos de um planeta, 500 anos não são absolutamente nada.

E isso é somente a ponta do Iceberg, uma vez que uma quantidade enorme desse tipo de material é enviada para aterros e somente uma parte vai para os Oceanos. Além disso, não estamos considerando outros resíduos que geramos, por exemplo, os lixos eletroeletrônicos que de acordo com a International Solid Waste Association (ISWA), batem recordes de geração a cada novo ano. Para se ter uma ideia, em 2019 foram geradas 53,6 milhões de toneladas de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), o equivalente a 46.812 estátuas do Cristo Redentor. Ainda segundo a ISWA, a previsão é de crescimento, indicando que em 2030 serão 74 milhões de toneladas ou 64.600 estátuas da capital carioca. A associação afirma que os resíduos eletrônicos são a categoria de lixo doméstico que mais cresce no mundo e esses números deverão ser ainda maior, impulsionados pelo Covid-19.

De acordo com o Global E-Waste Monitor 2020, o Brasil gera 10.2 kg de lixo eletrônico per capita, elevando a geração desse resíduo em nosso país em 2,1 milhões de toneladas, anualmente.

Tudo isso nos faz chegar à uma conclusão: repensar não é mais uma ideia, é uma necessidade imediata. O modelo de economia como estamos acostumados, o linear, é pautado em extração, produção, uso e descarte. Quanto mais rápido essas etapas acontecerem, a relação demanda crescente versus produção em massa, somadas ao crescimento populacional, mais evidente ficará a dependência do modelo linear que precisará ser cada vez mais eficaz, provocando cada vez mais lixo e consecutivamente um colapso no sistema. Pensar em uma economia circular já deixou de ser um ideal, mas um fator de sobrevivência. Imagine como será o mundo nos próximos 500 anos se nada for feito.

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Não temos mais espaço para delegar o assunto para as organizações ou para o governo. Todos somos parte dessa situação e cada um tem seu papel fundamental na busca por soluções. As pessoas precisam assumir a consciência de que participam de algo maior e suas ações também geram consequências no mundo. As organizações, por sua vez, precisam entender que lucro é relativo quando se olha em termos de longevidade e que o imediatismo na geração de valor está nos levando ao caos. Os governos também precisam de uma visão mais ampla e focada no longo prazo. Não dá para pensar somente até a próxima eleição, pois eles possuem nas mãos os instrumentos que devem ser usados ativamente, como investimento maciço em educação e legislações ambientais que conduzam uma estruturação sustentável e que visam o bem coletivo. Afinal, qual a vantagem de estar navegando em um enorme transatlântico, sob a ótica da riqueza, se ele afundar e todos morrerem? Assim, o destino será o mesmo para todos, seja viajando de primeira classe ou na econômica.

*Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox

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