O Ministério Público Federal (MPF) enviou ofício ao Ministério da Saúde cobrando explicações sobre a remoção de um alerta que desmentia a eficácia de sementes de feijão com 'poderes de curar a Covid-19'. A 'boa nova' foi anunciada pelo pastor Valdemiro Santiago de Oliveira, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus e aliado do presidente Jair Bolsonaro, nas redes sociais.
O aviso foi veiculado no site oficial do Ministério da Saúde após um pedido do próprio MPF. "O Ministério da Saúde esclarece que é falso que o plantio de sementes de feijão, comercializados pelo líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro Santiago, leva à cura ou serve para prevenção da covid-19", dizia a publicação.
Nesta segunda-feira (15), quem tenta acessar a publicação se depara com uma mensagem de erro: "pedimos desculpas pelo inconveniente, mas a página que você estava tentando acessar não existe neste endereço". O alerta também foi removido da lista de 'fake news' do Ministério da Saúde a respeito da covid-19.
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão deu dez dias para que a pasta esclareça os motivos para a remoção do alerta e informe se a decisão será mantida. Após a resposta, o Ministério Público avaliará a necessidade de instauração de um inquérito para apurar 'eventuais responsabilidades pela exclusão do conteúdo'.
'Feijões mágicos'. Em vídeos publicados no YouTube, posteriormente excluídos pela plataforma também a pedido do MPF, o pastor Valdemiro incitava seus fiéis a plantarem sementes de feijão vendidas pela própria Igreja Mundial do Poder de Deus por R$ 100, R$ 500 e R$ 1 mil.
No início do mês passado, a Procuradoria Federal acionou o Ministério Público de São Paulo pedindo a abertura de uma investigação por suposto crime de estelionato do pastor. De acordo com o documento, 'o uso de influência religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal' fica claro nas gravações.
Aliado de Bolsonaro, o pastor já participou de uma transmissão ao vivo do presidente no dia 12 de julho do ano passado - no mesmo dia, o líder religioso havia entregue ofício ao Itamaraty pedindo um passaporte diplomático. Quase um mês depois, o governo autorizou a emissão do documento ao pastor e sua mulher, Franciléia de Castro Gomes de Oliveira.
Em maio, quando a Procuradoria Federal encaminhou notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo pedindo investigação do caso, a Igreja Mundial do Poder de Deus afirmou que 'foi amplamente esclarecido em todos os vídeos que toda cura vem de Deus e que a semente é uma figura de linguagem, amplamente mencionada nos textos bíblicos, para materializar o propósito com Deus'. A igreja disse ainda que a oferta pelas sementes é 'espontânea', 'dada de acordo com a condição e manifestação de vontade de cada fiel, não tendo nenhuma correlação com o comércio de qualquer produto e/ou serviço'.
COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA SAÚDE
A reportagem encontrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda resposta. O espaço está aberto a manifestação.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.