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Preso por ação contra fintechs do PCC chefiou segurança de Tarcísio, viajou com ele e ganhou medalha

Oficial trabalhou na Casa Militar e foi um dos presos na Operação Tai-Pan, que mirou lavagem bilionária de recursos de fintechs, entre as quais o 2 Go Bank, denunciada pelo delator do PCC; assessoria do governador disse que ele estava lotado no órgão desde 2012 e que neste período não foi notificada de nenhuma investigação contra ele

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Atualização:

O capitão Diogo Costa Cangerana, da Polícia Militar de São Paulo, foi preso nesta terça-feira, dia 26, pela Polícia Federal durante a Operação Tai-Pan, feita para desarticular um grupo formado por três fintechs que teriam movimentado R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos para “diversas organizações criminosas”. O policial é suspeito de atuar na abertura de contas que seriam usadas para lavar dinheiro do crime por meio de instituições financeiras.

Policiais e agentes da Receita Federal participam da operação Tai PAN, que investigou o sistema financeira montado por fintechs ligado ao crime organizado Foto: Polícia Federal

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Cangerana trabalhou junto ao governador Tarcísio de Freitas até o dia 3 de setembro, quando foi transferido para o 13.º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento da Cracolândia. Ele atuou na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes, onde desde junho de 2022 era chefe “Chefe de Equipe da Divisão de Segurança de Dignitários do Departamento de Segurança Institucional”. O governo afirma que Tarcísio tem mais de uma equipe de seguranças.

A assessoria do governador disse, em nota, que o policial foi integrado à Casa Militar em abril de 2012 e que permaneceu no órgão até setembro. “Neste período, a Casa Militar não foi notificada sobre nenhuma investigação ou apuração em desfavor do policial. A Corregedoria da Polícia Militar, que também apura os fatos, acompanha os desdobramentos da operação deflagrada nesta terça-feira e está à disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações”, afirmou o Palácio dos Bandeirantes.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa do oficial. A Polícia Militar não se manifestou, mas foi informada pela PF da prisão do oficial.

Doze agentes da PF bateram na porta do capitão às 6 horas. Ele é investigado sob a suspeita de ser um dos articuladores do “sistema financeiro do crime”. Ele cuidaria da abertura de contas nas fintechs, como uma espécie de articulador. Os investigadores põem sob suspeita transações mantidas entre pessoas e empresas que somam, entre crédito e débito, R$ 120 bilhões. O líder do grupo, sozinho, teria movimentado, em 2024, R$ 800 milhões – o nome dele não foi revelado.

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Uma das fintechs investigadas é a 2 Go Bank, que foi denunciada pelo empresário Antonio Vinícius Lopes Gritzbach, o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) em seu depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, em 31 de outubro. Gritzbach foi executado a tiros de fuzil no dia 8 de novembro de 2024 na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. A polícia suspeita que o PCC esteja por trás do crime.

O governador Tarcísio de Freitas durante evento da campanha de reeleição de Ricardo Nunes; o capitão Diogo Cangerana está atrás dos dois, no centro; à dir, o vice-prefeito eleito, coronel Mello Araújo Foto: Divulgação Campanha Ricardo Nunes

De uma tradicional família de policiais militares, Cangerana viajou para Portugal em junho acompanhando o governador, que foi apresentar ofertas de ações da Sabesp para investidores europeus durante o processo de privatização da empresa. Em julho, acompanhou o governador na viagem ao Balneário Camboriú (SC), no evento do Conferência Política de Ação Conservadora (CPAC) Brasil, onde Tarcísio se encontrou com o presidente argentino, Javier Milei. e com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em outubro, o chefe da Casa Civil, Arthur Lima, concedeu a Cangerana gratificação mensal a título de representação. Em 11 de janeiro deste ano, o capitão recebeu a medalha Valor Militar em grau prata concedida por Tarcísio. A medalha foi concedida “em reconhecimento aos bons, leais e relevantes serviços prestados” por Cangerana.

O presidente da Argentina, Javier Milei, se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Jorginho Mello (PL-SC) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP Foto: Jair Bolsonaro Via Twitter

Durante as diligências, a PF apreendeu, em um escritório na Avenida Paulista, R$ 311 mil em espécie. Segundo a corporação, as fintechs sob suspeita montaram um “complexo sistema bancário paralelo e ilegal” movimentando bilhões de reais dentro do país e a partir ou para países como EUA, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia, Dubai e especialmente Hong Kong e China, para onde se destinava a maior parte dos recursos de origem ilícita.

Cerca de 200 agentes foram às ruas para cumprir 16 ordens de prisão preventiva e 41 ordens de busca e apreensão. A ofensiva mira supostos crimes contra o sistema financeiro, ocultação de capitais, organização criminosa e evasão de divisas. A Operação foi batizada Tai-Pan em referência a uma obra chamada ‘chefe supremo’.

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O projeto Corinthians, apresentado pela 2 Go Bank à diretoria do Corinthians Foto: Reprodução / Estadão

Além do capitão, entre os presos está o investigador da Polícia Civil, Cyllas Elia. Ele era o presidente e fundador do 2 Go Bank. Ele estava afastado do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) havia dois anos para cuidar de seus negócios. O 2 Go Bank trabalhava com clubes de futebol e torcidas organizadas. Havia feito, recentemente, uma proposta de R$ 100 milhões para gerir o banco do Corinthians, conforme o Estadão revelou.

Delação de Gritzbach e as mortes do PCC

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Segundo Gritzbach, Rafael Maeda Pires, o Japonês do PCC, se dizia dono da fintech que tem Cyllas como sócio. O policial nega. A fintech informou por meio de nota que a instituição de pagamento “está colaborando com as investigações e segue à disposição das autoridades”

Gritzbach era investigado sob a acusação de ter mandado matar o traficante Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, e seu segurança Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, em dezembro de 2021. Ele fechou um acordo de delação premiada com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo.

No inquérito aberto pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para investigar os homicídios de Cara Preta e Sem Sangue, foram ouvidos também Maeda – encontrado morto em 4 de maio de 2023 em uma garagem no Tatuapé – e o empresário de jogadores de futebol Danilo Lima de Oliveira, o Tripa.

O empresário Gritzbbach, o delator do PCC, foi morto no aeroporto de Gaurulhos Foto: Italo Lo Re /Estadao

Gritzbach dizia que todos os suspeitos haviam pagado propina para os policiais a fim de se livrarem das acusações. Ao Estadão, em janeiro, o empresário chegou a dizer que um deles entregou R$ 5 milhões de propinas a policiais civis.

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O inquérito sobre a morte do Japonês levou o DHPP a deflagrar em 16 de agosto deste ano operação em conjunto com a Corregedoria da Polícia Civil contra suspeitos de terem participado do episódio. Foram cumpridos 13 mandados de busca.

A suspeita é de que Maeda tenha sido obrigado a se matar e de que policiais civis tenham obstruído as investigações, sumindo com provas. Antes de ser encontrado morto, ele mandou mensagem para a mulher: “Cuida bem da nenê. Eu te amo”. Na mesma operação, os corregedores apreenderam duas barras de ouro, duas pistolas, um fuzil e documentos, além de telefones celulares.

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