
O delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira afirmou nesta quinta-feira, 1, que a Operação Descarte, desdobramento da Lava Jato, investiga 'um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro' e que é 'bastante provável' que haja envolvimento de agentes públicos. O consórcio SOMA (Solução em Meio Ambiente), prestador de serviços de limpeza em São Paulo, é um dos alvos. Agentes da PF e auditores da Receita fizeram buscas na sede do grupo, autorizados pela 2.ª Vara Criminal da Justiça Federal.
"A investigação se iniciou para apurar lavagem de dinheiro. Eu diria que é mais que possível, é bastante provável que haja (agentes públicos). Isso vai ser objeto agora de análise depois das buscas", afirmou o chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF em São Paulo.
"Nós estamos investigando aqui um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro. A organização criminosa que é responsável por esse processo de lavagem e suas células empresariais. Cada uma ligada a um grupo econômico. Essas células são compostas de várias empresas de fachada que estão registradas em nomes de sócios laranjas", destacou Victor Hugo.
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O delegado da PF informou que 'o empresário que deseja lavar o dinheiro de sua atividade procura esse grupo'.
"Uma das empresas que usou esse grupo para lavar dinheiro foi o consórcio SOMA, que é um grupo empresarial formado em 2011 para participar de uma licitação aqui em São Paulo, na Prefeitura, na área de limpeza urbana."
Segundo o delegado, 'desde que ganhou a licitação em 2011, o consórcio SOMA já faturou R$ 1,1 bilhão do contrato' com a Prefeitura de São Paulo. O contrato administrativo celebrado em 10 de novembro de 2011.
O consórcio foi originalmente integrado pelas empresas Delta Construções, Cavo Serviços e Saneamento e Corpus Saneamento e Obras. Em 2 de junho de 2012, a Delta deixou o consórcio. A Cavo ficou com 82% de participação e a Corpus com 18%.
O contrato, que está em vigor, foi fechado na gestão de Gilberto Kassab (PSD) à frente do Executivo paulistano. Depois, já na gestão Fernando Haddad (PT), o contrato foi mantido. Kassab e Haddad não são alvo da investigação.
"Os trabalhos estimam que cerca de R$ 200 milhões foram lavados com o esquema", declarou o policial.
A Descarte aponta que o grupo SOMA entrava em contato com empresas de fachada para emitir notas fiscais simulando a venda de mercadorias - detergentes, sacos de lixo - para o consórcio. Após a emissão dos recibos, o Consórcio Soma transferia o dinheiro para as contas das empresas.
"Na sequência, esse dinheiro era novamente transferido para outras empresas de fachada com vistas a simular a origem e o destino dos valores. Finalmente, os valores são transferidos para contas de pessoas ligadas ao esquema ou então remetido para o exterior", afirmou.
Agentes da PF e da Receita foram às ruas logo cedo nesta quinta, cumprir 15 mandados de busca e apreensão em residências e empresas nas cidades de São Paulo (9), Santos/SP (1), Paulínia/SP (1), Belo Horizonte (2) e Lamin/MG (2).
COM A PALAVRA, SIMÃO PEDRO, EX-SECRETÁRIO DE HADDAD
Sobre a notícia de que a Polícia Federal desencadeou a 'Operação Descarte' e que implica nela uma das concessionárias de limpeza que prestam serviços para a Prefeitura de São Paulo temos a dizer o seguinte:
1- A gestão Haddad nunca teve conhecimento de qualquer denúncia e investigação da PF sobre as empresas prestadoras de serviços na área da limpeza urbana;
2- a AMLUrb, Autoridade Municipal de Limpeza Urbana e as SubPrefeituras sempre fiscalizaram com rigor a execução dos contratos que também eram objeto de acompanhamento da Controladoria do Município;
3- o modelo de contrato e a licitação que perpassou a nossa Gestão foram elaborados na gestão Kassab e aprovados pelo Tribunal de Contas do Município;
4- Nossa gestão renegociou por duas vezes os termos do contrato obtendo desconto de 7,25% nos preços e incremento de novos serviços;
5- Lançamos Edital de licitação para esses serviços em 2015, mas optamos em renovar os contratos dentro dos prazos legais diante de negociação que trouxe ganhos efetivos para a cidade.
Simão Pedro Chiovetti Ex-Secretário Municipal de Serviços da Gestão Haddad
COM A PALAVRA, O CONSÓRCIO SOMA
O Consórcio SOMA informa que cumpre todas as exigências legais e que está prestando todas as informações solicitadas pela Polícia Federal.
Assessoria de Imprensa do Consórcio SOMA
COM A PALAVRA, KASSAB
"A contratação dos serviços ocorreu no final 2011 através de licitação, obedeceu a legislação e foi fiscalizada pelo Tribunal de Contas, que aprovou a concorrência e acompanhou sua execução. Qualquer suspeita deve ser devidamente apurada."